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Categorias: Mundo
| Em 8 anos atrás

Com 90% de urnas apuradas, Erdogan deve ganhar mais poderes na Turquia

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Resultados preliminares do plebiscito constitucional turco apontam para a vitória apertada do “sim” com 52,2% dos votos, segundo a mídia estatal. Mais de 92% das urnas foram apuradas.

Se a estimativa for confirmada nas próximas horas, terá sido uma importante conquista do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, levando à modificação radical do sistema político.

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Os eleitores aprovaram as 18 emendas propostas para a Constituição. A mais importante delas é transformar o sistema parlamentar em presidencial, abolindo o cargo de primeiro-ministro. Erdogan terá ainda mais poderes, incluindo o de nomear juízes para o mais alto tribunal.

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O mapa dos resultados preliminares marca a vitória do “sim” no interior turco.

O “não” teria vencido na costa do mar Egeu e na região sudeste, com concentração curda, uma minoria étnica cujas milícias pró-separatistas estão em confronto com o governo. O “não” também venceu na Trácia, parte europeia da Turquia.

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“Acredito que nosso povo vai abrir o caminho para um desenvolvimento muito mais rápido”, Erdogan afirmou em Istambul, diante das urnas.

A vitória de Erdogan amarga suas já complicadas relações com a União Europeia, impactando toda a região. A Turquia é um dos principais membros da Otan, a aliança militar ocidental.

Esses laços foram afetados nos últimos meses pela campanha do governo. Alemanha e Holanda proibiram comícios oficiais, no que a Turquia descreveu como “práticas nazistas”. As relações de alto nível com Amsterdã foram rompidas.

Com a vitória do “sim”, a Turquia estará ainda mais longe de sua adesão à União Europeia, uma candidatura há tempos desacreditada.

DEMOCRACIA

“Esse referendo é uma piada”, diz Anil Alçin, 46, que fez campanha pelo “não” na região asiática de Kadikoy, no Bósforo. “Erdogan já tem sua ditadura e já pode fazer o que quiser”.

O presidente tem, segundo a oposição, feito demasiado. Depois de uma tentativa frustrada de golpe de Estado, o governo prendeu cerca de 45 mil pessoas e removeu 130 mil de suas funções públicas. Mais de cem jornalistas foram presos e veículos críticos foram encerrados.

“As pessoas decidiram se querem que a Turquia seja governada democraticamente ou não”, diz Levent Piskin, advogado do opositor Selahattin Demirtas, detido desde novembro. Demirtas é o co-líder do partido pró-curdo HDP, uma das principais forças críticas no país. A sigla foi desmontada nos últimos anos pela repressão.

“A pressão aos membros do HDP está diretamente relacionada a este referendo e seu conteúdo”, afirma Piskin. “O governo é nacionalista, islâmico e conservador.”

Os atritos dividiram a sociedade a respeito do futuro do país. A tensão foi especialmente marcada em Diyarbakir, no sudeste. Três pessoas foram mortas em um tiroteio em uma escola onde a população depositava suas cédulas eleitorais. Não estava clara a relação entre esse incidente e o referendo.

A região sudeste concentra a população curda, em crescente embate com as forças de segurança —uma razão para que Erdogan tenha apresentado o referendo como um voto na estabilidade do país, com mais poderes para lidar com ameaças.

“O Exército está dividido”, diz Hamza Topçu, 23, partidário do “sim”. Topçu, parte de um coletivo de jovens pró-governo, diz que a vitória no referendo irá permitir o crescimento econômico e a independência do Judiciário —apesar de Erdogan poder nomear parte dos juízes.

Os partidários do governo discordaram da pergunta da reportagem sobre se isso não significaria demasiados poderes para uma só pessoa.

Para Ali Said Kose, 26, o termo de comparação são os governos europeus, dos quais a Turquia tem progressivamente se afastado, alinhando-se à Rússia e ao Irã.

“Mas os governos europeus também não têm presidentes? Eles são anti-democráticos por isso?”, pergunta.

Erdogan está no poder desde 2003, quando era primeiro-ministro. Ele tomou posse como presidente em 2014. Se o referendo vencer, ele poderá se reeleger mais duas vezes —totalizando quase 30 anos de governo.

(FOLHA PRESS)

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