Secretaria de Segurança de Goiás registrou ao menos 32 atentados a caixas eletrônicos nos dois primeiros meses do ano. Do total, 22 aconteceram no interior do estado, incluindo cinco em cidades vizinhas do Distrito Federal.
Autor(es): Renato Alves |
Correio Braziliense – 18/03/2013 |
O crime organizado se estabeleceu em Goiás e tenta se infiltrar cada vez mais no Distrito Federal. Uma das provas desse fenômeno é a onda de caixas eletrônicos explodidos em municípios do estado vizinho da capital da República. Nos dois primeiros meses do ano, as forças de segurança goianas registraram ao menos 32 atentados a esse tipo de equipamento, sendo 22 no interior do estado, incluindo cinco em cidades do Entorno. No ano passado, policiais civis brasilienses apreenderam explosivos com bandidos residentes no DF em cinco operações, e ainda descobriram e desmontaram uma quadrilha de assaltantes de máquinas de saques automáticos em Brasília e nas cidades limítrofes.
O mais recente caso do Entorno ocorreu em Luziânia, a 60km do DF, na madrugada do dia 4 último. Pelo menos seis homens explodiram dois caixas eletrônicos de uma fábrica, no Jardim Ingá. Os suspeitos usaram uma dinamite e fizeram reféns um gerente e três seguranças. Na mesma região, um grupo atacou na madrugada de 22 de janeiro. Armados com fuzis, oito homens renderam os vigias de um posto de combustíveis e detonaram o equipamento do BRB instalado na loja de conveniência, em Santo Antônio do Descoberto, a 47km de Brasília. Esse crime está entre os cinco registrados somente em 24 horas, entre uma segunda e terça-feira de janeiro, em quatro cidades do interior e na capital de Goiás.
Ainda no Entorno, em Corumbá, a 122km do DF e no caminho para Pirenópolis, principal destino turístico dos brasilienses nos fins de semana, uma agência bancária foi alvo de explosão pela segunda vez em menos de três meses. A mais recente, em 15 de janeiro. Um homem fortemente armado ficou do lado de fora do banco, enquanto outros quatro agiam no interior. Por causa do impacto da explosão, janelas ficaram quebradas e os estilhaços tomaram conta da calçada. Havia três terminais eletrônicos na agência. Uma delas ficou completamente destruída. Os criminosos ainda tentaram explodir outro equipamento ao lado, mas não conseguiram. O grupo fugiu impunemente na direção de Cocalzinho.
Em todo o ano passado, a Polícia Civil de Goiás anotou 116 ocorrências desse tipo de crime, sendo ao menos 16 no Entorno. No total, bandidos explodiram 81 caixas em 2012, arrombaram 15 e atacaram 20 com uso de maçaricos. “Tem profissionais agindo no estado, mas também há muitos amadores, pois em muito locais são encontrados explosivos não detonados ou há o uso excessivo dos mesmos, que deixam vítimas e autores no prejuízo”, afirma o delegado Josuemar Vaz de Oliveira, titular da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Goiás. No caso de Santo Antônio, os assaltantes deixaram duas dinamites para trás, mas não demonstraram inexperiência.
Investigações
Em operações distintas, os investigadores Deic desmontaram 10 quadrilhas especializadas em roubo a caixa eletrônico, prendendo mais de 50 bandidos, somente no ano passado. Entre os acusados, havia gente proveniente de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Santa Catarina, São Paulo e Bahia. No momento, há ao menos três grupos diferentes atuando no estado, segundo o chefe da Deic. “Com certeza, é mais de uma quadrilha, porque os casos estão ocorrendo em cidades muito distantes, em intervalos muito pequenos e de maneiras diferentes. Em Santo Antônio, por exemplo, eles usaram armas pesadas e foram bastante agressivos”, comenta Josuemar de Oliveira.
Diretor-geral da Polícia Civil do DF, o delegado Jorge Xavier não esconde a preocupação com a onda de ataques a terminais eletrônicos no Entorno. “É um fenômeno nacional, do qual não estamos livres. Para evitar que esses bandidos se estabeleçam no DF, estamos sendo pró-ativos. Para isso, a troca de informação entre as polícias é fundamental”, garante. Trocando informações, agentes da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos do DF prenderam, em 5 de agosto de 2012, cinco homens em Hidrolândia, a 235km de Brasília. Eles integravam uma quadrilha especializada em arrombamento e furto de caixas, em ação há dois anos. Dos cinco acusados, um era de Goiânia e o restante, de Joinville (SC).
Poucos dias antes das prisões, o grupo arrombou os caixas eletrônicos e furtou o dinheiro de oito agências bancárias em Goiânia e região e de outras oito em Brasília e no Entorno. Eles sempre atuavam usando maçaricos. Em outra operação, desencadeada em 21 de junho do ano passado, policiais civis candangos prenderam sete homens e apreenderam três adolescentes, além de drogas, armas, munição e quatro dinamites, em Ceilândia. O explosivo estava na casa de dois dos adolescentes e era do mesmo modelo flagrado um dia antes, na residência de um homem de 22 anos, também em Ceilândia, onde os investigadores se depararam com duas bananas de dinamite, mais de 500 pedras de crack e R$ 6,4 mil.
Investigadores brasilienses apreenderam dinamites com criminosos em outras três ações. Mas, em nenhuma das cinco totais, os bandidos disseram a quem pertenciam os explosivos nem o destino deles. Mas os agentes não têm dúvidas que seriam usados em detonações de caixas. “Ainda estamos investigando a origem dos explosivos e os donos deles. Geralmente, as dinamites são desviadas de mineradoras. Nesse mundo (o do crime), é comum um criminoso guardar arma e equipamento para outro. Os bandos também se misturam”, explica Jorge Xavier.
Prefeituras são alvos
Os criminosos não atacam apenas equipamentos instalados em agências bancárias e lojas de conveniência. No ano passado, eles também explodiram caixas em prefeituras goianas. Em 9 de fevereiro, ladrões invadiram o caixa eletrônico de um posto de atendimento do Bradesco no prédio da prefeitura de Bonfinópolis, a 210km de Brasília. Quatro homens usaram explosivos para arrombar o aparelho e levar o dinheiro. Em 11 de setembro, assaltantes usaram uma dinamite caseira, mas não conseguiram explodir o cofre do caixa da prefeitura de Luziânia. Mas parte da agência ficou destruída.
No mesmo mês, bandidos invadiram a prefeitura de Águas Lindas, a 37km do Plano Piloto. Eles abriram o caixa com maçarico e levaram o dinheiro que seria usado no pagamento dos servidores municipais. Os assaltantes também reviraram o gabinete do prefeito. Distante 220km da capital federal, Caldazinha também viu a sede do poder local ser atacada, em outubro. Os bandidos ainda fizeram um comerciante refém. Em 15 de dezembro, assaltantes invadiram a prefeitura de Alto Horizonte, a 280km de Brasília, e roubaram uma grande quantia em dinheiro. Na saída, o grupo achou que o carro de uma mineradora pertencesse à PM e metralhou. Um motorista que passava pelo local ficou ferido.
“Geralmente, as dinamites são desviadas de mineradoras. Nesse mundo (o do crime), é comum um criminoso guardar arma e equipamento para outro. Os bandos também se misturam”
Jorge Xavier, diretor-geral da Polícia Civil do DF
“Com certeza, é mais de uma quadrilha, porque os casos estão ocorrendo em cidades muito distantes, em intervalos muito pequenos e de maneiras diferentes.”
Josuemar Vaz de Oliveira, chefe da Delegacia Estadual de Investigações Criminais de Goiás