Edward Madureira foi eleito nesta quinta-feira (29) como o novo reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Ele já esteve à frente da unidade entre os anos de 2006 e 2013 e deve assumir o cargo em 2018, com mandato até 2022.
Sandramara Matias foi eleita a vice-reitora. Representantes da Chapa 4, ela e Edward receberam 5.762 votos. A segunda colocação ficou com Luiz Mello e José Alexandre, com 2.647 votos, seguidos de Reginaldo Nassar e Neucírio Ricardo com 888 votos. Por fim, Romualdo Pessoa e Leandro Oliveira com 364 votos.
Edward foi reitor da UFG na época da aplicação do Reuni, investimento do Governo Federal superior a R$ 120 milhões. Em entrevista ao Diário de Goiás, ele afirmou que nesse período a instituição quase dobrou de tamanho, no entanto, o cenário atual é de restrição, o que fará necessário um esforço de recuperação.
Leia a entrevista na íntegra:
Como o senhor vê o atual momento na UFG? Servidores tem se manifestado nas redes que a Universidade precisa de um gestor, porquê?
A UFG passou por um processo de expansão muito grande, a partir de uma política pública do governo federal e nós praticamente dobramos os tamanhos da universidade federal entre os anos de 2007 e 2013, que coincidiu com os meus mandatos a frente da UFG. O que eu falo em dobrar é em número de estudantes, professores, cursos, área construída e todos os indicadores da universidade ampliaram bastante. E é claro que isso eleva a necessidade de financiamento da universidade, só que agora está a gente assiste uma restrição imposta pelo governo federal, muito significativa, ou seja, o orçamento da universidade tem sido repetidamente contingenciado, cortado e a PEC 55 tira a possibilidade de aumentos reais de investimento então, estamos em um momento muito difícil no ponto de vista de funcionamento da universidade que chega no final do ano contas públicas atrasadas. Então precisamos urgentemente fazer um grande esforço para conseguir recuperar, então a gestão vai ser fundamental para, tanto a interna de administrar melhor o que temos, mas também a gestão política para recuperar e fazer com que o governo reconheça a importância do ensino federal superior.
Existe como continuar o investimento ou a UFG vai passar por um momento de estagnação?
Esse é o grande desfio. Voltando na pergunta anterior, nesse período além de fazer a expansão que criou oportunidades para inúmeras pessoas, ainda foi acompanhada por uma política de inclusão muito forte. Nós tivemos lá atrás no meu mandato, a criação da inclusão com reservas de vagas para alunos de escola pública, depois veio a lei de cotas que ampliou o que já fazíamos e hoje nós estamos recebendo milhares de estudantes na Universidade que se não tiver uma assistência estudantil condizente com suas necessidade, eles não irão ficar na universidade. Expandir é aumentar vagas, mas além de expandir, trazer as pessoas mais desprovidas do ponto de vista material para dentro da universidade exige apoio para pagar o transporte coletivo, restaurantes, casa para os estudantes e tudo isso precisa de um financiamento adequado. Com relação a sua segunda pergunta, em 2014 foi aprovado o Plano Nacional de Educação. Hoje nós atendemos menos de 17% dos jovens de 18 a 24 anos, essa faixa é a que deveria estar na universidade. A gente atende no País, entre público e privado 17%. Como exemplo, na Coreia esse número é de 80%, o que explica a diferença do Brasil em termos de ciência e tecnologia. O Plano Nacional de Educação, projeta para 2024 que tenhamos pelo menos 33% desses jovens em Instituições de Ensino Superior, sejam públicas e privados. Isso significa, que a gente tem que fazer um esforço para até 2024 dobrar o tamanho de todo o sistema, público e privado, no entanto, isso só será possível com dinheiro. Com o orçamento congelado por 20 anos, a gente não sabe como enfrentar, mas o nosso desejo é continuar expandindo, para o Norte e Nordeste do Estado, criar cursos que ainda não existem, criar ainda mais oportunidade para esses jovens, entretanto, o que se sinaliza é que o Plano Nacional de Educação foi descartado, pois com o regime fiscal é impossível fazer. Como gestão queremos ampliar, mas para isso precisamos de recurso federal.
O UFG está vivendo nos últimos meses uma crise em relação a segurança. A expansão criou uma necessidade maior no investimento da segurança. Está na plataforma da sua administração fazer um investimento para reforçar a segurança nos prédios da universidade?
Uma comissão da universidade designada pelo Conselho Universitário, fez nos últimos meses um profundo diagnostico com propostas concretas de intervenção a fim de melhorar a segurança das pessoa nos campos. Uma comissão composta por professores, funcionários e especialista que fazem um diagnóstico e também apresentam uma conjunto de proposta, desde proposta mais simples como iluminação até medidas para identificar melhor as pessoas que frequentam os campus, através de tecnologias, como câmeras de segurança, entre outros recursos. Além de protocolos com os Órgãos de Segurança, de como tratar as questões relativas a segurança dos campus. Protocolos para determinadas situações específicas para atuar com inteligência. A universidade tem que ser um lugar muito seguro e que as pessoas gostem de estar e que se sintam à vontade para ficar 24 horas. As grandes universidades funcionam assim e a gente está disposto a enfrentar essa questão. Sabemos que não é simples, passamos por orçamentos para fazer isso, no entanto, tem muitas medidas simples que podem ser tomadas e que serão efetiva. É um problema que não é da universidade, é da sociedade, mas a gente está ciente disso e vamos usar a inteligência e a tecnologia a nosso favor.
A UFG tem déficit de servidores?
Tem um déficit grande de servidores. Isso decorre de alguns fatos, principalmente ao fato de que por um grande período, por quase 20 anos, entre 1990 e 2010 as pessoas que se aposentaram ou que pediram exoneração, aqueles que deixaram a universidade não foram repostas na medida em que saíram. Isso gerou um déficit e a partir de 2010 a gente ganhou uma prorrogativa legal de substituir essas pessoas, no entanto, ficou um déficit de quase 500 servidores para dar conta da complexidade que a universidade é hoje.
Existe déficit de professores? Como convencer esses professores a fazer parte da universidade novamente? Como manter um bom nível de professores na universidade federal?
Essa saída de professores é pequena, é uma dinâmica do sistema, não tem nenhum movimento de saída da universidade. A UFG tem um quadro de professores, que se for analisado a demanda de educadores e o quadro de educadores verá que é compatível, ou seja, o número de professores é compatível com o tamanho da universidade. Temos algumas dificuldades internas, em um curso ou outro que tem o número de professores menor do necessário, claro que outros cursos tem o além do necessário. A gente precisa de políticas e mecanismo para a distribuição interna de forma mais adequada, já é feito na universidade. O que precisa ser feito é reconhecer e valorizar as pessoas que estão na UFG, ou seja, aquele professor que é pesquisador de altíssimo nível e que publica nas melhores revistas do mundo, ele tem que ter seu reconhecimento, assim como aquele professor que se dedica a trabalhar na inovação tecnológica e o professor que se dedica a área de extensão, que faz a extensão bem feita e leva o conhecimento da universidade para a sociedade. Precisamos reconhecer e valorizar as pessoas que estão na universidade, nas suas diferenças competências, sendo professores, técnicos admirativos quanto estudantes. Esse política de valorização das pessoas faz com que elas estejam sempre motivadas contendo um grande potencial, o que pode ajudar muita a sociedade e a gente vai fazer com que isso aconteça com mais intensidade.