Foi fácil deduzir a reação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), ao receber a “nota de apoio e confiança” dos deputados estaduais na manhã desta quarta-feira, 16. A repercussão ficou nítida na fala de todos os parlamentares da base que utilizaram o pequeno expediente para tecer elogios ao líder do Executivo estadual. A orientação fugiu às margens do subentendido e estampou-se em: menos discussão e mais proteção.
Se a proteção dos deputados é eficiente ou não, bem… isso é outro assunto. O fato é que a mobilização foi intensa para que ninguém corresse o risco de ficar de fora da moção de apoio ao governador na Assembleia.
O deputado tucano Túlio Isac foi um que chegou às pressas, após 16 horas, para auxiliar nas exaltações. Há semanas o público da Alego não presenciava uma sessão tão extensa como esta, que teve início às 15h e terminou às 18h20.
Os discursos não tiveram grandes variações. Percorreram os temas da recuperação do Estado, saneamento das dívidas e responsabilidade na gestão. Compuseram as falas, adjetivos como administrador inteligente, excelente, atencioso, inovador, entre outros. Nem a caridade fugiu às características descritas pelos parlamentares.
Bem parecido com o discurso feito pelo governador, com a presença da imprensa.
“Marconi Perillo é um homem de bom coração que tem olhado atenciosamente para todas as regiões. Realiza uma gestão que evidencia sua personalidade caridosa”, disse Túlio Isac.
Isso mesmo, caridoso. Só para constar, caridade é uma das três virtudes teologais que, segundo a doutrina cristã, inevitáveis à salvação. Não deixa de ser uma lógica redentora, a do deputado. A explicação também remete aos hábitos políticos da Casa, que realiza a leitura da bíblia antes de todas as sessões.
Religiosidade à parte, os deputados da oposição se ocuparam com conversas pessoais durante a sessão. Sem manifestações e evidenciando apenas sorrisos descontraídos,
Samuel Belchior, Wagner Siqueira, Daniel Vilela, todos do PMDB, e Karlos Cabral, do PT, optaram pelo silêncio público e discussões reservadas.
O deputado Nilo Rezende (DEM) ousou fugir do movimento #FicaMarconi (uma contraposição parlamentar ao #ForaMarconi, fruto da ação popular) de apoio, e questionou por alguns minutos a administração municipal de Goiânia. O devaneio durou pouco e o democrata logo retornou ao tema central da base. “Só temos que agradecer ao governador por sua atuação que demonstra habilidade à frente do Executivo. Mesmo com as crises financeiras, ele recuperou o Estado e se desdobra para atender todas as bases”, disse Nilo Rezende.
O único que se aventurou a comentar o descontentamento com o secretariado, evidenciado na última semana, foi o líder do governo, deputado Helder Valim (PSDB). Em sua fala, o tucano declarou não existir desavenças e nem crises internas no governo. “É normal que exista uma divergência ou outra entre secretários e deputados. O Estado enfrenta uma situação complicada e desde o início da administração o governador trabalha com gerenciamento das crises deixadas pelo governo anterior. No entanto, não temos do que nos queixar, já que tudo o que pode ser feito está sendo realizado por Marconi em prol do Estado de Goiás”, ressaltou.
Durante as votações, os parlamentares aprovaram nove projetos da governadoria e rejeitaram três projetos de autoria do deputado Helder Valim.
Familiocracia
Outras presenças marcantes na Assembleia Legislativa, na tarde desta quarta, 16, foram as dos irmãos João Bosco e José Luiz Bittencourt. Ambos passaram pelo plenário contagiando os deputados com um clima agonizante. Após ameaça da perda do cargo de presidente da Agência Goiana de Comunicação (Agecom), José Luiz colocou a família em movimento e ocupou a Alego em busca de apoio dos deputados.
José Luiz foi indicado ao cargo pelo presidente da Casa, Jardel Sebba, e pelo líder do governo, Helder Valim. Os mesmos que se desdobram para mantê-lo no posto. A articulação dos Bittencourt na tarde de ontem, revelou a busca por novos deputados que possam reforçar sua permanência, que carrega um caráter estratégico: ele foi, em 2008, e novamente será o marqueteiro de Jardel na busca pela prefeitura de Catalão, o que abrirá caminho para Valin retornar à presidência da Assembleia. Jogo combinado e acertado. Não dá pra vacilar – por exemplo, perder o comando da agência que distribui mídia para praticamente todos os veículos de comunicação do Estado, inclusive em Catalão.
Apesar das claras demonstrações de insatisfação de membros do governo com a atuação de José Luiz, o governador não encontrou forças no momento para retirá-lo do comando. Valin assumiu também liderança da articulação interna da Casa em prol do presidente da Agecom. Seu futuro político está na pauta.
No fim da quarta-feira governista da Assembleia Legislativa, a apresentação de maior significância no cenário político brasileiro foi a do por do sol.