O tema da redação do Enem deste ano é “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, de acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Logo após o fechamento dos portões, às 13h deste domingo, o instituto divulgou o tema em suas redes sociais.
A prova teve início às 13h30 deste domingo (5) e os estudantes terão terão 5 horas e 30 minutos para escrever a redação e resolver as 90 questões de linguagens, códigos e suas tecnologias e ciências humanas e suas tecnologias.
Apesar de ser um tema específico e geralmente distante dos alunos, o cunho social e inclusivo já era esperado, segundo professores de redação ouvidos pela reportagem.
Para a professora Maria Aparecida Custódio, do colégio Objetivo, já era hora do Enem cobrar esse tema em sua redação. Com o uso pela primeira vez neste ano de um novo recurso de acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva, a Videoprova Traduzida em Língua Brasileira de Sinais (Libras), ela acredita que o Inep pode finalmente cobrar dos alunos esse tema.
Segundo ela, a dificuldade em desenvolver a redação estará ligada aos textos de apoio dados na prova.
“Por ser um assunto que os alunos dominam pouco, espera-se que a coletânea de textos de apoio ajude o candidato a construir uma reflexão sobre o tema”, diz Sérgio Paganin, professor e supervisor de português do curso Anglo de São Paulo.
De acordo com Paganin, um aluno com boa capacidade de leitura e com uma visão diversificada do tema deve sair na frente. “Ele terá pouco tempo para manipular as informações desses textos e fazer uma boa redação”, diz.
Para Saray Azenha, diretora pedagógica e professora de português do curso Oficina do Estudante, de Campinas, o prejuízo se dará, principalmente, por falta de dados estatísticos sobre o assunto.
“Precisamos falar sobre libras nas escolas e formação de professores para pessoas com deficiência; os alunos já deveriam ter contato com essa discussão”, afirma.
Neste ano, a prova está sendo feita sob clima de desconfiança com a redação, que teve mudanças de última hora nas regras de correção.
Por determinação judicial, redações que contiverem trechos com desrespeito aos direitos humanos agora não podem mais receber mais nota zero.
A decisão é da ministra Cármen Lúcia, que entendeu que proibir o desrespeito aos direitos humanos, como prevê o edital da prova, implicaria limitar a liberdade de expressão. “Não se combate a intolerância social com maior intolerância estatal”, escreveu, na decisão.
No final de outubro, a Justiça Federal determinou a suspensão da regra do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que dá nota zero, sem direito à correção de seu conteúdo, para a prova de redação que seja considerada desrespeitosa aos direitos humanos. A decisão foi tomada em caráter de urgência a pedido da Associação Escola Sem Partido, tendo em vista a proximidade da realização das provas.
Em julgamento, a 5ª turma do TRF-1 (Tribunal Federal da 1ª Região) acolheu o pedido da Associação Escola Sem Partido por 2 votos a 1.
Na ação, a Associação Escola Sem Partido sustenta que “nenhum dos candidatos deveria ser punido ou beneficiado por possuir ou expressar sua opinião” e que não existe um referencial objetivo sobre os parâmetros adotados, “impondo-se aos candidatos, em verdade, respeito ao ‘politicamente correto'”.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu na sexta-feira (3), que o STF suspendesse a decisão liminar do TRF-1.
Dodge argumentou que a medida do TRF1 viola a segurança jurídica e que sua suspensão evitaria “grave lesão à ordem pública” e “o desnecessário tumulto na preparação dos candidatos”.
O pedido foi protocolado no mesmo dia que o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC (Ministério da Educação), apresentou um recurso com o mesmo objetivo ao STF, em caráter de urgência, já que a prova de redação do exame será aplicada a mais de 6 milhões de candidatos neste domingo.
Mesmo que a decisão da ministra Cármen Lúcia garanta que nenhuma redação seja zerada por esse critério, sob risco de contaminar a liberdade de expressão, os candidatos pretendem não se arriscar.
É o que diz o estudante Igor Bueno, 16, que tenta uma vaga para cursar direito. “Muita gente começou a criar e espalhar boatos sobre a redação, que iria mudar de novo. Mas para mim não muda nada, porque eu não pretendo escrever contra os direitos humanos”, afirma.
O mesmo pensa Rafaela Fiengo, 17, que sonha em estudar biologia. “Não muda nada, até porque eu acredito em respeito aos direitos humanos”, diz ela, que chegou às 11h ao local de prova, na Uninove da Barra Funda, zona oeste de SP, para não correr o risco de se atrasar “e virar meme na internet”. “Se eu chegar atrasada eu nem chego perto do portão, dou meia volta”, afirma, enquanto ri “por fora”, em suas palavras, “mas por dentro chora, porque a prova é difícil, desesperadora”.