Os investidores locais e estrangeiros se tornaram a principal fonte de financiamento das empresas no primeiro semestre do ano, em um contexto de participação cada vez menor do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nos empréstimos a companhias.
Dados da Anbima (associação das entidades do mercado de capitais) mostram que as companhias captaram R$ 104,4 bilhões no mercado de capitais no primeiro semestre, aumento de 30,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 228 operações de janeiro a junho, entre emissões de ações, debêntures (dívida emitidas) e outros instrumentos.
No BNDES, que só disponibiliza dados até maio, os desembolsos somaram R$ 27,7 bilhões. É uma queda de 13,2% em relação ao mesmo intervalo de 2016. Como comparação, no mercado de capitais o volume de emissões no mesmo período somou R$ 87,9 bilhões.
“Houve uma mudança de atuação do BNDES como protagonista quase único do financiamento de longo prazo, e o objetivo é que os novos projetos de infraestrutura de longo prazo tenham participação do mercado de capitais”, afirma José Eduardo Laloni, diretor de mercado de capitais da Anbima. “É um processo contínuo, não é uma coisa que acaba ou que a gente tenha uma meta de curtíssimo prazo.”
As emissões de títulos de renda fixa no exterior foram a principal forma de financiamento escolhida pelas empresas no primeiro semestre, somando R$ 51,3 bilhões. “A visão sobre o Brasil continua positiva. Foi criado um ambiente propício para que os investidores internacionais continuassem com apetite pela renda fixa brasileira”, afirma o diretor da Anbima.
A crise política que atingiu o país em maio com a delação do empresário Joesley Batista não assustou os investidores, afirma Laloni. “A partir de meados de maio, com os desdobramentos na parte política, o mercado mostrou bastante força e confiança no futuro. As emissões de renda fixa e variável voltaram ao seu estágio anterior, com bancos verificando as condições de mercado e indo atrás de investidores para operacionalizar as ofertas”, ressalta.
Segundo ele, nas próximas semanas novas operações de financiamento devem ser anunciadas.
“Até onde a gente consegue enxergar, a previsão é de normalidade no mercado. As emissões continuam a sair. O mercado parece que está funcionando de forma normal. Temos que crescer, fazer infraestrutura, e é com esse cenário de cautela que a gente consegue enxergar o futuro”, avalia Laloni.
No mercado de renda fixa doméstico, as operações totalizaram R$ 39,9 bilhões. As debêntures responderam por R$ 24,3 bilhões desse total. Segundo Laloni, houve um alongamento do prazo das dívidas emitidas. Antes, havia uma concentração de emissões em prazos até 3 anos. Agora, os títulos com mais de dez anos de vencimento estão tendo aceitação maior no mercado.
“Há um aumento do otimismo, em que os investidores estão aceitando maiores prazos e o emissor também está tendo mais coragem de alongar os prazos das operações e eventualmente tomar mais financiamento para novos projetos”, ressalta.
A recuperação também foi percebida na renda variável. O volume de emissões de ações no primeiro semestre do ano foi de R$ 13,1 bilhões, alta de 276,3% em relação ao mesmo período do ano passado e maior que 2016 inteiro. (Folhapress)