Muito barulho por nada. Na tarde desta quarta-feira, 2, na Assembleia Legislativa, o clima era bem diferente dos dias anteriores. Foi só o deputado estadual e presidente do PMDB em Goiás, Samuel Belchior, armar sua defesa com respostas pontuais e um calculado contra-ataque subliminar, deixando no ar que mais gente – da base do governo – pode “sofrer o que ele está sofrendo” (palavras do deputado), para o ânimo baixar, a ponto de o assunto ficar morno.
O deputado estadual Talles Barreto (PTB) puxou a discussão e cobrou esclarecimentos de Samuel, que, segundo ele, não explicou os fatos. Com o inquérito da Polícia Federal em mãos, Talles disse que o peemedebista deveria ser mais contundente em suas declarações e defendeu a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar possíveis crimes contra a Previdência, proposta pelo deputado Túlio Isac (PSDB).
Samuel Belchior respondeu dizendo concordar com a CPI, e provocando. “Se querem investigar, vamos investigar. Só acredito ser um grande tiro no pé. Eu li o inquérito e tem muita coisa lá dentro”, afirmou o deputado, apontando, sem dar nomes, para a citação de outros deputados da base do governo pela PF. Isso mais a constatação de que algumas prefeituras citadas em possíveis irregularidades são da base do governo estadual.
Em contrapartida, o petebista afirmou que, caso seja provada a inocência de Samuel, ele terá a “honra” de se retratar formalmente pela acusação. “No momento estamos discutindo sobre os fatos que estão no inquérito da PF; se for provado o contrário, vamos nos retratar”, garantiu Talles Barreto.
Túlio Isac (PSDB), por sua vez, insistiu na formação da Comissão que objetiva investigar contratos das prefeituras municipais. “Precisamos aprofundar nessas denúncias. Saber até que ponto os deputados goianos estão envolvidos”, disse.
No primeiro semestre deste ano, a CPI da Delta recebeu um mandado de segurança impedindo a Comissão de investigar contratos das prefeituras de Aparecida de Goiânia e Catalão com a empresa Delta Construções, braço empresarial do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Segundo o documento judicial, o Legislativo não tem autonomia para investigar contratos municipais. O objetivo da CPI da Previdência se esbarra no mesmo princípio de ilegalidade, podendo travar os trabalhos da Comissão antes mesmo de seu início.
No final da sessão, Samuel, antes tenso, estava mais tranquilo. Seu semblante era de confiança. E o foco de suas declarações já se desviavam para outro rumo: a reta final das filiações para quem quer ser candidato no ano que vem. O prazo termina neste final de semana. Dois dias antes, a dúvida era se o deputado permaneceria na presidência do PMDB. Agora, ele deixava claro que estava de volta ao comando da situação. No caso, sua situação é a do PMDB.
Na ação dos governistas estava clara a preocupação maior de deixar plantado o discurso contra os peemedebistas. Uma espécie de antídoto para a campanha, quando casos como o Cachoeira, envolvendo o governador Marconi Perillo, certamente virão à tona. Uma questão de palanque.