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Categorias: Mundo
| Em 7 anos atrás

Crise humanitária é a pior já vista, diz diretor do CICV

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Um mundo onde aumenta o número de conflitos e esses se tornam cada vez longos e difíceis de lidar. Acrescente-se a presença de grupos radicais islâmicos e guerras envolvendo múltiplos atores.

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A equação tem levado ao aumento exponencial das necessidades humanitárias, diz Dominik Stillhart, 53, diretor de operações do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

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Nascido na Suiça, Stillhart, que veio ao Brasil reunir-se com autoridades, define a estratégia e a condução de operações humanitárias realizadas pelos 13 mil funcionários da organização em 80 países.

REPORTAGEM – A situação humanitária no mundo tem piorado?
DOMINIK STILLHART – Sem dúvida. Temos hoje um número de conflitos muito maior do que nos anos 1990, e eles estão se tornando mais longos e mais difíceis de lidar, envolvem múltiplas partes.
Na última vez que fui a Aleppo [Síria], passei por 60 “checkpoints”, de diversos grupos. E há os radicais jihadistas, que tornam a situação ainda mais difícil. Esse cenário leva ao aumento exponencial de necessidades humanitárias.

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R – Quais países e regiões apresentam os maiores desafios?
DS – Estão sobretudo no Oriente Médio e em partes da África. Temos Sudão do Sul, Somália e a Nigéria que, com o Iêmen, são os países em que você tem a maior porcentagem da população sob risco de fome. Outra área que nos preocupa é o norte do Mali e a Líbia, com disputas territoriais e conflitos. E cada vez mais os conflitos ocorrem em cidades, onde as pessoas precisam de infraestrutura básica para viver.

R – O Iêmen vive uma epidemia de cólera e uma guerra civil.
DS – O Iêmen enfrenta a pior situação em termos humanitários. Estão no meio de uma guerra brutal há mais de dois anos. O PIB encolheu 45%; há 10 milhões de pessoas [de 26 milhões] passando fome; um sistema de saúde arruinado, com diversos hospitais atingidos por ataques aéreos. O serviço de distribuição de água está completamente destruído. Tudo isso deixa a população muito vulnerável. São mais de 300 mil casos de cólera e milhares de mortos. Está ficando fora de controle.

R – E o Sudão do Sul e a Somália?
DS – No Sudão do Sul as pessoas ficaram muito felizes com o acordo de paz, com a independência e agora enfrentam a pior guerra civil que já viram.
Ali, as terríveis condições humanitárias são consequência direta da guerra e não de condições climáticas, como na Somália, onde, além de um conflito civil que dura mais de 20 anos, temos a seca brutal.

R – Como está a Síria após mais de seis anos de guerra?
DS – Junto com o Iêmen, é o país onde a população como um todo foi mais afetada. Hoje, 1 em cada 5 sírios é refugiado, o que torna a guerra uma crise regional. Além disso, o nível de destruição é inimaginável. Serão necessárias décadas para o país atingir o nível de desenvolvimento de antes.

R – Como o sr. vê a situação na Venezuela, onde temos a maior crise humanitária da região?
DS – É preocupante. Apoiamos a Cruz Vermelha local e fornecendo insumos médicos aos hospitais. Por enquanto o que vemos lá é violência política, não um conflito armado, mas precisamos ficar atentos.

R – Quais os desafios na Colômbia após o acordo de paz entre o governo e as Farc?
DS – O acordo é histórico. O mais desafiador talvez seja o fato de o vácuo deixado pela guerrilha estar sendo preenchido por grupos criminosos. O governo precisa garantir serviços básicos a essas áreas para que elas não caiam sob domínio desses grupos. Temos também de dar atenção aos guerrilheiros que estão se desmobilizando em termos de integração, educação, apoio psicológico e social.

R – No Brasil 50 mil pessoas por ano morrem por armas de fogo. Estamos em guerra?
DS – Há distinção entre a violência que vemos aqui e o de alguns países da África e do Oriente Médio. Aqui não há um conflito armado, em termos legais. Mas a situação nos deixa muito preocupados e ocorre em muitas cidades brasileiras, assim como em outros países latino-americanos. Essa violência provavelmente gera as consequências humanitárias mais sérias do continente.

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