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Categorias: Notícias do Estado
| Em 7 anos atrás

Com ideais conservadores, bancada católica ocupa posições estratégicas na Câmara

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ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A bancada evangélica pode até ser mais pop, mas a católica não fica muito atrás quando o assunto é conservadorismo no Congresso. E um bate-boca durante audiência pública em outubro, na Câmara, ilustra bem o protagonismo no front pró-família desse grupo que conta com dezenas de deputados e o respaldo da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

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O presidente da frente, Givaldo Carimbão, evocou sua fé ao esbravejar contra “obras de arte do diabo”. Fustigou o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, convidado para discutir exposições beneficiadas por incentivo fiscal e acusadas de pedofilia, zoofilia e toda a sorte de ofensa religiosa.

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“Macaco nos peitos de Nossa Senhora, um homem urina na cabeça de Jesus e Maria…”, elencou o deputado do Partido Humanista da Solidariedade de Alagoas. O que o sr. ministro acharia se tal ‘arte’ ultrajasse aquela que o deu à luz?

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“Tenho duas mães, me respeite. Maria de Deus [a do ventre] e Maria Santíssima. Eu queria que fosse com a mãe dele. Mija na cabeça dela. Queria pegar a mãe do ministro e colocar com as pernas abertas”, declarou o deputado.

Com dedo em riste, Leitão se levantou da cadeira e acusou o parlamentar de “ofender minha falecida mãe”. Lidava com o congressista que propõe um projeto de lei para estipular até 30 anos de prisão, “sem direito a progressão de pena”, a quem se envolver com mostras como a gaúcha “Queermuseu”, de onde saíram parte das “obras do diabo” que aviltaram religiosos.

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De braços dados com os “companheiros evangélicos”, a bancada católica quer propulsionar uma linha de resistência a causas progressistas, como aborto, eutanásia, casamento de homossexual e arte com símbolos sagrados, disse à reportagem seu presidente.

Chegam a 40 os deputados atuantes na bancada (metade do quorum evangélico), segundo Carimbão. Alguns estão em lugares estratégicos na Casa.
Flavinho (PSB-SP) comanda a oposição a discussões sobre ideologia de gênero e orientação sexual nas escolas. Há dois meses, Diego Garcia (PHS-PR) substituiu um colega evangélico na liderança da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família.

Eros Biondini (Pros-MG) chefia outra frente, em prol de comunidades terapêuticas para dependentes químicos, campo dominado por instituições religiosas.

Assim como evangélicos têm seu culto semanal num dos plenários da Câmara, os católicos fazem um grupo de oração nas manhãs de quarta-feira -por vezes animado pelo violão do deputado-cantor Eros Biondini, de músicas como “Quem Está Feliz Diga Eu” (“Com solo de guitarra/E a batera no ritmo de Deus”).

BANCADA DA BÍBLIA

Para Carimbão, a aliança com os “irmãos cristãos” é benquista, ainda que católicos percam espaço para o segmento (nos anos 1970 superavam 90% da população brasileira; hoje são metade). “É melhor abrir uma igreja evangélica do que um cabaré, como se diz no Nordeste.”

Mas os católicos não pouparão esforços para turbinar sua presença no Congresso. Segundo Carimbão, em 2018 serão cerca de 30 candidaturas coadunadas pela Renovação Carismática Católica. No Brasil, a RCC ajudou a modernizar a doutrina do Vaticano por meio da Canção Nova, incubadora de projetos evangelizadores como os Jovens Sarados (“academia para a sua alma”).

Cria política dessa ala da Igreja, o paranaense Diego Garcia conta que sua atuação parlamentar é acompanhada por um “conselho de mandato, composto por líderes da RCC”. Além de duas reuniões presenciais por ano, eles se falam todo dia por WhatsApp.

Que seja feita a vossa vontade. Garcia costuma seguir as orientações dos conselheiros. Exemplo: por ora, os humores do grupo são avessos ao texto da reforma da Previdência, logo ele pretende votar contra.

Em seu site, o parlamentar de 33 anos afirma que “abandonou seu maior sonho” (ser jogador de futebol em Portugal) para “servir a Deus”.

Se por ora “aparece na sombra da bancada evangélica”, a turma católica “deve crescer por conta do predomínio das pautas conservadoras na política em geral, e o fator Bolsonaro mostra isso”, diz Magali do Nascimento Cunha, pesquisadora de política e religião.

O secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, ratifica o incentivo a “cristãos leigos e leigas, que têm vocação para a militância político-partidária, a se candidatarem”. Só clérigos estão “proibidos de assumir cargos públicos que importem a participação no exercício do poder civil”, conforme o Direito Canônico.

“Exortamos as comunidades a aprofundarem seu conhecimento sobre a vida política de seu município e do país, fazendo sempre a opção por aqueles que se proponham a governar a partir dos pobres, sem se render à lógica da economia de mercado cujo centro é o lucro, não a pessoa”, diz.

DESCULPAS

A bancada católica se reúne uma vez por mês, para missa e café da manhã, na CNBB. É quando vêm à tona temas “que interessam aos nossos princípios”, afirma Carimbão.

As exposições entram na berlinda. Dom Leonardo confirma ter recebido a visita do diretor do Santander Cultural, que patrocinou o “Queermuseu”, e cancelou a mostra após protestos dos grupos conservadores.

O encontro aconteceu na esteira de seu pega pra capar com o ministro da Cultura, diz Carimbão. “Foram pedir desculpas, dizer que devolveriam o dinheiro [à União].”

“Confesso a você que logo depois do episódio de Nossa Senhora teve gente [da Igreja] dizendo que [nosso bloco] estava um pouco adormecido.”

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