SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes defendeu neste domingo (21) a absolvição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será julgado em segunda instância na quarta-feira (24) pelo caso do tríplex no Guarujá.
“Torço para que seu recurso seja reconhecido pelo tribunal regional, órgão de segunda instância da Justiça Federal, e ele seja declarado inocente”, escreveu Ciro, que foi ministro da Integração Nacional no primeiro governo Lula (2003-2006).
Ele critica os “graves defeitos” do Judiciário, mas pondera que a instituição “ainda deve merecer o respeito institucional da nação”.
“Que o Tribunal Regional de Porto Alegre compreenda a transcendência de sua decisão! Que, independentemente de pressões legítimas ou espúrias, afirme a Justiça! Que tenha a força moral de afirmar a inocência de Lula no processo em questão, se como eu, não vislumbrar clara sua culpa”, escreveu o pedetista (veja a íntegra abaixo).
No mesmo dia em que o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), que analisa o caso de Lula em segunda instância, anunciou a data do julgamento do petista, Ciro disse que “Justiça boa é a rápida” ao se referir sobre o caso, em uma transmissão ao vivo em seu Facebook. No vídeo, ele afirma ter esperança na absolvição do petista e diz esperar severidade do tribunal.
O pedetista, porém, não assinou o manifesto “Eleição Sem Lula É Fraude”, lançado pelo Projeto Brasil Nação, de que é integrante.
Ciro tem viajado o país para divulgar a sua pré-candidatura pelo PDT. Ao mesmo tempo em que a legenda costura alianças regionais com o PT, ele vive uma situação delicada, pois é visto como um possível herdeiro de parte dos votos de Lula, caso o petista seja considerado inelegível e abandone a disputa.
O ex-governador do Ceará cresce na intenção de voto quando o petista não está no páreo. Sai dos 7% da preferência do eleitorado, segundo a última pesquisa Datafolha, e vai a 13%.
Ciro já foi apontado pelo próprio Lula como um possível sucessor, segundo o pedetista relata. “Nunca acreditei, mas ouvi dele 1 milhão de vezes [que o sucederia]. Na frente de muitas pessoas. Não só nós dois, mas na frente de nossas respectivas mulheres. Ele cansou de dizer e com muita emoção”, ele contou a jornalistas, num evento sindical em outubro.
À Folha de S.Paulo, em março de 2017, afirmou que não tinha vontade de ser candidato contra Lula. Num evento em São Paulo, em outubro, disse que não se considerava “nem inimigo nem adversário” do PT. Ele atribui à “debacle” do Partido dos Trabalhadores a culpa pela polarização do país.
Nas palestras em universidades, que ocupam parte significativa de sua agenda, Ciro costuma criticar a “política econômica criptoconservadora” de Lula. Para ele, o PT “beijou a cruz” dos interesses dos bancos.
Leia a íntegra do texto de Ciro Gomes:
“Dia 24 de janeiro é o dia do julgamento da apelação de Lula contra a sentença que o condenou em primeira instância.
Torço para que seu recurso seja reconhecido pelo tribunal regional, órgão de segunda instância da Justiça Federal, e ele seja declarado inocente.
O Judiciário brasileiro, assim como os outros poderes de nossa frágil República, tem graves defeitos – nunca me abstive de criticá-los – mas imaginá-lo parte orgânica de uma conspiração política ofende a inteligência média do país e, pior, a consequência inevitável desta constatação teria desdobramentos tão graves que a um democrata e republicano só restaria a insurgência revolucionária. Não creio, definitivamente nisto.
É definitivamente constrangedor e inexplicável que nenhum quadro relevante do PSDB esteja preso apesar de fartas e robustas evidências de seu orgânico e ancestral envolvimento em corrupção. Mas não é irrelevante que estejam presos quadros centrais do PMDB como Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima ou Henrique Alves. E que o próprio presidente Michel Temer tenha sido chamado pela Justiça a responder por seus atos de corrupção, embora impedida, a mesma justiça, de prosseguir na apuração, pelo poder politico subornado.
O que quero dizer nesta hora crítica é que, apesar de seus graves problemas, a Justiça brasileira ainda deve merecer o respeito institucional da nação. O oposto é a baderna, a anarquia e, evidentemente, a violência.
Que o Tribunal Regional de Porto Alegre compreenda a transcendência de sua decisão! Que, independentemente de pressões legítimas ou espúrias, afirme a JUSTIÇA! Que tenha a força moral de afirmar a inocência de Lula no processo em questão, se como eu, não vislumbrar clara sua culpa.
Que dê evidências incontestáveis de sua culpa, caso assim entenda, de maneira que a qualquer do povo não reste duvidas e, assim, possa a Nação afirmar como o injustiçado alemão: há juízes em Berlim. E, apesar de tudo, também no nosso sofrido Brasil.”