Sérgio Cabral e Eike Batista são quase vizinhos no complexo penitenciário de Bangu, no Rio. O ex-governador está na unidade número oito e o empresário, na de número nove.
Enquanto isso, os irmãos delatores que expuseram ao Ministério Público Federal (MPF) o esquema do político e do ex-bilionário estão a um oceano de distância, cumprindo prisão domiciliar em Portugal.
Quando depuseram ao procuradores da Operação Calicute, Renato e Marcelo Chebar concordaram em cumprir uma pena de, no máximo, cinco anos. O crime: operar a ocultação de dinheiro ilícito do ex-governador, em ao menos nove países, desde 2002.
Nos primeiros seis meses, os dois escolheram se mudar para Portugal, onde são monitorados por autoridades lusitanas.
Lá, devem manter uma linha de telefone e um endereço de e-mail, em que possam ser acionados para responder a eventuais intimações e se colocar à disposição de qualquer autoridade brasileira em, no mínimo, 72 horas.
Depois desse semestre inicial, os Chebar podem prestar serviços comunitários por mais seis meses, dispensados de tornozeleira eletrônica. E então seguem para regime aberto, sem qualquer limitação.
O procurador José Augusto Vagos, um dos responsáveis pela investigação, diz que o depoimento dos dois irmãos foi fundamental para revelar o caminho da fortuna de Cabral pelo exterior que a força-tarefa “sequer desconfiava que existia”.
Astrólogo, Renato Chebar foi o primeiro a conhecer Cabral, em 2002. Em depoimento, ele contou que no carnaval daquele ano o peemedebista, então deputado estadual, o procurou pois precisava depositar uma pequena quantia de dólares no exterior. Estava preocupado com o escândalo do propinoduto -ainda que não estivesse envolvido com ele.
Em 2003, quando chegou ao Senado, ele pediu que Chebar escondesse US$ 2 milhões em contas no nome do operador nos EUA. Os valores cresceram junto com a carreira política de Cabral: em 2007, ano em que se tornou governador, as cifras foram a US$ 6 milhões.
Afinal, foram US$ 100 milhões mantidos no exterior pelos irmãos operadores ao longo desses anos -com propinas de Eike inclusive. Parte da propina do empresário foi disfarçada com a falsa compra de minas de ouro no Uruguais, intermediada pelos Chebar. Parte dessa fortuna incluía 29 diamantes, avaliados em cerca de US$ 2,1 milhões. A pedra mais valiosa é uma de 4,05 quilates, com o terceiro maior grau de pureza atribuída às joias.
Agora reluzentes ao poder público, os crimes financeiros de Cabral custaram aos operadores quase R$ 20 milhões em multas, já depositados.
Os Chebar devolveram, cada um, R$ 9,95 milhões aos cofres públicos. A denúncia à força-tarefa, segundo o procurador Vagos, permitiu que a força-tarefa repatriasse “em tempo recorde” outros R$ 270 milhões.
Folhapress