Numa terra tomada por uma pandemia global que obriga praticamente todo o mundo à ficar sair apenas para o necessário, fechou comércios em grandes cidades e em alguns lugares chegou a ter toque de recolher, nem mesmo os agentes do Movimento Revolucionário Intergaláctico são poupados. Infiltrados na terra, Zaion e Zuleika até tentariam implantar uma revolução de caráter popular, mas o novo coronavírus, os obriga a ficar em casa e adiar um pouquinho os planos do casal.


Essa é a premissa do curta goiano, de “baixíssimo orçamento” como diz uma de suas criadoras  e um tanto psicodélico “Codinome meu amor” exibido na última quinta-feira (10/12) na plataforma do Sesc Cultura ConVIDA. Produzido de forma totalmente independente, o goiano João Batista Silva e a mineira Viviane Goulart, se jogaram num “filme de quarentena” como a própria diretora define. 

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Com poucos recursos e o mínimo de gente possível em torno do backstage, a produção demorou pouco mais de 8 meses para ficar pronta. Foram 5 meses de construção de roteiro e outros três de gravação. Além da dupla de atores, outras três pessoas deram apoio. “No set, todos os protocolos de saúde e sanitários foram respeitados”, frisam em entrevista ao Diário de Goiás.

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O curta é político, como tudo na vida e faz um apanhado de alguns eventos históricos da humanidade. O Movimento Intergaláctico por exemplo, passa a enviar de forma sistemática para a Terra e assim conter a ‘expansão imperialista’ em 1969, ano em que a Apollo 11 foi lançada à lua com Neil Armstrong pisando em solo lunar. 

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O próprio Zaion e Zuleika chegam à terra em momentos mais contemporâneos, porém, não menos marcantes. Zuleika chegou em meio às manifestações emblemáticas de junho de 2013. Enquanto Zaion, em meio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. “O Brasil estava no clima do golpe da extrema-direita”, lembra. 

Quando pergunto se o filme pode ser uma analogia distópica do Brasil que vivemos, João responde positivamente. “Ele é um filme de pandemia e é um filme sobre o lado social. Os personagens estão aqui para lutar contra isso e esse estado que vivemos agora. Essa extrema-direita autoritária. É como se os personagens fossem contra isso. Tudo isso dentro desse contexto de pandemia, do isolamento social e do medo. Temos algumas autoridades ligadas à saúde e a ciência que falam sobre ficar em casa, e outras autoridades como o presidente que falam que não é necessário.”

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O filme guarda para si um mistério que talvez numa versão extendida tenha lá sua explicação. Como os agentes estão guardados em suas casas, Zaion corre atrás do auxílio emergencial do Governo e junto com sua parceira Zuleika fumam uns palheirinhos e bebem umas cervejas com rótulo esverdeado – não me refiro aqui aquela da marca holandesa, e sim a “dos amigos” mesmo. 

Da Cidade de Goiás para os festivais

João e Viviane vivem na Cidade de Goiás e tocam uma produtora por lá. Juntos, tem tentado fazer cinema no interior do Brasil. “O Codinome Meu Amor ele tem uma proposta de falar sobre as condições mais extremas e difíceis. Falo da condição de produzir. É muito difícil soltar uma produção bem feita, ainda mais no interior. Ainda mais sozinhos”, pontua João com relação a dificuldade em se fazer cinema. “Se fazer um filme, fazer ele sair da cabeça até ele ir para a tela é algo bastante difícil”, pontuam.

Dá para viver com cinema no interior de Goiás? “Dá para sobreviver com outras formas de ocupação. Trabalhar com arte no Brasil, a gente acaba que temos que se deslocar para outras funções em outros trabalhos. Muito trabalho de freelancer. Trabalhar com cinema em si, é muito difícil ainda mais no interior numa região que a gente conhece como ‘fora do eixo’. Mas nossa graduação nos permite trabalhar tanto com cinema como com audiovisual que também é uma possibilidade artística que a gente pode se fazer e resistir mesmo perante ao cenário atual”, destacou Viviane.

Editais de entidades como o SESC colaboram muito para o fomento a cultura cinematográfica para produtores como João e Viviane. “Algumas instituições que acreditam na cultura e na arte como forma de sociedade, uma forma de resistência dentro da sociedade”, pontua Viviane. “Sem ela, a gente não teria como fazer um filme, porque as vezes ficamos desacreditados”.

João destaca que muito longe de viver a chamada ‘vida de rei’, cinema dá trabalho mas também com muito trabalho, dá para conhecer lugares, fazer história e adquirir experiências. Com uma outra obra que em conjunto com Viviane fizeram, eles chegaram a participar de diversos festivais Brasil à dentro. “A gente tá conseguindo chegar em algum lugar com o cinema e o audiovisual, conhecer lugares também. Ir a festivais como conseguimos ir para vários festivais. A pandemia fez com que não fossemos a outros festivais. Conseguimos ir para a Mostra de Tiradentes, o único festival presencial que teve este ano. Muito importante”, destacou.

O filme continua

O filme exibido no SESC ConVIDA teve 10 minutos de duração por exigência do edital de participação. A ideia da dupla é expandi-lo por mais alguns minutos e dar um bom acabamento para a obra. Zaion e Zuleika ainda vão ter bons momentos para curtir a quarentena (ou o fim dela) e uma vacina possibilitar isso.

Assista o curta na íntegra:

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