Em editorial publicado no sábado (20), o jornal The New York Times declara que as redes sociais devem ter a responsabilidade de encarar a desinformação disseminada em seus domínios como um problema sistêmico. Na opinião do jornal, as empresas apenas resolvem caso a caso.
Mencionando o fato de que empresas bancaram campanha milionária contra o PT no WhatsApp -o que é proibido e foi revelado em reportagem da Folha de S.Paulo-, o periódico afirma que são os jornais, pesquisadores e pessoas comuns que têm trabalhado de graça para que as redes sociais e aplicativos retirem conteúdo falso de suas plataformas.
“O problema é sistêmico. [A desinformação é disseminada] na forma de trabalhos coordenados. Enquanto o Facebook e o Twitter avançam na proatividade em reduzir o efeito dessas campanhas de influência duvidosa, um padrão cansado se repete: jornalistas e pesquisadores encontram um problema, a plataforma reage e todo o ciclo começa de novo”, diz o editorial.
Desde julho, já ocorreram no Brasil cinco reações de redes sociais para reparar a disseminação de notícias falsas, desinformação e spam (mensagens não solicitadas) no país.
Ao redor do mundo, há notícias de reações semelhantes, em que as redes sociais cirurgicamente removem, bloqueiam ou suspendem criadores de conteúdo que não estão conforme a legislação local ou aos termos de serviço das empresas –o Facebook mantem o que chamam de “sala de guerra” onde monitoram atividades suspeitas.
Apesar de ser inevitável que erros aconteçam, diz o jornal, a moderação de conteúdo não pode ser mais uma reação a questões isoladas. Para o jornal, não é função do repórter corrigir estes erros; entretanto, é justamente o repórter quem é procurado pelos usuários, que se sentem cansados em enfrentar o marasmo das respostas automáticas das empresas, quando reportam problemas.
Segundo levantamento do Folha Informações, serviço da Folha que checa informações compartilhadas no Whatsapp, até dia 5 de outubro, 97% das 1.339 mensagens que chegaram à Redação eram falsas. Dez dias depois, em monitoramento feito pelo jornal, muitas dessas notícias ainda eram replicadas em campanhas coordenadas no WhatsApp.
O jornalismo investigativo, segundo o The New York Times, faz seu papel, mas sem acessar a tecnologia e a riqueza de dados disponíveis apenas internamente por Facebook ou Twitter.
“As empresas têm uma responsabilidade enorme e todas as ferramentas à disposição para encontrar exatamente o que os jornalistas encontram -e, ainda assim, claramente não o fazem”, afirma o jornal.
Segundo o periódico americano, essa confusão de funções faz emergir uma situação paradoxal. Redes sociais delegam e tomam por garantido que jornais vão investigar desregramentos em suas plataformas e, ao mesmo tempo, as mesmas redes sociais causam danos ao jornalismo. “Mesmo que as empresas façam parcerias com jornais para melhorar seus produtos, a hegemonia do Google e do Facebook sobre a publicidade digital -estimada em 85% do mercado- está estrangulando o jornalismo.”
No Facebook, a mudança de algoritmo no ano passado fez com que páginas de informações falsas crescessem e que páginas de jornalismo profissional tivessem queda de leitura.
Na opinião do editorial, deste modo, as redes sociais não favorecem a manutenção da democracia.