O mais novo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, tem experiência técnica, mas é pouco afeito ao diálogo, afirma parte expressiva do setor cinematográfico, área em que ele mais se destacou.
Desde 2003, transita por cargos que vão de assessor da presidência do BNDES à diretoria da Ancine, e governos díspares, como o de Lula (PT) e o do ex-prefeito carioca Eduardo Paes (PMDB).
O “jogo de cintura” ao transitar por gestões tão diferentes é elogiado pelo produtor teatral Eduardo Barata, que o conheceu no começo de sua carreira pública, como chefe de gabinete do então ministro da Cultura Gilberto Gil (2003-08), na gestão Lula.
“Esse trânsito vai fazer com que ele, como ministro, encampe nossas propostas no Legislativo”, afirma Barata.
Em 2009, Sá Leitão foi chamado por Paes para presidir a RioFilme, agência de fomento ao audiovisual carioca.
No cargo, em que permaneceu até 2015, o atual ministro exalta números: “R$ 185,5 milhões investidos em 484 projetos, com saldo de 32 mil empregos, movimentando R$ 2 bilhões”, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo, em fevereiro.
Foi alvo, no cargo, de acusação de ter beneficiado só grandes produtoras e de ter sufocado o cinema autoral.
Como oposição, surgiu em 2014 um movimento de cineastas chamado Mais Cinema, Menos Cenário, que pedia mais transparência nas contas da RioFilme. Naquele ano, Sá Leitão disparou e-mails, divulgados pelo jornal “O Globo”, que alertava nomes como Cacá Diegues e Mariza Leão sobre a necessidade de “isolar” os “black blocs”.
Nenhum dos dez artistas e produtores culturais procurados pela reportagem quis criticá-lo abertamente. Sem se identificar, reclamaram de falta de transparência e de diálogo.
Diretor de “Nise”, o carioca Roberto Berliner diz que o atual ministro é “extremamente competente”. “Ele tem uma ótima capacidade de análise do setor cinematográfico. Só me preocupa como ele vai dialogar com o meio.”
O diretor Bruno Barreto vê com bons olhos a inclinação do novo ministro à área do cinema. “É bom termos alguém que sabe que esse é o setor mais pungente da cultura.”
Entre a saída da RioFilme, em 2015, e chegada à Ancine, no começo do ano, Sá Leitão montou uma produtora e tocava projetos com voltagem política. Um documentário escrutinará o “mito de Lula” e um thriller, o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel. (Folhapress)