O real teve uma das maiores valorizações entre as principais moedas nesta segunda-feira (5), com a menor percepção de risco no cenário doméstico.
A moeda americana caiu mais de 1%, para a casa dos R$ 3,43. Os juros futuros de longo prazo e o CDS (credit default swap), indicadores de percepção de risco, também recuaram. O Ibovespa, porém, terminou a sessão em baixa, apesar da alta das Bolsas em Nova York e na Europa.
Segundo analistas, houve um certo alívio após os protestos deste domingo em várias cidades do país. “As manifestações contra a corrupção tiveram como alvo o Legislativo e pouparam o presidente Michel Temer”, avalia Ignacio Crespo, economista da Guide Investimentos.
Segundo o economista, a blindagem da equipe econômica por Temer, em um momento em que a atuação do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, começa a ser questionada pelo mercado, colaborou para a menor aversão ao risco.
O dólar comercial fechou em baixa de 1,23%, a R$ 3,4300; a moeda americana à vista, cuja sessão termina mais cedo, caiu 1,17%, a R$ 3,4362.
De acordo com Ricardo Gomes da Silva, superintende de câmbio da Correparti Corretora, o dólar caiu principalmente pelo fluxo trazido por exportadores. “Mas as manifestações deste domingo contribuíram para reduzir a pressão sobre o governo.”
Outro fator para a valorização do real foi a atuação do Banco Central no câmbio. A autoridade monetária rolou 15 mil contratos de swap cambial tradicional que vencem em janeiro, no montante de US$ 750 milhões. A operação equivale à venda futura de dólares.
Além disso, o governo deve enviar ao Congresso nesta terça-feira (6) a proposta de reforma da Previdência, uma das principais medidas do ajuste fiscal.
No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 fechou praticamente estável, passando de 13,630% para 13,631%; o DI para janeiro de 2018 caiu de 12,240% para 12,030%; e o DI para janeiro de 2021 cedeu de 12,340% para 12,020%.
O mercado também repercutiu a piora nas expectativas para a atividade econômica no ano que vem após a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre.
Os especialistas consultados pelo BC no Boletim Focus passaram a ver uma expansão de apenas 0,8% em 2017, ante 0,98% na pesquisa da semana anterior.
Com a piora nas projeções para o PIB, aumentam as expectativas de um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) em janeiro. Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC reduziu a Selic em 0,25 p.p., para 13,75% ao ano.
O CDS (credit default swap) de cinco anos brasileiro, espécie de seguro contra calote, caía cerca de 2%, aos 309 pontos.
O Ibovespa encerrou o pregão em queda de 0,80%, aos 59.831,73 pontos. O giro financeiro foi baixo, de R$ 6,2 bilhões, refletindo a cautela dos investidores com os cenários político e econômico.
Para analistas, o mercado dá sinais de cansaço com a demora na retomada da economia. “O investidor não vê a economia andar e, sem uma perspectiva positiva, desmonta posições e vende ações”, afirma Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor.
Santos aponta ainda os temores de que a delação premiada de executivos da Odebrecht atinja diretamente o governo Temer.
As ações da Petrobras caíram 1,07% (PN) e 3,37% (ON). Os papéis da Vale ganharam 0,79% (PNA) e 0,37% (ON).
No setor financeiro, Itaú Unibanco PN perdeu 0,35%; Bradesco PN, -0,52%; Bradesco ON, +0,07%; Banco do Brasil ON, -1,91%; Santander unit, -1,09%; e BM&FBovespa ON, -2,25%.
Braskem PNA liderou o ranking de maiores altas do Ibovespa, com +5,28%. Segundo operadores, as ações sobem com a assinatura do acordo de leniência da Odebrecht, sua controladora, visto como benéfico à petroquímica.
Folhapress