Pela segunda vez em menos de três meses, a ex-presidenta da Argentina Cristina Kirchner vai comparecer à Justiça nesta quarta-feira (6). Ela vai depor num processo que investiga a venda de contratos futuros de dólar a preços abaixo do mercado internacional, que teria causado prejuízo aos cofres públicos equivalente a R$ 17 bilhões. No último dia 3, ela deu a primeira entrevista a um canal de televisão desde que deixou a Casa Rosada, em dezembro passado, para criticar a politica econômica do atual presidente, Mauricio Macri, e dizer que se sente vítima de uma “perseguição” judicial, com fins políticos.
Segundo Cristina, o aumento brutal (cerca de 500%) das tarifas dos serviços públicos, imposto por Macri depois de anos de precos subsidiados ou congelados, era desnecessário e contribuiu para criar “neopobres”. No primeiro trimestre deste ano, o número de argentinos vivendo abaixo dos níveis de pobreza aumentou 3,6%. Mas, segundo Macri, isso é fruto de anos de inflação anual de dois dígitos, déficit fiscal e políticas pouco transparentes, que afugentaram os investidores – herança dos últimos 12 anos de governos Kirchner.
“Minha intenção é continuar me ocupando com o futuro”, respondeu Macri, quando jornalistas pediram comentários sobre a entrevista de Cristina. Sua principal meta, disse, é a transparência no governo e o respeito à independência dos três poderes. “Ela (Cristina) precisa fazer seus esclarecimentos na Justiça”, acrescentou.
A ex-presidenta também está sendo investigada em um caso de lavagem de dinheiro, envolvendo o empreiteiro Lázaro Baez. Ele enriqueceu nos governos de Nestor Kirchner (2003-2007) e de sua viúva e sucessora, Cristina Kirchner (2007-2015). Baez, que foi preso há dois meses, é acusado de ter alugado quartos em um dos hotéis do casal, que nunca teria usado e que, supostamente, era uma forma de retribuir os Kirchner pelas licitações públicas que ganhava.
Nos últimos dois meses, a polícia argentina cumpriu dois mandados de busca e apreensão em imóveis da ex-presidenta. Nesta semana, depois de descobrir contas bancárias na Suíça com US$ 25 milhões, a Justica ouviu os depoimentos de Lázaro e três de seus quatro filhos.