Peemedebistas podem adiar escolha de candidato ao governo para depois do período de desincompatibilização, em cinco de abril; petistas querem definição antes
Por Marcelo Tavares (texto publicado originalmente no Tribuna do Planalto)
Com o PMDB vivendo momentos de indefinição sobre como vai escolher seu possível candidato a governador e cumprindo uma agenda sem levar em conta seus aliados, uma pergunta fica no ar: haverá definição na sigla de forma que atenda o PT, seu principal aliado? Os petistas ressaltam que os prefeitos de Anápolis, Antônio Gomide, e de Goiânia, Paulo Garcia, têm potencial para concorrerem em uma chapa majoritária em 2014, mas para isso precisam se desincompatibilizarem do cargo até 5 de abril. Assim, petistas cobram definição PMDB antes da data limite para possível renúncia dos prefeitos.
Atualmente, há duas situações no PMDB. A ala mais próxima ao ex-governador Iris Rezende quer adiar as discussões da escolha do nome para concorrer o governo o máximo possível; já outro grupo, ligado ao empresário Júnior do Friboi, quer antecipar a definição, tanto que isso ainda é motivo de desavenças no partido. Até aqui, o grupo ligado ao ex-governador tem conseguido adiar o debate em torno dessa definição.
A legenda, agora, está envolvida em encontros para definir se vai convocar prévias ou não e como elas, se ocorrerem, serão realizadas. Reunião ocorrida na semana passada para estudar esta possibilidade não avançou e um novo encontro está marcado somente para o dia 11 de novembro.
No PT a expectativa é que até março os partidos que poderão compor uma aliança apresentem seus nomes e a partir daí haja um debate interno e, posteriormente, a escolha de qual nome tem condições de disputar o governo do Estado.
O pensamento das lideranças petistas não encontram ressonância no principal aliado, por enquanto. O presidente regional do PMDB, deputado estadual Samuel Belchior, diz que não acredita que até o final de março de 2014 a situação na agremiação esteja definida, já que se realmente houver prévias, há todo um processo burocrático a ser seguido, que envolve o diretório regional e a Executiva nacional do PMDB.
Prévias, porém, é um artificio defendido hoje pelos apoiadores de Júnior do Friboi. Se prevalecer a vontade de Iris Rezende e seus aliados, o PMDB não definirá candidato com antecedência e nem por meio de prévias. O entendimento desse grupo é que o melhor caminho seja esperar as convenções, em junho, e só aí ter uma real leitura do quadro eleitoral estadual, sobretudo, os passos do governador Marconi Perillo (PSDB), o principal adversário na disputa ao Palácio das Esmeraldas.
A indefinição no PMDB, com ou sem prévias, põe em risco as indicações do PT. Nessa indefinição, os candidatos petistas não poderiam deixar suas administrações sem terem a certeza de qual papel poderiam desempenhar em uma chapa majoritária. Por exemplo, há especulações no PT de que o prefeito Antônio Gomide não estaria disposto a deixar a Prefeitura de Anápolis para ser candidato a vice-governador em uma chapa que teria Iris ou Friboi como candidato a governador.
Já Paulo Garcia, outro nome lembrado no PT para a chapa majoritária, estaria disposto a deixar a Prefeitura de Goiânia somente se for para compor uma chapa com Iris Rezende, como destacou a coluna Linha Direta na semana passada. O petista poderia deixar a prefeitura nas mãos do PMDB e repetir a dobradinha com Iris, quando venceram a disputa pela prefeitura de Goiânia, em 2008.
No entanto, há correntes no PT, que ganham cada vez mais força, que defendem que o prefeito Antônio Gomide renuncie ao mandato até 5 de abril e fique à disposição do partido e das oposições para a sucessão, mesmo sem ter garantias de que será o candidato escolhido. Quem defende essa hipótese, avalia que o prefeito se valoriza ao demonstrar disposição de participar do pleito. O plano principal nesse caso é que ele seja candidato ao governo.
Caso não se viabilize e a vaga principal fique com o PMDB, restaria a Gomide concorrer ao Senado Federal. “Para o PT, hoje, é mais interessante pensar no Senado como plano B do que na vice-governadoria”, ressalta uma fonte petista. Isso porque caso eleito, o atual prefeito seria mais um membro da bancada petista no Congresso e reforçaria a força política de Dilma Rousseff (PT), caso esta também seja reeleita no ano que vem.
Sem otimismo
Afirmando que fala como militante e não como presidente do PMDB, Samuel Belchior diz não estar otimista que definições saiam até março do ano que vem, principalmente, porque, segundo ele, o primeiro semestre é muito curto em virtude das férias em janeiro e o carnaval em fevereiro. “Vamos esperar a reunião de novembro para saber qual será a agenda do partido”, afirma o deputado, que pessoalmente, é a favor da definição no PMDB somente após 5 de abril. “Muitas possibilidades podem acontecer até o final de ano porque haverá muitas conversas (com o PT), que poderão alterar o quadro”.
Outro que defende a espera da definição após 5 de abril de 2014 é o peemedebista Kid Neto, integrante da executiva estadual e defensor da candidatura de Iris Rezende. Ele afirma ser uma estratégia. “Não queremos definir nada antes da desincompatibilização até porque isso é uma estratégia para nos defendermos do candidato do governo. Será preciso aguardar”, afirma Kid, ao avaliar que com essa tática deixa dúvida entre os governistas.
Os membros da Executiva petista não são categóricos, mas ressaltam a necessidade de que até março já tenha avançado a definição do nome da aliança que concorrerá ao governo. “Já está combinado que cada partido, agora, faz o seu trabalho e lá para março, vamos resolver o que será feito”, explica o vice-presidente estadual do PT Ceser Donisete Pereira.
Segundo o petista, é fundamental haver definição no PMDB até março porque é a partir da escolha das siglas é que as duas agremiações poderão sentar e discutir a aliança. “Queremos aliança porque entendemos que é possível vencer o atual governo somente se estivermos juntos”, completa.
“Em reuniões com o PMDB já colocamos os nossos dois nomes, que sãos os prefeitos Antônio Gomide e Paulo Garcia e também colocamos que temos prazo. Então precisamos resolver essa situação até março ou abril”, destaca o vice-presidente do PT. “Pela política normal, nós espicharíamos as discussões até junho, mas isso não nós é permitido em virtude das regras eleitorais, que determina a saída do prefeito, caso ele queira concorrer a outro cargo no Executivo. Então, não há jeito. Precisamos resolver nossas vidas até março ou começo de abril”, reafirma Donisete.
“Já está acertado que agora cada partido fará suas discussões internas. Só a partir de março de 2014 é que vamos discutir se o nome (do candidato a governador) será do PMDB, do PT ou de outro partido da aliança”, afirma o deputado federal Rubens Otoni (PT), que não demostra muita preocupação com as indefinições peemedebistas.
De acordo com o deputado estadual Mauro Rubem (PT), as duas agremiações têm realizado conversas permanentes, mas afunilamento das agendas, só vai ocorrer no primeiro trimestre do ano que vem. Enquanto esse momento não chega, o parlamentar cita que é preciso fechar e fortalecer a aliança, que vive em ameaça por celeumas que são criadas pelo PSDB. “Nossa prioridade é consolidar essa aliança e um programa de governo”, sublinhou.Petistas rechaçam imposição de
nome peemedebista ao governo
Apesar das dificuldades de haver conversas sobre como vai ficar a aliança para 2014, em virtude de o PMDB estar debruçado sobre a forma como vai escolher seu candidato, petistas e peemedebistas ressaltam que vão buscar continuar com unidade e estão conversando para isso. Querem na esfera estadual conseguir o mesmo sucesso que a união entre os dois partidos obteve em Goiânia e nacionalmente. Mas para isso ainda será necessário muita articulação dos líderes das duas agremiações.
O PMDB quer de toda forma indicar a cabeça de chapa para o governo do Estado, tanto que todas as discussões na legenda se referem a quem vai ser o candidato ao governador pela sigla. “O PMDB tem pensamento por tradição, de que dificilmente, não terá o candidato ao governo”, afirma Kid Neto, que frisa que a aliança com os petistas também é por outras candidaturas, como senado e vice-governadoria.
Já o discurso no PT é que é preciso uma avaliação de qual nome estará melhor cotado no ano que vem. “Se nosso nome estiver melhor em três critérios, que são densidade eleitoral, representatividade e capacidade de aglutinação, vamos querer o apoio. Se outro nome, de outra legenda, estiver melhor posicionado, nós poderemos apoiá-lo”, diz o deputado estadual Luís Cesar Bueno (PT), que aposta e diz trabalhar para que as oposições estejam juntas nas próximas eleições.
Ceser Donisete também ressalta que o trabalho agora é de buscar unidade entre os dois partidos, mas que o PT não vai aceitar decisões que venha do PMDB sem que haja uma discussão entre as duas legendas. O presidente peemedebista, Samuel Belchior, diz que até agora as discussões nos partidos estavam muito focadas na filiações, mas que as conversas com o PT serão intensificadas. “A aliança não será fragilizada porque os partidos estão em constantes conversas”, ressalta.
Talvez uma das vozes que mais demostre dúvida sobre uma possível aliança é a do deputado estadual Karlos Cabral (PT), que ao mesmo tempo em que diz que uma aliança não está consolidada, pontua que os dois partido vêm trabalhando para uma unidade. Mas ele ressalta que ainda é cedo dizer que o PMDB e PT são aliados. “Não existe nenhuma aliança consolidada. Cada um está trabalhando internamente de forma a viabilizar o seu candidato”, ressalta o parlamentar. (M.T.)