O chanceler brasileiro, Aloysio Nunes, disse que a análise presente no documento da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência divulgado nesta quinta (1º), que critica a política externa atual, é uma “bobagem”. Para o ministro, o texto não representa a visão do governo.
Na introdução do documento, cujo conteúdo foi antecipado pela Folha de S.Paulo, o secretário-geral da Presidência, Moreira Franco, diz que os “conceitos teóricos e políticos dos relatórios são de inteira responsabilidade de seus autores”. No entanto, os autores fazem parte do governo: o secretário Especial de Assuntos Estratégicos, Hussein Kalout, e seu adjunto, Marcos Degaut.
“Esse, evidentemente, é um assunto que foi tratado por pessoas que escreveram sob sua própria responsabilidade. A própria apresentação do texto, que foi feita pelo ministro Moreira Franco, diz que isso não corresponde a uma posição do governo brasileiro, corresponde a uma posição e apreciação dos autores dos diferentes textos”, declarou.
Para Aloysio, está “errada” a avaliação de que a diplomacia no governo Temer concentra esforços em “consolidar a legitimidade da nova administração e tranquilizar investidores”.
O documento diz ainda que a agenda é “pontual e conjuntural, que ainda não integra um projeto coerente”. Questionado sobre isso, o chanceler disse ser “uma bobagem”.
“A política externa brasileira tem um objetivo permanente, que não está preso a essa conjuntura”, disse. “Houve uma mudança grande no governo Temer que nós estamos implementando. Uma das principais mudanças vocês assistiram aqui na OEA -a importância de nós ajudarmos a democracia na América Latina, a mudança em relação aos direitos humanos.”
O documento “Brasil, um país em busca de uma grande estratégia”, da SAE, também critica a política externa dos governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
“O Brasil não foi bem-sucedido em nenhum dos quatro eixos principais de sua política exterior -a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a integração sul-americana, a política comercial extrarregional e a atuação no âmbito dos Brics”, diz o texto.
Questionado sobre uma carta assinada por 119 diplomatas e funcionários de seu ministério que repudia “o uso da força para reprimir ou inibir manifestações”, Aloysio afirmou que “não faz e nunca fará caça às bruxas” no Itamaraty e que eles têm direito à manifestação.
“Eu acho que a manifestação de funcionários públicos é uma manifestação livre. Esses são cidadãos brasileiros, dizem o que pensam. Eu não faço caça às bruxas no Itamaraty e nunca farei”, respondeu.
Os funcionários se dizem preocupados com os impactos da crise social, política e institucional “sobre o futuro do país” e pedem a “reafirmação dos princípios democráticos e republicanos”. (Folhapress)