O prefeito João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira (18) que pretende colocar até o final de outubro a farinata na merenda escolar. A farinata é uma farinha feita com alimentos perto da data de validade que seriam descartados por produtores ou revendedores. Idealizada pela organização Plataforma Sinergia (sem fins lucrativos), é usada também para ser adicionada a bolos e pães ou como um ingrediente para “reforçar” sopas.
A farinata é a base do granulado alimentar que virou polêmica nos últimos dias, quando Doria divulgou que distribuiria o composto para famílias de baixa renda.
No entanto, durante entrevista coletiva convocada para mostrar o apoio da Igreja Católica ao projeto, a secretária municipal de Direitos Humanos, Eloisa Arruda, disse que ainda precisam ser feitos estudos sobre a demanda nutricional dos alunos da rede municipal, o que coloca em dúvida a viabilidade de se incluir a farinata na merenda em menos de duas semanas.
“Teremos um diagnóstico das carências nutricionais da população. Isso será feito de forma paulatina, quem vai fazer isso é o Observatório de Políticas para o Desenvolvimento Social, que está alocado na secretaria de Desenvolvimento Social. Quando o prefeito fala das creches, é possível que alimentos que hoje são fornecidos nas creches, como bolacha ou macarrão, sejam substituídos pela farinata já disponível. Ao lado dessa introdução na merenda nós desenvolveremos um estudo sobre as carências nutricionais da população em São Paulo”, disse Arruda, ressaltando que alimentos “in natura” não serão substituídos por derivados da farinata.
“Estamos em contato com o secretário de Educação para saber quais são os cardápios das creches e como pode ser feito”, completou.
Além disso, Rosana Perrotti, proprietária da Sinergia, teve dificuldade em explicar como será o processo de produção do composto em São Paulo.
“O processo de descarte custa US$ 750 bilhões para a economia global. Cada mercado sabe seu custo. Nós vamos reduzir esses custos ao operacionalizar a farinata. A prefeitura não vai colocar nenhum recurso, vai simplesmente reduzir seus custos”, disse.
“Se tem um custo para incinerar, a empresa vai poder gastar menos para beneficiar”, continuou.
“Uma indústria que está no Norte, ao vender o produto no Sul, se o produto chega próximo ao vencimento e precisa ser retirado do supermercado, ela tem que viajar do Sul de volta para o Norte e decidir o que vai ser feito: incineradora ou aterro. Vamos colocar tecnologias em cima de carretas, como já fizemos, para poder processar dentro da indústria, do armazém, ou fundo de supermercado. E isso vai ser bancado pela própria empresa, que vai diminuir os custos com logística”, completou.
Segundo Perrotti, uma possibilidade será a instalação pela Sinergia de uma mini-usina de beneficiamento dos alimentos próximos do vencimento nessas empresas. Outro modelo, segundo ela, seria o de licenciamento.
“Vocês sabem quantas indústrias da Coca-Cola existem no Brasil? Nenhuma. Porque ela licencia, com a patente que ela tem, para que o produto Coca-Cola seja produzido onde tiver a melhor eficiência. É o que vamos fazer.”
Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que a gestão não tem nem sequer estatísticas de quantas pessoas na cidade de São Paulo vivem em situação de insegurança alimentar -termo usado para descrever grupos carentes de alimentos necessários à boa nutrição e que seriam beneficiados pela farinata. Dados do IBGE de 2013 apontam 1,5 milhão de pessoas nessa situação, em nível grave, em todo o Estado, e 7,2 milhões no país.