Com quase 115 mil mortes, Bolsonaro volta a defender cloroquina: “tem dado certo no Brasil”

O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) promoveu um evento em que reuniu médicos entusiastas a hidroxicloroquina nesta segunda-feira (24/08) no Palácio do Planalto. Denominada “Brasil vencendo a covid”, Bolsonaro falou por aproximadamente 15 minutos. Apesar do tom emotivo, como se a pandemia estivesse à beira do fim a realidade do Brasil é outra: são quase 115 mil mortes desde o registro do primeiro caso.

Bolsonaro também deixou a versão ‘paz e amor’ que vinha desenvolvendo de lado. Na introdução do discurso rememorou quando decidiu se candidatar às eleições em 2018. “Foi em 2014, na reeleição da então presidente Dilma. Eu sabia que seria difícil. Sabia que seria muito difícil”, pontuou. Apesar das dúvidas sobre se venceria, decidiu colocar seu nome e encarar à disputa. “Pior do que uma decisão mal tomada é uma indecisão”, elencou.

Relembrou que sempre foi perseguido pelos opositores e pela imprensa chegando inclusive, a levar uma facada em plena campanha eleitoral. “No começo achávamos que não era nada. Não sangrou, até diziam que a facada era fake. Quando eu cheguei no hospital no entanto, já não estava mais nos meus sentidos”, relembrou. “Agradeço primeiro à Deus por ter me salvado, depois à vocês médicos”, dirigindo-se a platéia.

Críticas à Mandetta

Defensor ferrenho da hidroxicloroquina, Bolsonaro aparenta estar magoado até hoje com seu ex-ministro, Luiz Henrique Mandetta (DEM). “Não vou criticá-lo. Vou apenas expor fotos”, pontuou. Rememorou uma grande história de quando o antigo titular da pasta da Saúde quis que o presidente aprovasse à contragosto de médicos um projeto que permitiria que o Revalido fosse aplicado por instituições particulares. Mandetta era a favor que o projeto fosse aprovado, segundo o presidente. 

Depois começou uma epopéia em sua incansável busca para estudar remédios que colaborassem em combater o vírus. Encontrou na cloroquina, sua paixão. Mandetta, porém, não o retribuiu. “E tomei então, pé da situação, chamei se não me engano o Márcio e o Mandetta. Tinham estudado o protocolo da Saúde para essa questão do covid-19. Que foi feito pelo Mandetta. E lá tava escrito que o tratamento era apenas para casos graves. Falei Mandetta: “tu sabe que eu não sou médico”, o linguajar é diferente, tinha muita liberdade com ele, ele comigo, né? Eu não vou falar o tipo do linguajar que não é o caso. ‘Mas eu não sou médico porque você não muda esse trem aí   e tira a palavra ‘grave’?’ E ele falou: ‘foco, ciência, vidas’”.

Mesmo após Bolsonaro insistir que queria que o protocolo para o tratamento da covid-19 com a utilização da cloroquina, Mandetta manteve sua postura irredutível. Não haviam estudos sólidos e comprovação científica em torno do remédio. Os Conselhos de Medicina e a Organização Mundial de Saúde também estavam desorientando a utilização. “Ele não quis mudar. A adesão é do médico, pô. Se ele não quer, paciência. Muda, né? E assim como se muda de médico, eu mudei de ministro”, disparou.

A cloroquina tem dado certo

O casamento com Mandetta não deu certo. O divórcio aconteceu e Bolsonaro anunciou o oncologista Nelson Teich que não ficou mais que trinta dias no cargo. “Alegou questões pessoais, que não queria continuar”. Teich também não queria mudar o protocolo para a utilização da hidroxicloroquina. “Deixei o general Pazuello como interino, porque eu entendia que a gente precisava de um gestor. Ele participou, foi o homem que decidiu as Olimpíadas do Rio de Janeiro que estava complicado em 2016 e ele assumiu a gestão.”

Com Pazuello no comando, o protocolo em torno da hidroxicloroquina foi liberado e o médico pode receitá-lo logo no primeiro momento do diagnóstico e não apenas para os casos graves. “Tivemos 10 ministros que pegaram a covid-19 e se trataram, logicamente, com receita médica com hidroxicloroquina e nenhum foi hospitalizado. Nenhum foi internado. A observação é que tá dando certo.”

Como exemplo maior de que o medicamento deu certo, utilizou a si próprio para garantir sua eficácia. “O medicamento tem dado certo pelo Brasil. Essa é a grande verdade. Quando eu tomei, no dia seguinte já tava bom. Acredito que os senhores agora, podem dizer, não tem comprovação científica, mas são os responsáveis por muitas vidas.” Para ele, o grande mal de tudo, foi o que chamou de ‘politização’ da doença. “E se a hidroxicloroquina não tivesse sido politizada, muitos mais vidas poderiam ter sido salvas destas 115 mil que o Brasil chegou neste momento”, se adiantou.

Bolsonaro precisou de três semanas  para se recuperar e era monitorado diariamente

Apesar de ter dito que utilizou a hidroxicloroquina e em seu caso, ter apresentado bons resultados, Bolsonaro precisou de mais de três semanas para se recuperar. Foram três testes positivos antes do último que o liberou. A informação era do Jornal O Globo que havia sido publicado no último dia 9 de julho.

O eletrocardiograma é um exame que avalia a saúde cardiovascular e pode revelar anormalidades cardíacas no examinado. Trata-se de uma orientação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). A entidade – que não orienta o uso da hidroxicloroquina o tratamento ao novo coronavírus – diz que os pacientes que optarem “pela realização do tratamento, que sejam realizados eletrocardiogramas”.

Apesar da orientação, o jornal destacava que Bolsonaro tem feito o monitoramento de maneira contrária ao que orienta a SBC. A instituição recomenda que os eletrocardiogramas em pacientes que estejam utilizando a hidroxicloroquina sejam feitas no primeiro, terceiro e quinto dia após a ingestão da primeira dose da substância. Bolsonaro tem feito duas vezes por dia.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.

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