Santa Luzia (MG) – Em tempos de orçamento enxuto e preço dos metais em baixa, a Vale aciona os cérebros a serviço de sua área de pesquisas para trabalhar em busca de maior produtividade. Em linguagem popular, o foco é fazer do limão uma limonada, isto é, ajudar a mineradora a extrair o maior valor das operações já existentes com o menor investimento possível. Em 2015, a mineradora destinará US$ 900 milhões do orçamento anual (US$ 9 bilhões) para pesquisa e desenvolvimento (P&D). Alguns projetos já estão sendo encaminhados às áreas de negócios, que batem o martelo para sua execução.
Nessa lista estão pesquisas nas minas de Onça Puma e Sossego, no Estado do Pará. O diretor de Exploração e Projetos Minerais da Vale, Marcio Godoy, conta que as sondagens ao redor de Onça Puma detectaram depósitos satélites de níquel com teores superiores aos já processados. A expectativa é que a Vale consiga elevar de 1,8% para 2% o teor do metal extraído, elevando seu valor de mercado.
No caso da operação de cobre de Sossego, em Carajás, a meta é estender a vida útil da mina. As atividades foram iniciadas em 2004 e, pelo projeto original, terminariam em 2015. Os estudos já estenderam a vida útil da unidade até 2024. A ideia é esticá-la por pelo menos mais uma década, estima Godoy. As pesquisas geológicas e estudos de processos que permitirão o aproveitamento de novos corpos de minério estão em conclusão e serão submetidos ao conselho da Vale.
“O segredo da mineração é conhecer bem a sua jazida para extrair o máximo de produto aplicando o mínimo de capital”, diz Godoy. Nesse novo ciclo de baixa do minério de ferro e dos preços dos metais, a mineradora deslocou os esforços da pesquisa de projetos greenfield (iniciados do zero) para exploração brownfield (já existentes).
Nos dois casos acima as pesquisas foram realizadas pelo Centro de Desenvolvimento Mineral (CDM), em Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte, primeiro centro de pesquisas da Vale, que completa agora 50 anos. Foi lá que a empresa desenvolveu a tecnologia para explorar os minérios de itabiritos quando suas reservas de hematita no Quadrilátero Ferrífero – minério mais puro, de alto teor de ferro – entraram em declínio nos anos 60. A criação do CDM ajudou a Vale a dar o primeiro salto tecnológico na mineração de ferro.
Bactérias
Além de aprimorar processos de produção já existentes, os pesquisadores da companhia também desenvolvem novas tecnologias. Desde sua criação, em 1965, o CDM obteve o registro de 450 patentes. Uma das novas apostas em inovação tecnológica é o uso industrial da biolixiviação, técnica que utiliza bactérias para estimular a extração de cobre contido em minérios que hoje não são processados por falta de uma rota economicamente viável.
A pesquisa da biolixiviação está em curso desde 2011 e já consumiu US$ 1,5 milhão. Inicialmente ela será aplicada a minérios oxidados encontrados na superfície do depósito de cobre de Sossego, mas pode ser base para a extração de níquel e fosfato, diz o engenheiro Felipe Hilário, coordenador do projeto.
Um dos objetivos é reduzir custos, já que o uso industrial das bactérias dispensa a construção de uma planta de ácido sulfúrico, estimada em 30% do capital investido na produção do cobre. O ácido libera o cobre de minerais associados. A ideia é misturar o enxofre ao minério e deixar as bactérias agirem como um catalisador do processo químico de produção do ácido sulfúrico. Os testes que darão dimensão da viabilidade industrial estão começando no CDM e devem levar quase um ano. “O que estamos fazendo é repetir um fenômeno que acontece na natureza em escala industrial”, explica Hilário.
Os pesquisadores do CDM também reproduziram uma pequena planta para processar o minério de transição da mina de cobre de Salobo (PA). Lá são feitos testes para capturar o cobre de menor teor, por meio da alteração de reagentes. Com a flotação (separação de impurezas) a expectativa é levar esse mineral, que hoje não pode ser processado, de um teor de 1% para 39% de cobre. O processo também reduz a necessidade de lavrar mais minério. “É um apoio bem prático para melhorar a produtividade de uma operação”, cita Godoy.
O diretor de Exploração e Projetos Minerais destaca que pesquisas na mesma linha estão sendo realizadas na área de fertilizantes, para viabilizar o aproveitamento de fosfato sem grandes investimentos em reforma de unidades como Araxá (MG) e Catalão (GO). Na mina de Bayovar, no Peru, há análises para a eliminação de matéria orgânica para permitir o uso do fosfato em plantas de ácido fosfórico no Brasil.
O CDM também pesquisa formas de viabilizar o aproveitamento das terras raras, um conjunto de 17 elementos usados na indústria de alta tecnologia e encontradas dentro das operações de fertilizantes. Embora sejam abundantes, ao contrário do que diz o nome, as terras raras são de difícil extração.
(Estadão Conteúdo)