Em junho deste ano, 6.678 brasileiros foram encontrados na fronteira do México tentando cruzar sem documentação para os Estados Unidos. Entre esses brasileiros, 5.700 estavam em unidades familiares, ou seja, migravam acompanhados de parentes, a maioria até mesmo com crianças. O cenário é um reflexo da política do democrata Joe Biden de impedir que as famílias imigrantes sejam separadas ao serem detidas e, ao mesmo tempo, um desafio para a política migratória americana.
“No caso da migração familiar, a questão central é como manter essa unidade junta e evitar o que ocorria na gestão Trump, de separar os grupos dentro da lógica do sistema, ou seja, separar adultos e crianças. Cada um era encaminhado para um local, com pais e mães sendo deportados e crianças ficando nos EUA. Até hoje, muitas não sabem o que ocorreu com os pais”, diz a professora de Relações Internacionais da ESPM de São Paulo Denilde Holzhacker.
O perfil dos brasileiros que tentam entrar de forma ilegal nos Estados Unidos mudou nos últimos anos. No ano fiscal de 2021 (até junho), 10.366 adultos sozinhos foram encontrados na fronteira, sendo que em 2020 esse número foi de 2.622. O número de brasileiros em grupos familiares tentando cruzar neste ano foi de 18.948 e, em 2020, foi de 6.414.
Para Adam Isacson, diretor para Defesa na WOLA (Washington Office on Latin America – grupo de advocacia pelos direitos humanos nas Américas), o governo americano e, principalmente, os agentes de patrulha da fronteira, precisam atualizar a maneira como tratam a migração.
“Ainda não estamos adaptados a ver tantas crianças e famílias chegando, não sei quando estaremos prontos para receber essa nova onda migratória. Estamos preparados para o que ocorria dez anos atrás”, explica.
Isacson costuma viajar à fronteira para realizar estudos sobre a migração e comenta que outro dado surpreendente foi ver por onde os brasileiros estão cruzando a fronteira.
Dos 6.414 brasileiros encontrados em junho na fronteira, 4.072 cruzaram principalmente pela passagem de Yuma, no Estado americano do Arizona.
“Isso é curioso, a maior parte não entrou pelo Texas (foram 569), mostra a rota que os atravessadores, os coiotes como dizemos, estão fazendo”, explica o diretor da WOLA.
A professora Denilde Holzhacker diz acreditar que o grande desafio de Biden será equilibrar as vozes críticas ao alto número de imigrantes tentando entrar no país num momento em que o presidente defende a política de portas abertas com as vozes que pedem justamente mais tolerância com quem está entrando.
“Todo sistema migratório americano precisa de uma grande revisão A lógica do sistema, e esse que é um dos argumentos do próprio Biden, de acolhimento, de documentação, distribuição no território, precisa ser revista e trabalhada”, explica a professora.
(Por Fernanda Simas/conteúdo Estadão)