Pesquisa da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e do portal “Gênero e Número” com cerca de 500 jornalistas brasileiras mostra que 86% das entrevistadas dizem já ter passado por pelo menos uma situação de discriminação de gênero no trabalho.
Os resultados da pesquisa “Mulheres no Jornalismo Brasileiro”, feita com jornalistas de 271 veículos do país, apontam para a presença de atitudes sexistas em relações às jornalistas dentro e fora das redações.
Entre as entrevistadas, 70% dizem já ter presenciado ou tomado conhecimento de assédio a colegas mulheres no ambiente de trabalho.
Quase 60% afirmaram também ter sentido alguma vez que ser mulher lhes prejudicou na distribuição de tarefas, enquanto 39% viram barreiras para a obtenção de uma promoção.
A pesquisa afirma que “o mercado jornalístico mudou significativamente nas últimas décadas e a proporção de homens e mulheres nas redações se tornou mais equilibrada”. Ainda assim, há desigualdades: 65% das entrevistadas disseram haver mais homens em cargos de poder (editores, coordenadores, diretores) em seus veículos do que mulheres.
Para Maiá Menezes, diretora da Abraji, o dado mais preocupante é o que diz respeito ao assédio das fontes no exercício do trabalho, “e o quanto isso pode dificultar a apuração de uma reportagem e constranger ou mesmo condicionar o acesso à informação”, disse à “Gênero e Número”.
Cerca 70% das entrevistadas afirmam terem se sentido desconfortáveis com comentários sobre sua aparência recebidos durante o exercício da profissão -46,3% relataram “cantadas” vindas de colegas homens, 36,9%, de fontes masculinas e 27,9% ouviram de um superior hierárquico.
Apenas 15%, no entanto, denunciaram à empresa situação de assédio ou machismo no ambiente de trabalho. Das entrevistadas, 30% disseram que seus veículos possuíam canais para receber e responder às denúncias.
“Acho que há alguns canais, e há a possibilidade de diálogo com compliances [controle de conduta] de empresas. A própria Abraji poderia abrir canais por meio dos quais seja possível receber denúncias de que o assédio estaria obstruindo o acesso à informação jornalística”, sugere Menezes.
O estudo recomenda que os veículos produzam cartilhas para funcionários e colaboradores definindo o assédio cometido por uma fonte e indicando os procedimentos a serem adotados pelas repórteres quando forem vítimas desses atos.
Recomenda ainda que as redações criem um canal de comunicação interno para que vítimas de abuso e assédio possam fazer denúncia formal. (Folhapress)