Vice-presidente do PL em Goiânia, o deputado estadual Delegado Eduardo Prado, fez nesta segunda-feira (29) críticas contundentes ao anúncio do ex-deputado Fred Rodrigues como pré-candidato do partido à Prefeitura da capital, questionando a “falta de critérios e de diálogo”, comparando com o cenário político da Venezuela. Rodrigues substituiu o deputado federal Gustavo Gayer. Prado está consultando o Diretório Nacional do partido. Ele afirma que especulações sobre uma negociação envolvendo apoio da legenda ao grupo de Sandro Mabel (UB), revelam uma situação inaceitável.
Muito ressentido pela escolha não ter levado em consideração os três deputados do PL, Eduardo Prado disse que vai participar como pré-candidato na convenção no sábado (3), na sede do partido. O único senão, diz ele, é se a resposta da direção nacional indicar possibilidade de intervenção no processo.
“Pedi uma audiência com o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto. Já liguei na Nacional para fazer uma reunião com o Diretório Nacional antes da convenção”, informou em entrevista ao editor-chefe do Diário de Goiás, o jornalista Altair Tavares, nesta segunda. Durante a entrevista, o parlamentar afirmou várias vezes que faltou transparência na escolha de Fred Rodrigues e destacou que sequer foi procurado por ele desde o anúncio, ocorrido em 19 de junho.
O deputado explica o motivo da insatisfação. “Já tínhamos fechado o apoio com o deputado federal Gustavo Gayer. Um apoio maciço, com toda a estrutura do PL. Ele é o deputado federal mais bem votado em Goiânia, enquanto eu tive votação de quase de 15 mil. Assim sou o segundo ou terceiro deputado mais votado, para se fazer um paralelo. São mais votos que o líder Bruno Peixoto na Capital”, aponta.
Depois, Prado segue explicando os bastidores da negociação. “Ficou acordado com major Vitor Hugo, recebi essa informação direto dele, que caso o Gayer não fosse [candidato], haveria o compromisso de que o major seria o escolhido por causa da capilaridade dele, de ter sido líder do Bolsonaro. Então tive reunião com Gustavo Gayer, e caso ele [Vitor Hugo] não fosse, meu nome estaria na disputa. Se colocou até que poderia haver uma pesquisa para ver quem seria o candidato”, prosseguiu.
Segundo o deputado, “nesse contexto todo, Gayer deixa de ser o candidato e essa informação não passa nem por discussão para que a gente tenha o poder de decidir. A imprensa tomou conhecimento a noite, um dia antes do Bolsonaro vir a Goiânia e os deputados estaduais não sabiam de nada. Liguei para o senador Wilder Moraes e nem ele sabia, ouvi da boca dele e acredito que ele não é mentiroso. Falou por telefone às 7h da manhã que não sabia”, continua Eduardo Prado.
Revoltado com a forma como processo de escolha e o caminho da convenção ocorreram, o deputado faz duras comparações para os liberais. “Como um partido que preza a liberdade, preza a liberdade de expressão, combate sistemas não-democráticos como da Venezuela, [mas] dentro do partido não tem diálogo? Como líder do PL vejo que o compromisso de dialogar não foi feito. Então, a gente não sabe qual o critério para a escolha do Fred, com todo respeito que tenho a ele, um grande jovem, que começou o primeiro mandato, perdeu o mandato, a meu ver, de forma injusta. A gente vê tudo isso, mas política não se faz dessa forma”, sublinha.
Sobre ir à convenção disputar com Fred Rodrigues, ele confirma a disposição e diz que sua assessoria jurídica trabalha neste sentido. “Estou esperando o edital para ver como funciona o estatuto e o regimento, até para colocar meu nome como pré-candidato dentro da convenção, já que não houve diálogo e não sei qual o critério utilizado para escolher o Fred, que nem eleito pelo PL foi, veio de outro partido. Não teve nenhum diálogo com os deputados, a gente não participou de nada, nem o coordenador político do PL, o Baiano, sabia de nada, e dizem que até o Bolsonaro tomou conhecimento do fato no dia”, reforçou.
“Só mudo essa ideia [de disputar a convenção] caso ocorra uma intervenção nacional como houve com o Datena em São Paulo”, acrescentou Eduardo Prado.
Perguntado se Gustavo Gayer criou critério para trocar seu próprio nome pelo de Fred ele respondeu citando que sequer pode usar o carro de som no dia em Bolsonaro esteve em Goiânia e houve o anúncio de Fred.
“A gente nem sabe qual foi o critério para escolher o Fred, com todo o respeito, é um grande amigo, tenho carinho especial, mas dentro do partido tem que ter diálogo, como o líder do partido, três deputados e o Senador Wilder não tomam conhecimento do critério utilizado? Sou líder do PL, tenho dois mandatos, fui vereador de Goiânia eleito duas vezes como o melhor da cidade, tenho história na construção da capital com minha família. Aí não passa por nós e ainda somos barrados no carro de som? É um partido que condena tirania, o sistema na Venezuela, preza pelo diálogo e a Democracia, aí escolhe de forma unilateral, como se fosse uma ditadura partidária? Não aceito esse tipo de situação”, reage.
O deputado prossegue falando sobre a participação de Gayer para o desfecho da escolha de Fred Rodrigues. “O deputado Gayer tem uma projeção nacional e internacional que a gente respeita, inclusive para mim é um dos melhores deputados federais que temos, mas a gente tem que ter respeito e diálogo dentro do partido. É assim que se faz política. Não tem como ter uma decisão unilateral. Até se fosse para apoiar o Fred, a gente precisaria de saber o critério, pedir o apoio dos deputados. Não é assim que se faz política”, repetiu.
Perguntado pelo jornalista se o ex-deputado Fred Rodrigues lhe procurou depois do anúncio de junho como chegou a sair em alguns meios de comunicação, o deputado negou. “Até hoje não fui procurado, não sabia de nada. Até hoje ele não procurou o apoio dos deputados, não nos procurou”.
“O que mais me preocupa é o fortalecimento da esquerda. Apesar que nosso projeto não é inviabilizar o projeto da esquerda, mas isso enfraquece a direita aqui. Se a gente quer e precisa combater a esquerda, a gente precisa fazer a construção de forma conjunta, não pode ser unilateral, tem que agregar”, complementa Eduardo Prado.
O líder do PL disse que tem ouvido de parlamentares da base do governo de Ronaldo Caiado, de quem é opositor, que haveria negociação com o presidente nacional do partido para o PL fortalecer a campanha de Sandro Mabel em Goiânia pela base do governador.
“Temos ouvido que a vice poderia estar nessa conversa, há informações de deputados da base de que colocaram Fred porque a decisão que deixou ele inelegível ser discutível judicialmente, não é cristalina, havendo grande possibilidade de ser questionado judicialmente, o que acho infundado. Mas não sabemos o que está acontecendo. Não fomos informados de nada. Os deputados foram pegos de surpresa no projeto de escolha de Goiânia”, repetiu.
Por fim, o deputado disse que espera manifestação do Diretório Estadual a respeito do impasse em Goiânia. “Espero que senador Wilder reúna conosco, até para desmentir essas informações que vêm às vezes do Palácio. Vou manter minha pré-candidatura até analisar situações. Meu jurídico está analisando e só retiro minha pré-candidatura caso veja que possa ter uma intervenção federal. Se houver essa possibilidade, de intervenção, aí vou analisar, porque sou minoria nessa situação do diretório porque ele foi todo feito pelo deputado Gayer, é uma situação complexa para mim, mas acaba enfraquecendo o partido”, concluiu.