Mais um caso trágico mobilizou o Brasil na última semana. A vereadora Marielle Franco foi assassinada a tiros no bairro do Estácio, no Centro do Rio de Janeiro (RJ), enquanto retornava de um evento que ocorria também na região central. Algumas horas após a execução, já haviam diversas mensagens preconceituosas e inverídicas disponíveis na internet – as fake news –, que se espalharam na velocidade de um clique, fato que reforça ainda mais a importância de validar informações antes de serem propagadas.
Bruno Pena, advogado e professor de Marketing Político do IPOG, reforça que embora o termo “fake news” seja de certa forma recente, a prática é antiga. Antes se dava de boca em boca, depois por pichações em muros, ou panfletos apócrifos. Com o advento da imprensa, as notícias falsas chegaram a se infiltrar nos mais diversos órgãos de comunicação. Já a internet e as chamadas redes sociais deram às fake news uma velocidade e amplitude jamais vistos anteriormente. Então, de forma resumida, o que hoje se intitula de “fake news, antes era chamado de boato”, explica.
O especialista conta que a difusão de inverdades ocorre há muitos anos, de forma arquitetada, com o objetivo de causar impacto na opinião pública, é feita das mais diferentes formas e métodos. Com o alcance da internet e a velocidade da informação, somados ao fato de que o povo brasileiro tem pouco interesse na origem e fundamento da informação, o impacto pode ser desastroso.
“Sobre esse aspecto, vale relembrar o caso da Fabiane Maria de Jesus, que foi espancada e morta no Guarujá, no litoral de São Paulo, ao ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças que praticava rituais de magia negra, após um boato difundido na internet”, exemplifica Bruno.
Diante desse fato, o professor de Marketing político reforça que é preciso ter cuidado e orienta que um dos meios mais seguros de não propagar dados errados é averiguar a origem e o fundamento da notícia. Se as pessoas não compartilham, a corrente se interrompe e o boato perde força. “Na maioria das vezes esses boatos ou “fake news” não resistem a alguns minutos de busca no Google”, alerta.
Sobre a propagação de informações falsas, Bruno conta que é fácil identificar as pessoas que as disseminam, já as pessoas que as postam, nem tanto, especialmente em redes como o whatsapp. Geralmente a origem destes boatos são de perfis falsos, gerados em servidores ou números de celulares habilitados no exterior.
Algo que também é mencionado pelo especialista diz respeito a punição. Ele relata que a legislação brasileira é muito complacente com a mentira. Ainda não existem mecanismos específicos para coibir esse tipo de prática. Nesse sentido, a disseminação de notícias falsas é configurada como crime contra a honra, seja como difamação, injúria ou até mesmo calúnia.
“Contudo, há algumas iniciativas legislativas em tramitação no Congresso Nacional, como a de autoria do Senador Ciro Nogueira (PP-PI), que prevê detenção de seis meses a dois anos, além do pagamento de multa, para quem divulgar “fake news” relacionadas à saúde, à segurança, à economia, ao processo eleitoral ou que afetem o interesse público, o que já tem levantado o debate a respeito da liberdade de imprensa e de opinião”, informa.
Há algumas maneiras de desestimular as chamadas “fake news”. Bruno cita como exemplo o fato de notícias, vídeos e postagens, com grande número de acessos, gerarem rendimentos chamativos, que incentivam a fabricação deste tipo de conteúdo.
Em fevereiro de 2017, a Folha de São Paulo publicou uma reportagem sobre páginas que faturam com informações falsas no Facebook. Segundo a matéria, há sites que rendem algo em torno de R$100 mil a 150 mil por mês com sensacionalismo na internet. As grandes empresas de tecnologia já desenvolvem ferramentas para dificultar a disseminação das fake news.
O Google anunciou que irá bloquear um de seus tipos de publicidade automática em sites ou canais do YouTube que fizerem esse tipo de “jornalismo”. E também irá minimizar as chances de esses sites ou canais serem encontrados pela busca. Já o Facebook oferece, em alguns países, uma ferramenta que avisa o usuário se ele estiver lendo uma notícia com fonte pouco confiável. “Acho que isso já é um bom começo”, considera o especialista.
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