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Dallagnol fala sobre vazamentos, diz que dorme tranquilo e dispara: “só beneficia o crime”

O procurador da força-tarefa da Operação Lava-Jato Deltan Dellagnol, após se negar a ir à audiência pública na Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos sobre os vazamentos de diálogos que trocou com outros colegas de investigação e o então juiz que conduzia os julgamentos, Sérgio Moro concedeu entrevista publicada na tarde deste sábado (13/07), ao Estadão. Alvo de críticas de setores que consideram que as conversas “contaminaram” os julgamentos mas também defendido por diversos que alegam que “vale tudo” para combater a corrupção Dellagnol considerou que estão criando uma “teoria da conspiração” com base nos diálogos vazados, e que estão utilizando as matérias para “forçar as anulações” da operação. “Só beneficia o crime”, respondeu quando questionado sobre quem se beneficiava dos vazamentos.

Para o procurador, a Lava-Jato “incomoda os poderosos, inclusive integrantes da elite política e econômica que roubavam o Brasil impunemente a décadas” e por isso tem sido alvo de ataques constantes. Isso esta estreitamente ligado à quem se interessou pelo suposto hackeamento. “O interesse é anular condenações e barrar o avanço da investigação. A operação atingiu muitos poderosos e detentores do poder econômico. Poderia ser qualquer um deles, além dos corruptos que ainda não foram alcançados pela Lava Jato”, pontuou.

Questionado se havia alguma outra possibilidade do vazamento ter sido realizado sem algum ataque hacker, Dellagnol respondeu que não. “O hackeamento está comprovado. A questão em aberto é quem promoveu o hackeamento e não se ele ocorreu”, explicou.

Dellagnol diz que não se arrepende da forma como conduziu as investigações, “mesmo sabendo do alto preço pessoal pago”. Reforça que os resultados obtidos pela força-tarefa foram “fundamentados em fatos, em provas na lei e foram validados por diversas instâncias na justiça”. Também relembrou que a operação recuperou bilhões aos cofres públicos. Houve também a responsabilização de diversos criminosos e “cacifes da política” que foram presos.

Vazamentos fora do contexto

O procurador afirmou que não é possível apontar se é verdade ou mentira o conteúdo dos vazamentos tendo em vista que não há mais as mensagens originais disponíveis para serem comparadas. Ele explica que já apagou a conta que tinha no Telegram, aplicativo pelo qual foram extraídas as conversas que o The Intercept e outros jornais estão trabalhando. “É impossível lembrar detalhes de milhares de mensagens ao longo dos anos. A mudança de uma palavra, a inserção de um ‘não’ ou a abstração de contextos podem mudar significados”. Daí o não reconhecimento da autenticação das mensagens.

Mesmo tendo um áudio já disponível e outros que ainda podem ser publicados. Isso não confirma a autenticidade das mensagens?, questiona o Estadão. Deltan alega que é possível que o criminoso realmente tenha acessado às mensagens. “Isso não afasta a possibilidade de edição ou falsificação das mensagens de texto ou áudio, o que pode ter ocorrido até mesmo antes de o material ser entregue ao site, que não o submeteu a nenhuma autoridade para verificação”. Ele salienta que de fato, algumas publicações deram indícios de que as mensagens foram editadas.

Quando questionado se Sérgio Moro, enquanto juiz, havia orientado a Procuradoria para publicar um posicionamento à imprensa criticando a defesa do ex-presidente Lula, por conta do seu “showzinho”, Deltan fugiu da resposta e voltou a falar em “falta de veracidade” nos diálogos. “Reconhecemos o papel fundamental da mídia e, por isso, fizemos uma série de declarações à imprensa ao longo da operação. O interesse do Ministério Público não é condenar, mas buscar a realização da Justiça, o que implica também a absolvição dos inocentes. Não fazemos notas contra ou a favor de pessoas”.

“Conspiração que não se verifica”

Perguntado sobre o processo do ex-presidente Lula e se as investigações foram conduzidas deliberadamente para afastá-lo do cenário político, Deltan volta a falar em teoria de conspiração e que esta é desenvolvida apenas para “forçar anulações”. “Só na força-tarefa de Curitiba já passaram 19 procuradores e mais de 30 servidores. A equipe inclui eleitores do PT. Há ainda dezenas de outros procuradores e servidores que atuam no caso pelo próprio MP, PF, Receita Federal e outros órgãos. Os atos judiciais são revisados por três instâncias independentes”, conclui. Para ele, é uma teoria de conspiração que “não se verifica”.

O ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva em entrevista aos Jornais El País e Folha de São Paulo

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, disse que Moro e Dallagnol não dormem com consciência tranquila. O Estadão perguntou ao procurador se ele tem bons sonhos. “Sim, sempre. A Lava Jato foi um trabalho institucional sólido […] Não há chefe, as informações e decisões são debatidas e tomadas por todos, democraticamente.”, explica.

Ele conclui dizendo que se tem um receio, é que “a luta contra a corrupção pare na Lava Jato”, e endossa que se aprovem leis no Congresso para estruturar ainda mais o combate à corrupção. De novos vazamentos, ele garante que não tem medo.

 

 

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.

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