Tido pelo corretor financeiro Lúcio Bolonha Funaro como o último grande doleiro a operar no Brasil, Claudio Fernando Barboza de Souza, o Tony, tenta evitar a extradição e quer ser julgado no Uruguai, onde está preso desde março deste ano.
Para isso, afirma que, no Brasil, é perseguido por delatores que querem apenas “salvar a própria pele” e não têm intenção de colaborar com a Justiça.
Ele e seu ex-sócio, Vinicius Claret, o Juca, moravam no país vizinho quando foram presos por autoridades uruguaias. Tinham pedido de prisão autorizado pelo juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Lava Jato no Rio.
A Procuradoria-Geral da República solicitou a extradição dos dois, posição também endossada pela Fiscalía (Ministério Público) do Uruguai, segundo Carlos Negro, o membro da instituição uruguaia que acompanha o caso. A decisão cabe à Justiça do Uruguai e ainda não foi tomada.
Os dois tentam responder ao processo em liberdade, disse à reportagem o advogado uruguaio de Tony, Pablo Correa.
À Justiça local, Correa apresentou argumentos recheados de críticas à condução de delações premiadas no Brasil para tentar manter Tony no país.
“No Brasil, quanto mais alguém delata, quanto mais importante é sua graduação dentro do mundo delitivo da corrupção e quanto mais paga, mais benefícios recebe da Procuradoria”, escreveu.
“Ninguém se preocupa em averiguar se [o delator] mentiu ou não”, disse. “Se encobrem peixes mais gordos na trama de corrupção” para “realizar os resultados supostamente perseguidos na causa”, acrescentou.
Tony e Juca foram delatados pelos doleiros Renato e Marcelo Chebar, antes de aparecerem novamente na delação de Funaro. Em março, Bretas transformou os dois em réus sob a acusação de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Segundo o Ministério Público Federal, o esquema de que participaram envolveu desvios de mais de US$ 100 milhões em propinas depositadas no exterior.
No mesmo processo, o ex-governador Sérgio Cabral também se tornou réu. No entanto, como os doleiros estão fora do país, Bretas decidiu dividir o processo no último dia 2 de outubro -assim, a tramitação da causa contra os réus que não estão no exterior pode continuar.
Segundo Correa, Tony não tem relação com políticos corruptos ou desvios de dinheiro público. Ainda assim, “se for comprovado que participou da lavagem de ativos, [o crime] ocorreu no Uruguai e aqui [no Uruguai] devia ser julgado”.
PUNTA DEL ESTE
Funaro disse, em depoimento de agosto no acordo de delação premiada com a PGR, que a última vez que viu Tony foi na Páscoa do ano passado, quando jantou com ele no balneário de Punta del Este.
Segundo ele, o doleiro disse à época que tinha desfeito a sociedade com Juca. “Ele me perguntou como eu achava que ia ficar a situação do país com a Lava Jato, o que ia acontecer, o que não ia acontecer. Ele estava meio preocupado com esse negócio”, afirmou Funaro aos procuradores.
“Ele me contou que operava para a Odebrecht, mas eu já sabia que a Odebrecht era cliente dele.” Funaro está preso desde julho de 2016. O corretor disse que Tony viabilizava dinheiro vivo a ele -que era repassado a políticos- por meio de um esquema que envolvia o pagamento de boletos de supermercados.
A Odebrecht diz que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua, reconheceu seus erros e “está comprometida em não tolerar com a corrupção em quaisquer de suas formas”.
A defesa de Vinicius Clarettambém foi procurada, mas não se manifestou. A defesa dos dois acusados no Brasil também não retornou à solicitação de entrevista.
A Justiça do Uruguai não se manifestou.
A Procuradoria-Geral da República afirmou em nota que “a extradição caminha da forma mais célere possível, respeitado o devido processo legal uruguaio” e não comentou as falas de Correa.
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