O ex-prefeito regional da Casa Verde/Cachoeirinha Paulo Cahim, exonerado por João Doria (PSDB) por ter reclamado publicamente da redução de verbas prevista para sua administração em 2018, ironizou o prefeito em postagem nas redes sociais.
Incomodado com discurso de Doria, que tem dito que os prefeitos regionais têm que trabalhar, e não reclamar, Cahim escreveu que o prefeito “trabalhou muito, mas somando muitas milhas voando pelo mundo.”
“Na Casa Verde eu rodei todas as vilas, ruas, praças, becos e vielas, especialmente no fundão da periferia. Não! O sermão não cabe a mim!”, escreveu.
À reportagem, Cahim disse que a mensagem foi clara e não quis se estender. Mas ressaltou que seus onze meses à frente da prefeitura regional foram de “trabalho, e não de marketing.”
“Estava decidido a ser gentil com o prefeito, até porque é uma prerrogativa dele me exonerar. Mas confesso que fiquei incomodado com o discurso dele. Foi desleal”, afirmou.
ENCHENTE
Na fala que originou sua demissão, Cahim alertou para o perigo de a zona norte ser afetada por enchentes em janeiro do ano que vem. Cahim ganhou o prêmio de melhor prefeito regional de abril justamente por seu trabalho na prevenção de enchentes na região.
“Eu queria evitar que se repetisse o que aconteceu comigo no começo do ano, quando tive que batalhar muito para controlar as enchentes na região. E eu acho que minha fala ajudou e que a Prefeitura de São Paulo vai aumentar o orçamento para a zona norte”, completa.
Sobre seu futuro político, disse que continuará à disposição para “futuros projetos para a cidade”. E aproveitou para dar mais uma cutucada no prefeito.
“Não vou vestir o pijama”, disse, fazendo referência ao vídeo em que Doria, atacando o atual presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, afirma que ele “viveu a vida inteira na sombra do Orestes Quércia, do Serra” e que “coleciona fracassos e agora vive de pijamas “.
VEJA A MENSAGEM DE CAHIM NA ÍNTEGRA
“Caros, a divergência no pleitear mais verbas para combate às enchentes na região da Vila Nova Cachoeirinha pode ser interpretativa. Mas, discordo quando o prefeito Doria diz que fui demitido pois precisava trabalhar mais. Trabalhei sim de domingo a domingo. A minha única viagem marcada que faria com meu grupo para Poços de Caldas eu cancelei para fazer ações do bairro lindo. Deixei, de acompanhar minha família e todas as minhas coisas para traz. O prefeito Doria trabalhou muito, mas somando muitas milhas voando pelo mundo. Na Casa Verde eu rodei todas as vilas, ruas, praças, becos e vielas, especialmente no fundão da periferia. Não! O sermão não cabe à mim!
Fiz o que combinamos: trabalhar com afinco, dedicação e paixão. Fui leal defendendo o governo que representava, mas tenho senso crítico da realidade que vivemos. Eu sei o que é ter a casa invadida pela lama e pelo esgoto na borda do córrego do Bispo, Cachoeira dos Antunes, no Jardim Peri e na rua Matheus Mascarenhas no baixo limão. Tinha prometido à mim, não falar ou responder nada. Minha consciência e minha ação ao longo destes 11 meses falariam por si. Mas, insinuar que fui demitido por trabalhar pouco é muito injusto e desleal. Fico aqui. Fico com a certeza do dever cumprido. Obrigado à todos pelas mensagens e palavras de estímulo. Até breve. “
TOLERÂNCIA ZERO
Durante audiência na zona norte da cidade no último sábado (11), como a Folha de S.Paulo revelou, o prefeito regional Paulo Cahim disse que a região da Casa Verde/Cachoeirinha poderia ser afetada por enchentes como consequência da não realização da limpeza de um piscinão. As declarações dele ocorreram no momento em que a gestão Doria gastou somente 21% do orçamento previsto para contenção de enchentes.
Segundo Cahim, a região pode ser afetada por enchentes como consequência da não realização da limpeza de um piscinão na zona norte. As declarações ocorrem no momento em que a gestão do prefeito João Doria (PSDB) gastou somente 21% do orçamento previsto para contenção de enchentes, conforme mostrou a Folha de S.Paulo no último dia 3.
A demissão de Cahim evidencia uma nova estratégia de Doria diante de funcionários da prefeitura envolvidos em qualquer tipo de polêmica.
Nos últimos dez dias, três assessores foram demitidos horas após seus casos terem vindo à tona. O primeiro desses exonerados foi o então chefe de gabinete da Comunicação, após ter sido flagrado em gravação em tentativas de dificultar o acesso de jornalistas a dados públicos. Já o segundo demitido foi o filho de um executivo do lixo que havia sido escalado pela prefeitura para fiscalizar a varrição no centro da cidade.
Doria trava disputa interna no PSDB com o governador Geraldo Alckmin para a escolha do candidato do partido nas eleições à Presidência no ano que vem. Alckmin teve papel decisivo na escolha de Doria como candidato tucano na disputa municipal. Para ser candidato ao Planalto ou ao governo paulista em 2018, o prefeito terá de deixar o cargo até o início de abril.