Após dois meses do acidente ocorrido no Parque Mutirama, que feriu 13 pessoas, em Goiânia, a Polícia Técnico Científica apresentou o laudo da perícia feita no brinquedo Twister, que teve o eixo central quebrado. A perícia constatou que a administração do Parque sabia que o eixo tinha uma fissura de mais de dez centímetros desde 2011 e não fez a devida manutenção do equipamento.
Consta no relatório de conclusão que: o eixo se rompeu devido ao processo de fadiga; uma das formas possíveis de verificação de fissuras ou trincas é através de ensaios não destrutivos, que ocorrem durante inspeções em equipamentos; todos os componentes da estrutura deveriam ser submetidos a inspeções minuciosas e frequentes; na possibilidade de ser detectado algum defeito, são necessários critérios para decidir sobre a rejeição ou não do componente, bem como a eventual necessidade de reparo, quando este for possível; o item anterior indica que o evento era evitável. Porém, a ausência de medidas após a detecção da trinca não impediu a falha catastrófica, evento final de um processo de fadiga.
Para o responsável pelas investigações, delegado Izaías Pinheiro, o Parque Mutirama funcionava de forma amadora e politiqueira, “tanto na estrutura de manutenção quanto na gestão financeira”. “É o descaso com a vida. Quanto custa um eixo desse? Eu perguntei ao perito. É o preço do aço. Não custa mais que R$ 5 mil. Esse brinquedo foi reformado em 2012 a um preço de R$ 172 mil”, destacou o delegado.
Ainda segundo Izaías Pinheiro, outros cinco brinquedos do Parque também estão nas mesmas condições do Twister. O Mutirama foi fechado no dia do acidente, em 26 de junho deste ano. Ainda não há previsão para reabertura. “Esse laudo vai embasar o indiciamento de todos os envolvidos no acidente”, disse o delegado.
O presidente da Agência Municipal de Turismo, Eventos e Lazer (Agetul), Alexandre Magalhães, e o supervisor do Mutirama poderão ser responder pelo acidente e serem acusados de lesão corporal de natureza grave multiplicado pelas vítimas que sofreram algum ferimento. Além deles, outras pessoas poderão responder pelos mesmos crimes.
De acordo com a Polícia Técnico-Científica, foi feita a vistoria de todos os componentes do brinquedo; levantamento fotográfico e topográfico da estrutura, inclusive com utilização de drone; testes de movimento da parte do eixo remanescente na peça giratória; desmontagem detalhada de todos os componentes do brinquedo; recolhimento para análise da parte do eixo remanescente na peça giratória.
Com isso foi constatado que a peça giratória estava de forma desordenada e instável; além de haver uma fratura no eixo central que sustentava a peça giratória e diversos assentos danificados. “A peça giratória ficou inclinada, porque tomou para a região leste. Alguns assentos atingiram a plataforma. No caso da senhora que se feriu gravemente, teve a perna pressionada entre a plataforma e a parte inferior do assento”, disse o gerente do Instituto de Criminalística, Rodrigo Irani.
“O acidente poderia ser pior se tivesse tombado para o lado onde estava a fila de pessoas esperando para brincar, inclusive pessoas com menos resistência e mais baixas [como crianças] e poderia ter atingido áreas nobres do corpo”, ressaltou.
Diversas irregularidades também foram encontradas como os fechos dos assentos, que eram improvisados com uma espécie de barbante. “Esse brinquedo gira em uma frequência de aproximadamente 10 rotações por minuto, que é uma velocidade angular razoável. Uma improvisação dessa pode gerar consequências se a pessoa se desprender”, afirmou o gerente.
“Retiramos o eixo que ficou preso à peça giratória. Ele foi encaminhado para exames e, em seguida, analisamos o sistema de rolamento. Eram dois rolamentos presos ao eixo, que faziam a ligação do eixo fixo à peça giratória. A parte de lubrificação não estava inadequada. O eixo estava girando livremente lá dentro, então descartamos a possibilidade de algum travamento do sistema de rolamento”, concluiu o perito.
A peça foi encaminhada para o laboratório químico, onde foi identificada a composição do material. Para a caracterização do material houve a necessidade de pedir auxílio da Universidade de Brasília, onde foram feitos os exames de metalografia; dureza de brinell; microdureza; microscopia eletrônica de varredura; microssonda eletrônica com detector de eletroscopia de energia dispersiva de raio-x.
“Todos esses exames comprovaram que a composição do material era aço 1020, isso significa que esse eixo não era para ter sofrido essa ruptura, se fosse levado em consideração a composição, porque o aço 1020 é um aço de muita ductilidade e muita resistência às fadigas. A partir disso, começamos a caracterizar a fadiga, que tinha sinais de catástrofe. Ou seja, realmente rompe a estrutura. Também foi observada a presença de oxidação, que são as partes em marrom, o que significa que essa fadiga ocorria há algum tempo”, informou a perito Sofia.
Os sinais característicos da fadiga são: marcas de praia e ruptura catastrófica; se desenvolve a partir de uma trinca; carregamentos cíclicos, esforços repetitivos; surge durante os esforços ou na manufatura do material; se desenvolve em locais de concentração de tensões; demanda milhares de ciclos de operações.
“O cálculo do tempo de desenvolvimento de uma trinca até a ruptura catastrófica é basicamente estatístico, não é determinístico. Não temos como determinar de maneira exata. Podemos falar que existem alguns cálculos que aproximam. Podemos falar que demora muitos anos. Na verdade, esses anos refletem nos ciclos de operação do brinquedo. A cada volta que o brinquedo dá em torno do eixo, há um pequeno milimétrico desenvolvimento da trinca. Se ele faz isso durante muitos anos, obviamente essa trinca vai aumentar”, disse Rodrigo Irani.
O brinquedo Twister foi inspecionado pela empresa JoviTec em 2011, que apontou uma trinca no eixo central. No relatório há a informação de que foi realizado exame de ‘líquido penetrante’, e que os exames revelaram que o eixo apresentava porosidade superficial da trinca de 108 milímetros. “Observem que o relatório teve resultado nível A, que significa aprovado”, destacou o gerente do Instituto.
À época, o presidente da Agetul, Alexandre Magalhães, enfatizou a competência do engenheiro responsável pela manutenção dos brinquedos do Mutirama. “Não, estava (irregular) através de um contrato. Ele estava através de outro contrato feito em nossa gestão. Ele só não estava registrado no CREA. Engenheiro, mecânico que presta serviço há 15 anos para o Parque Mutirama, um excelente profissional. O que temos que preocupar não é a questão de o engenheiro estar registrado ou não, temos que preocupar em mudar o protocolo de segurança do Parque, é fazer uma revisão. Essa é nossa preocupação”, declarou em 27 de julho.
A Prefeitura de Goiânia divulgou nota nesta quarta-feira (27) para informar que não se pronunciará até o fim das investigações e a conclusão do inquérito policial. Além disso, a administração municipal disse que continua colaborando com as investigações e “não se furtará a tomar todas as providências efetivamente necessárias”.
A Prefeitura de Goiânia, por meio da Agência de Turismo e Lazer, esclarece que vai aguardar o fim das investigações e a concomitante conclusão do inquérito para se pronunciar a respeito do teor do laudo pericial, apresentado nesta manhã à autoridade policial responsável pelo caso. Informa, ainda, que continua colaborando com as investigações e não se furtará a tomar todas as providências efetivamente necessárias, inclusive para reabertura do parque e o amparo às vítimas.
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