O operador financeiro Lucio Funaro definiu, em seu acordo de delação premiada, o papel de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados.
“Eduardo funcionava como se fosse um banco de corrupção de políticos, ou seja, todo mundo que precisava de recursos pedia para ele, e ele cedia. Em troca mandava no mandato do cara”, afirmou. “Não precisava nem ir atrás de ninguém, fazia fila de gente atrás dele.”
A reportagem teve acesso à gravação em vídeo do depoimento prestado por Funaro à Procuradoria-Geral da República no dia 23 de agosto deste ano. O acordo de colaboração foi homologado pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Ao descrever o modus operandi do repasse de propinas na Caixa Econômica Federal, Funaro relatou que entre 60% e 65% do valor de cada operação ficava com Geddel Vieira Lima, depois que assumiu a vice-presidência de Pessoa Jurídica do banco, em 2011. Ele deixou o cargo em 2013, mas mantém ascendência na Caixa, segundo o operador.
“O resto [40% a 35%] eu e o Cunha meiávamos no meio [sic] ou eu dava 5% a mais para o Cunha e o resto para mim, dependia da operação e da necessidade de caixa que ele tinha”, disse Funaro.
O operador classificou sua relação com o ex-presidente da Câmara “muito boa” porque não se importava em destinar um valor maior a Cunha do que a ele próprio, se fosse para contemplar o “projeto político dele”.
“Falava ‘tá bom’ porque apostava que ele realmente ia chegar onde chegou, que foi chegar a ser a pessoa que teve mais importância e poder no Brasil. Foi um período curto de tempo, mas ele chegou.”
Cunha está preso há um ano e sua tentativa de acordo de delação, empacada.
Funaro conta que teve “uma briga imensa” em 2012 com o empresário Marcos Molina, da Marfrig, para que ele liberasse propina de R$ 9 milhões negociada em troca de um financiamento da Caixa de R$ 350 milhões em 2012.
Molina tinha “sumido, parou de atender o telefone” e o operador o chamou para conversar no escritório. Disse que não conseguia “fazer dinheiro”, e o operador protestou veementemente. “No dia seguinte, começou a vir o dinheiro”, relatou.
Funaro afirmou que evitava deixar montantes de dinheiro em espécie no escritório. “Se eu não tivesse o que fazer com o dinheiro, eu não deixava dormir dinheiro dentro do escritório, porque tinha medo de ter operação da Polícia Federal.” (Folhapress)