A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, disse em entrevista à Jovem Pan, publicada nesta sexta-feira (15), que aconselha pais e mães de meninas a fugir do Brasil para evitar a violência e abuso sexual. A própria ministra tem uma filha adotiva, indígena, que atualmente tem 20 anos.
Segundo a rádio, a entrevista foi concedida ao repórter Reinaldo Oliveira, da Jovem Pan de João Pessoa.
“Agora a gente recebeu uma pesquisa de que o Brasil é o pior país da América do Sul para criar menina. Se eu tivesse que dar um conselho para quem é pai de menina, mãe de menina: foge do Brasil, você está no pior país da América do Sul para criar meninas. E um dos índices que leva a esse resultado é o abuso sexual”, disse ela.
A ministra também falou, entretanto, que pretende mudar essa situação no país. “A violência contra a mulher vai desde o constrangimento, preconceito, discriminação, atentado à dignidade, atentado à honra, violência física, lesão corporal, a tentativa de homicídio, o feminicídio. A gente vê aí um quadro que a gente vai precisar mudar.”
Para isso, a ministra citou “uma grande revolução cultural”, que começaria nas escolas. “Nós vamos ter que proteger a mulher desde a infância, nós vamos ter que rever essa questão da proteção e defesa da mulher com uma grande revolução cultural. Mas uma revolução cultural mesmo, lá na escola. Não adianta fazer só a repressão. Nós vamos ter que trabalhar uma mudança de comportamento no Brasil”, disse.
Questionado, o ministério disse que a entrevista foi concedida em 28 de janeiro, “com base no relatório divulgado pela ONG Save the Children”.
“Fora de contexto, a fala da ministra aparenta ser um conselho. Na verdade, ela chama a atenção para o problema, demonstrando a dramaticidade da situação atual, e, em seguida, aponta as soluções que serão apresentadas por este Ministério”, afirmou a pasta, por meio de nota.
ENSINO DOMICILIAR
Na entrevista, Damares defendeu a regulamentação do ensino domiciliar, também chamado de “homeschooling”, uma das propostas do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Segundo ela, 30 mil famílias no país já educam os filhos em casa e precisam ser acolhidas. A ministra afirma que o ensino domiciliar não será obrigatório, mas uma opção.
“Muitas famílias são processadas porque fazem isso, […] então estamos apresentando uma proposta de lei para que essas famílias não fiquem na ilegalidade. As pesquisas no mundo mostram que o rendimento é muito maior da criança em casa do que na escola, porque 40% da atividade na escola é para gerenciar a sala”, disse.
A ministra afirma que o ensino domiciliar é permitido “nos países mais desenvolvidos” e dá um exemplo de família que poderia adotar a modalidade.
“Um pai que mora no interior e não tem uma boa escolinha para os seis anos, para alfabetização, e teria que se deslocar de uma cidade pequena para uma cidade maior. Especialmente as pessoas que moram afastadas dos grandes centros, às vezes tem que viajar 30 km de uma cidade para outra para levar a sua criança na escola, […] porque ele é obrigado a matricular a criança”, disse.
A ministra já foi protagonista de outras polêmicas, como a sua declaração sobre as cores das roupas de crianças. Em janeiro, ela apareceu em vídeo em que comemora uma “nova era no Brasil” e afirmava que “menino veste azul e menina veste rosa”.