Pela terceira vez, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) pode ser multada pela Fifa devido a atitudes homofóbicas de seus torcedores. Na partida de terça-feira (28) contra o Paraguai, no Itaquerão, boa parte dos torcedores gritou “bicha” a cada vez que o goleiro adversário cobrava o tiro de meta. O Comitê Disciplinar da entidade já abriu procedimento disciplinar para investigar o ocorrido.
A CBF já foi multada duas vezes por casos iguais durante as eliminatórias. A última punição aconteceu em novembro do ano passado após a partida diante da Colômbia. A primeira havia sido contra a Bolívia. No total, a Confederação teve de desembolsar cerca de R$ 140 mil. Caso o rigor seja mantido, é provável que a CBF receba mais uma multa: os gritos no Itaquerão foram significativamente mais altos do que nas ocasiões anteriores.
“Confirmamos que procedimentos disciplinares foram abertos em relação a tais incidentes. No entanto, como de costume, não podemos fornecer nenhuma informação a mais sobre procedimentos disciplinares em andamento”, disse porta-voz da Fifa à reportagem.
Pela reincidência, a CBF corre risco de perder o direito de atuar no Itaquerão nas próximas partidas, como aconteceu com a seleção chilena, que foi impedida de atuar no Estádio Nacional de Santiago após receber seguidas punições pelo comportamento homofóbico de seus torcedores. No entanto, não está nos planos da seleção brasileira voltar a São Paulo nas próximas partidas.
Durante o jogo, o locutor do Itaquerão chegou a pedir que os torcedores “respeitassem o adversário” e evitassem uma punição à seleção. Foi ignorado.
Procurada, a CBF confirmou que já foi notificada pela Fifa e que elaborará sua defesa a partir das ações que tem tomado para coibir tais atitudes, tais como a intervenção do locutor do estádio e campanhas contra a discriminação.
Nos países de língua espanhola, as torcidas costumam dar o grito de “puto”, que é uma maneira pejorativa de se referir a homossexuais. No México, pelo menos desde 2004, quando o arqueiro do time contrário se prepara para repor a bola em jogo, os torcedores iniciam o canto com um longo “eee” e finalizam com o “puto” quando o tiro de meta é batido.
Nos últimos anos, com clubes do México na Libertadores, os brasileiros passaram a fazer o mesmo, trocando o “puto” por “bicha”. Torcedores do Corinthians foram os primeiros a importar a hostilidade, geralmente dirigida ao então goleiro do São Paulo, Rogério Ceni. Durante a Copa do Mundo de 2014, os gritos foram frequentes e desde então foram adotados não somente por membros de torcidas organizadas; durante a Olimpíada de 2016, eles aconteceram em quase todos os jogos de futebol do evento. No final de 2014, a diretoria do Corinthians soltou uma nota em que pedia o fim da manifestação homofóbica.