A avaliação do custo oculto de um produto na tomada de decisões tem sido fator fundamental nas compras efetuadas pelo Comitê Rio 2016 para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos que ocorrerão no Rio de Janeiro nos meses de agosto e setembro próximos. O diretor de Suprimentos do Comitê Rio 2016, João Saravia, disse à Agência Brasil que é preciso olhar desde a extração da matéria-prima para rastrear a sua origem, até o correto descarte. No caso da madeira, que vem sendo comprada para a confecção de móveis para a Vila Olímpica, por exemplo, entre outras destinações, a exigência é que seja certificada para não agredir o meio ambiente.
O comitê informou que está atento para o respeito às condições de trabalho na fábrica onde aquela madeira está sendo transformada, não só no Brasil, mas no exterior, para que não ocorra trabalho escravo ou infantil. No que diz respeito ao descarte, Saravia destacou que, após a Paralimpíada, em setembro, o Comitê Rio 2016 deixará de existir. Por isso, a política adotada é a de compras sustentáveis, já pensando no descarte adequado. Já temos uma política de doação, de venda ou de devolução para o proprietário que alugou aquele item para os Jogos”, disse.
Segundo o diretor, as contratações são feitas visando a Olimpíada e a Paralimpíada, e o custo total é levado em consideração. No caso da compra de uma lâmpada, Saravia é considerado o custo de utilização e manutenção da iluminação ao longo do tempo. “Você vê que a redução que alcança em termos de energia já compensa o maior custo da lâmpada.”
Saravia destacou que a relação com a sustentabilidade é imediata, porque sempre que se utiliza um item que signifique menor consumo de qualquer matéria-prima, você está fazendo um bem ao meio ambiente. “Usar menos energia elétrica significa usar menos recursos naturais do planeta. Com esse tipo de conta, você acaba impactando positivamente o meio ambiente”. O mesmo vale para transportes, para consumo de água que haverá na operação de hotelaria durante os Jogos, seja para os atletas, seja para a mídia, disse o diretor.
Ciclo de vida
A pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (GVces-FGV/EAESP), Luciana Stocco Betiol, destacou a importância da avaliação do ciclo de vida de um produto para que qualquer processo de compra sustentável tenha resultados positivos.
O ciclo de vida de um produto é uma ferramenta de engenharia que busca identificar, desde a fase inicial de extração, passando pela produção, distribuição, até uso e descarte final, onde ocorrem os maiores impactos, analisando-se alguma categoria de impacto ambiental, como emissão de carbono, consumo de água e de energia, uso de agrotóxicos, e alternativas oferecidas.
Um estudo do FGV conclui que o ciclo de vida é uma ferramenta poderosa que dá muitas informações para os tomadores de opinião e pode impulsionar o mercado sustentável. “Os contratantes deveriam partir dessa avaliação para a tomada de decisão”, disse Luciana.
Função dos produtos
Outro elemento que deve ser priorizado quando se procura efetuar compras para grandes eventos com esse olhar da sustentabilidade é a função que os produtos devem exercer, disse a professora da FGV. Se a função, por exemplo, for o deslocamento das pessoas até os estádios, deve-se pensar que meio de locomoção vai se querer para garantir que uma maior massa de pessoas chegue ao local das provas. Na questão da iluminação, recomendou que se pode pensar em uma iluminação natural que economize em termos de eficiência energética.
“É importante trabalhar o planejamento. Uma compra sustentável parte de um bom planejamento. E, depois deve-se olhar para a função daquilo que se quer adquirir, para poder decidir qual é o produto que vai garantir o exercício daquela função”, ressaltou Luciana.
João Saravia observou que sustentabilidade não diz respeito apenas ao meio ambiente, mas envolve os pilares social e econômico. O pilar social se refere às práticas de trabalho adequadas, enquanto o pilar econômico se refere a olhar para o desenvolvimento da economia como um todo, para a continuidade dos negócios após os jogos. “Essas três coisas têm que andar sempre juntas”.
No que diz respeito à alimentação para os atletas que participarão da Olimpíada e Paralímpiada, a decisão dos gestores públicos era comprar somente produtos orgânicos de fornecedores nacionais, o que estimularia o mercado local. Porém, tendo em vista a produção orgânica brasileira ser ainda reduzida diante do volume de alimentos que serão disponibilizados durante os Jogos, e também para não prejudicar os demais consumidores de orgânicos, a solução foi encontrar um equilíbrio entre o que era possível os produtores fornecerem e o que eles queriam comprometer com os eventos. “Isso também é sustentabilidade. A gente não pode ser um agente que destrói uma cadeia, mas tem que usar a cadeia e permitir que ela continue crescendo depois que a gente deixar de existir”, disse o diretos.
Segundo Saravia, o primeiro legado da Olimpíada, antes dos Jogos, foi o guia de compras sustentáveis, desenvolvido em parceria com o Comitê Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e a consultoria internacional Ernst & Young. Mais de 50 empresas do país e multinacionais instaladas no Brasil participaram do grupo de trabalho sobre compras sustentáveis.
O manual ensina a olhar para a sustentabilidade de forma simples. “Acho que uma das coisas legais que surgiram a partir desse trabalho foi a aproximação das áreas de sustentabilidade e de compras dentro das empresas, porque eram áreas que não se falavam”. A metodologia pode ser usada por qualquer empresa ou entidade interessada.
Com informações da Agência Brasil