A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, voltou atrás e não vai mais pedir a federalização da investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista da parlamentar, Anderson Pedro Gomes, 39. Eles foram mortos a tiros na noite de quarta-feira (14) no centro do Rio de Janeiro.
Na prática, Dodge avaliava pedir ao STJ (Supremo Tribunal de Justiça) que a Polícia Federal assumisse as investigações no lugar da Polícia Civil do Rio. Ela alegou nesta quinta-feira (15) que a participação da PF era importante, “porque o crime no Rio é relativo a todas as áreas”, disse.
No entanto, durante encontro de trabalho que reuniu nesta sexta (16) as forças-tarefas da operação Lava Jato em Porto Alegre, Dodge disse em entrevista à imprensa que não mais vai solicitar o pedido.
Sem se aprofundar no que a teria feito mudar de ideia, a procuradora disse apenas que o crime é “uma ameaça à democracia” e que vai continuar acompanhando de perto as investigações do caso.
Dodge também ressaltou o papel de Marielle como uma forte líder política e defensora de direitos fundamentais.
A possibilidade de federalizar as investigações foi criticada pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jugmann, que ressaltou o papel da Polícia Civil no comando do caso.
Para Rivaldo Barbosa, chefe da Polícia Civil do Rio, a corporação tem estrutura para esclarecer o crime que comoveu o país. “Temos nossos protocolos estabelecidos. Quem quiser nos ajudar, recebermos ajuda de qualquer instituição, mas a Polícia Civil do Rio tem capacidade para resolver esse caso”, declarou.
O assassinato da vereadora Marielle Franco, 38, ocorreu dois dias antes de a intervenção federal na segurança pública do estado completar um mês. A medida, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.
Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe dos forças de segurança do Estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.
O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o Estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado. Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.
A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinados no estado.Policiais, porém, também estão matando mais.
Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016).
Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia. Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu -estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.
Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros Estados com patamares ainda piores. No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo. (Folhapress)
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