O Brasil lidera há dois meses o ranking de casos e mortes diárias pelo novo coronavírus, segundo o site Our World in Data, da Universidade de Oxford. A epidemia descontrolada fez com que mais de cem países proibissem a entrada de brasileiros, entre eles Estados Unidos, Canadá, Argentina, Uruguai, Colômbia e boa parte da Europa. Além de afetar o turismo, o fechamento das fronteiras também pode comprometer o desempenho do País nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.
Até agora, o Brasil já conquistou 116 vagas em 14 modalidades. De acordo com o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) 11 esportes ainda farão classificatório até junho. E mais oito definirão as vagas por ranking até 15 de julho. A maioria das disputas acontecerá no exterior.
O chefe da delegação paralímpica brasileira, Alberto Martins, comentou os problemas que tem enfrentado. “A dificuldade está principalmente na abertura da fronteira para os brasileiros. Tem país também que está pedindo 14 dias de quarentena no quarto do hotel. Fica inviável para um atleta pois traz um prejuízo técnico muito grande”, disse.
Para uma disputa na Georgia, Martins soube que precisará solicitar ao país uma carta de autorização para entrada. Os atletas do levantamento de peso ficaram fora de duas competições por causa do fechamento de fronteiras: uma na Colômbia e outra em Manchester, na Inglaterra.
A equipe brasileira de natação tem uma competição para disputar em 17 de maio na Ilha da Madeira, em Portugal. Martins ainda não definiu quem serão os inscritos. “Temos que estudar todas as formas. Não temos encontrado centros de treinamento onde a quarentena pudesse ser cumprida, por exemplo. Como Brasil está como epicentro da pandemia, complicou mais ainda.”
TREINO ISOLADO – O nadador Daniel Dias, principal atleta paralímpico do Brasil, não disputa uma competição há mais de um ano. Garantido nos Jogos de Tóquio por ter conquistado o Mundial de Londres de 2019, ele só está treinando neste momento porque conseguiu uma liberação excepcional da prefeitura de Atibaia. Uma academia na cidade continua fechada para todos e só abre para ele.
“Treino sozinho e não tenho contato com ninguém. Acredito que o principal impacto da pandemia nesta preparação para Tóquio seja a falta de competições. O ritmo de prova é muito importante e precisamos de um parâmetro para avaliar a performance”, disse ao Estadão.
Dono de 24 medalhas em Paralimpíadas, sendo 14 de ouro, Daniel avisou em janeiro que se aposentará das piscinas após os Jogos de Tóquio. A expectativa é disputar cinco provas e conquistar medalhas em todas, claro. “Fisicamente e tecnicamente estarei preparado. A pandemia está exigindo mais paciência e controle emocional, e estou trabalhando isso constantemente”, disse. “Nadar minha última prova vai ser muito emocionante”, acrescentou.
NA FILA DA VACINA – Apesar das dificuldades, o Comitê Paralímpico Brasileiro entende que não é o momento de solicitar ao Ministério da Saúde a inclusão de seus atletas como prioritários na vacina. Segundo Martins, existe a possibilidade de o comitê olímpico chinês fornecer o imunizante ao Comitê Olímpico Internacional (COI) para vacinar todos que disputarem os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. A contrapartida, cada atleta vacinado disponibilizaria duas doses para a população de seu país doada pelo comitê chinês.
“Se isso acontecer tem que acontecer rápido, como chefe de delegação gostaria que fosse feito até final de abril, início de maio, porque não temos informações sobre efeito na performance “
O IPC informou no final de março que já havia 2.710 vagas confirmadas, correspondente a 62% do total de 4.400 vagas. Seis esportes já estão com todas as vagas preenchidas: bocha, equitação, futebol de 5, goalball, basquete em cadeira de roda e rúgbi em cadeira de roda. O Brasil ficou fora das disputas dos dois últimos. O IPC acredita que haverá condições para acontecer todos os classificatórios até junho e que não precisará cortar o número de participantes.
MUDANÇAS NOS PROTOCOLOS – Os protocolos em Tóquio é que tiveram algumas alterações nos últimos meses. Turistas estrangeiros estão proibidos de acompanhar as competições. A cerimônia de abertura terá um número menor de atletas do que o habitual. Os atletas, também, não poderão permanecer na Vila Olímpica depois de competir. Antes eles deixavam o local por modalidade. Agora, terão 48 horas para ir embora.
No Paralímpico dificulta porque nem todo atleta se locomove sozinho. “Temos que pensar em nova logística. Porque tem que mandar gente junto. Viajar para o Japão é uma viagem com escala. Dependendo do atleta não posso deixar sozinho, seja por deficiência, seja por dificuldade no idioma. Vai impactar nos valores de passagem também”,
Por João Prata/EstadãoConteúdo