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Categorias: Especial
| Em 7 anos atrás

Cansaço e imprudência deixam sequelas na vida de motociclistas

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Milton Domingos. 36 anos. Ocupação: Garçom. Esposo. Pai de duas filhas. Ele faz parte de uma dura e cruel estatística. Milton foi uma das 2203 vítimas de acidentes de motos atendidas no Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO).

Atualmente, Milton recebe cuidados no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER). O episódio trágico trouxe importantes lições e foi o início de uma nova vida para ele.

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De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (DETRAN-GO), muitos acidentes estão relacionados com o preparo do condutor.

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O acidente de Milton ocorreu em 29 de maio de 2017. Era madrugada, ele havia trabalhado como garçom durante toda a noite anterior. Estava exausto.

Milton subiu na moto, retornava para casa dele. Fazia o trajeto Goiânia-Senador Canedo. No meio do caminho, o olho pesou. Apesar da luta com o cansaço, não resistiu, cochilou e ocorreu o acidente.

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“Eu estava saindo do serviço, voltando para casa quando tudo ocorreu. Foi muito rápido, infelizmente não vi nada, só vi depois que estava no chão mesmo. Eu cochilei”, disse o garçom ao relatar o acidente que lhe causou muitos ferimentos.

Milton faz parte de uma realidade perigosa. Segundo a titular da Delegacia de Crimes de Trânsito (DICT), Nilda Andrade, vários acidentes têm sido registrados com garçons na capital.

“Eles trabalham demais, saem de uma jornada exaustiva, vão embora e acabam se envolvendo em acidentes”, explicou a policial. De acordo com a delegada, imprudência, despreparo e cansaço estão entre as principais causas de acidentes de motos em Goiânia.

Marcas para a vida

Milton relatou que o diagnóstico inicial não havia sido animador. Houve grande risco de não mais conseguir andar. Passados alguns meses, ele já consegue se locomover usando um “andador”.

“Estou aqui lutando e vou voltar aos meus movimentos e ter um futuro melhor com a minha família e dar o que nunca pude, que é estar mais presente com a minha esposa e minhas filhas”, detalhou.

O supervisor da área Multiprofissional de Internação do CRER (unidade referência em reabilitação de poli traumatizados), Eduardo Carneiro, destaca que pacientes e familiares são acompanhados e levados a entender que desde o início do tratamento é apontada uma perspectiva de alta.

“Ele precisa entender que há uma vida lá fora. Hoje temos condições de direcionar melhor a alta dos pacientes, se houver dificuldades, trabalhamos com o serviço social, com a psicologia”, afirmou.

Psicológico

Para Milton, a grande dificuldade em um processo de recuperação é o psicológico. Antes ele era uma pessoa com total autonomia para fazer qualquer tipo de movimento físico. Hoje depende da ajuda de médicos e da família até mesmo para atender as demandas mais básicas de uma pessoa.

“Uma pessoa que anda normalmente, e depois se encontra numa cadeira de rodas ou numa na cama, em que precisa de ajuda para comer, para até mesmo fazer as necessidades, e te limpar, é triste. O corpo não funciona como antes, o seu psicológico mexe bastante, precisa ter um controle emocional, pensar na família, manter a cabeça no lugar”, contou.

Frota de motos

Goiânia tem uma grande frota de motocicletas. De acordo com o (DETRAN-GO), em 2017, são aproximadamente 296 mil veículos de duas rodas, entre motocicletas, motonetas e ciclomotores.

Dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas e Bicicletas (Abraciclo), as vendas de motocicletas de baixa cilindrada (até 160 cm³) representam mais de 80% dos negócios anuais do setor.

Para o gerente de Fiscalização e Aplicação de Penalidades do DETRAN-GO, coronel Júlio César Mota, algumas condições são favoráveis ao grande número de motos em Goiânia. Ele argumentou que um dos fatores é a fuga do transporte coletivo.

Segundo dados do Sindicato das Empresas de Transporte (SET), o número de passageiros nos ônibus da Grande Goiânia caiu em 26% nos últimos oito anos. Júlio César Mota destaca que muitos, como Milton, encontraram a motocicleta como uma alternativa para se locomover no dia a dia.

Saúde Pública

Acidentes de trânsito envolvendo motociclistas não são tratados apenas como uma política de Trânsito, mas sim de Saúde Pública. Vários pacientes que passam pelo HUGO se acidentaram ao trafegar numa motocicleta. Milton foi uma das 2203 vítimas atendidas na unidade até o mês de julho de 2017.

Milton se recupera e hoje já consegue dar os primeiros passos com a ajuda da equipe do CRER. Mas várias pessoas não tiveram o mesmo privilégio que ele e amargaram uma dura sorte.

De acordo com dados do Hospital de Urgências de Goiânia, 30 motociclistas acidentados tiveram membros amputados e nove não resistiram aos ferimentos e morreram após dar entrada no HUGO.

Pelo menos 10 pessoas em média, chegam por dia a esta unidade de saúde vítimas de acidente de moto. Boa parte dos pacientes do Hospital de Urgências de Goiânia são pessoas que sofreram alguma grave lesão, após acidente de trânsito, destes 65,35% dos atendidos no Hospital são motociclistas.

O supervisor da área Multiprofissional de Internação do CRER, Eduardo Carneiro, destacou alguns dados. Ele ressalta que 40 % dos pacientes atendidos da unidade, são vítimas de acidentes de trânsito. Deste total, 65% são motociclistas.

Eduardo reforça que o ideal é evitar o acidente devido as duras consequências que uma pessoa pode enfrentar, sequelas que ficam marcadas na vida de uma pessoa, como é o caso de Milton.

“O que a gente acompanha aqui são lesões permanentes, algumas irreversíveis, algumas completas, não ter a possibilidade de andar, pode perder a memória, mudar o comportamento, então o melhor é prevenir”, destaca Eduardo.

Causas de acidentes

De acordo com a titular da Delegacia de Investigação de Crimes de Trânsito, Nilda Andrade, várias são as causas de acidentes que envolvem motociclistas.

Ela explicou que parte dos motociclistas trafega em excesso de velocidade, em corredores, no meio de outros veículos, mesmo sabendo que não há espaço.

A delegada ressaltou ainda que há vários casos em que os condutores caem das motocicletas e são atropelados por caminhões. Nilda também informou que há a preocupação quanto as ultrapassagens pela direita e em conversões.

Outro motivo relevante é o cansaço dos condutores de motos no momento do acidente. A delegada destacou que entre 1º de janeiro de 2013 a quatro de setembro de 2017, foram 736 acidentes com vítimas fatais envolvendo motociclistas. A maior parte com idade entre 26 e 35 anos.

“As principais causas que constatamos nos inquéritos são: excesso de velocidade, o desrespeito da sinalização nos cruzamentos, embriaguez e a própria distração do condutor. Fizemos um levantamento das causas e horários e os principais dias são: sextas, sábados e domingos, das 17 horas às 8 horas. A noite são acidentes com maior gravidade”, destacou.

Segurança sobre duas rodas

O gerente de Fiscalização e Aplicação de Penalidades do DETRAN-GO, Júlio César Mota, explicou que no dia a dia, são encontrados vários motociclistas, os quais trafegam por ruas e avenidas de Goiânia sem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), o que pode ser um risco para quem conduz a moto e ainda para outros atores no trânsito, como motoristas e pedestres.

“A pessoa pensa que andar de moto acaba saindo mais em conta do que andar de ônibus e que pode ter mais mobilidade. Mas, de forma equivocada não faz a conta para tirar a habilitação. Acaba por correr riscos. Primeiro de encontrar com a fiscalização, segundo porque ao não ter domínio das regras de trânsito, pode se envolver em acidentes”, afirmou.

Os custos para tirar uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) variam bastante. No DETRAN-GO, para tirar uma CNH na categoria A (para motos) é preciso pagar uma taxa de R$ 303,13 para fazer o requerimento do processo.

Para inclusão do RENACH: R$ 46,63;1ª via da Categoria A ou B (carro ou motos): R$ 189,87;1ª via da Categoria A e B (carros e motos): R$ 379,74;Licença para Aprendizagem: R$ 39,98; Agendamento Teórico: R$ 26,65, além de R$ 579,00 (Valor em algumas autoescolas) em Categoria A (Moto): 45 aulas teóricas, 20 treinos práticos e aluguel do veículo.

Já se for pego sem andar com uma CNH, o valor desta multa hoje é de R$ 880,41, mais 07 pontos na carteira. A infração é considerada gravíssima, e ainda o veículo pode ser apreendido pela equipe de fiscalização e pode pagar por diárias nos pátios do DETRAN, em Goiás.

O diretor geral do HUGO, Ciro Ricardo Pires de Castro, trabalha desde o início do funcionamento da unidade, em 1991. Ele explicou que inicialmente era gravíssima a condição dos motociclistas que chegavam ao hospital, pois muitos não usavam capacete.

Com o rigor das leis de trânsito e obrigatoriedade do uso dos equipamentos de proteção individual, a gravidade de alguns tipos de traumas hoje é menor. Ciro Ricardo reforçou que o capacete ajuda a proteger, mas nada adianta se o motociclista trafegar em excesso de velocidade e sofrer um acidente.

“Todos os elementos de proteção, entre eles o capacete, protege até numa velocidade de 70 ou 80 km/h. O capacete foi idealizado para proteger grandes impactos na queda. Se um acidente for a 160 km/h, não há capacete que resista”, explicou.

Valorização da vida

Os números são alarmantes e preocupam as autoridades. Para evitar a grande quantidade de acidentes, motoristas, motociclistas, ciclistas, pedestres devem promover um trânsito mais humano, com respeito ao próximo, valorizando a vida nas vias públicas.

“Cada um deve respeitar seu espaço. Por exemplo, o semáforo está amarelo e o motociclista acha que há um delay para o sinal verde e dará tempo para ele passar, porém os outros condutores podem já sair arrancando. Este minutinho que ele acha que vai ganhar, pode custar a vida, ou ter duras consequências, tendo prejuízos irreparáveis”, afirmou o gerente do DETRAN-GO, Júlio César Mota.

A história de Milton foi contada pelo Diário de Goiás. Ele tem a consciência de que para pilotar uma moto, não pode ser de qualquer jeito. Milton hoje sofre as consequências de um acidente.

Milton reconhece que uma motocicleta tem inúmeros pontos positivos, mas por outro lado é um veículo em que o condutor fica em uma situação mais vulnerável, em que há a necessidade de maior atenção.

“Já andei muito de moto. É um veículo sem conforto, mas é um veículo mais ágil, mas tem pouca segurança. É preciso ter cuidado ao se colocar numa condição de risco, por exemplo, ao tentar fazer uma ultrapassagem. O carro tem uma proteção maior e a moto não. De moto, a gente pode cair, bater a cabeça, afetar a coluna, e ficar nesta condição como estou”, declarou.

Nilda Andrade da Delegacia de Investigação de Crimes de Trânsito destacou que muitas pessoas vão à unidade policial registrar boletins de ocorrência, para que depois faça a solicitação do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre, mais conhecido como DPVAT.

A delegada disse que os motociclistas chegam em um estado crítico, que naquele momento não questionam tanto quem está certo ou errado, mas se sentem culpados por estarem capacitados de exercer suas atividades e estão atrás de um seguro para dar um alivio financeiro.

“Não vivemos em país de guerra para termos tantas pessoas com sequelas. É preciso ter melhor sinalização, melhor orientação para reduzirmos as quantidades de mortes”, afirmou a policial.

Reflexão para a vida

A Semana Nacional do Trânsito deste ano teve início na última segunda-feira (18). Ela convoca a população a refletir sobre suas atitudes. Com o tema “minha escolha faz a diferença no trânsito”, os órgãos públicos e entidades da sociedade civil têm procurado chamar a atenção dos cidadãos que, por imprudência e desobediência à legislação contribuem para os alarmantes números de mortos e feridos.

Estudo feito pela Secretaria Municipal de Trânsito de Goiânia (SMT) indica que, no ano passado, 126 motociclistas morreram em acidentes de trânsito, ou seja, a cada três dias, há uma vítima fatal que trafegava de moto.

Entre os principais pontos de acidente listados estão as avenidas Perimetral Norte, T-9, Marginal Botafogo e o perímetro urbano da BR-153 e das rodovias GOs 060 e 070. Os resultados foram cruzados com os bancos de dados da Saúde, da Segurança Pública e dos órgãos de trânsito.

“Algumas medidas começaram a ser tomadas para a melhoria do trânsito na capital, entre elas a recuperação da sinalização vertical e horizontal, fiscalização, melhor monitoramento do trânsito. Queremos recuperar a sinalização e aumentar as campanhas educativas na capital. Não se pode admitir, com esses dados, tantas mortes”, ponderou o secretário Municipal de Trânsito, Fernando Santana.

Já nas estradas, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), somente no primeiro semestre deste ano, 850 pessoas morreram e mais de 15 mil ficaram feridas em acidentes que envolveram motocicletas em rodovias federais de todo o país.

Os ocupantes dos veículos de duas rodas representam um terço das mortes nas BR’s brasileiras. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, quando uma motocicleta participa de um acidente, em 33% dos casos ocorrem mortes, em 47% pessoas ficam feridas e, em apenas 3% das ocorrências os danos são somente materiais.

Vantagens e cuidados

A motocicleta é um veículo muito interessante no trânsito de uma cidade tão grande, como Goiânia. Confira algumas vantagens:

  • Evita filas no trânsito (enquanto os carros estão parados, a moto pode passar em espaços menores e escapar de engarrafamentos).
  • Menor consumo de combustível (Algumas motos de 125 cilindradas fazem em média 40km/l. Moto e posto de gasolina não é uma combinação muito comum).
  • Menos poluente (como gasta menos combustível, também polui menos o ar)
  • Menor preço (uma moto é mais barata do que um carro popular- mas não se esqueça de primeiro tirar a Carteira Nacional de Habitação para a categoria A- Motos).
  • É fácil de estacionar (por ser um veículo menor, é mais fácil de achar uma vaga para estacionar)

Acima estão descritas algumas vantagens, mas para sair por aí numa moto, é de muita importância seguir alguns cuidados básicos

  • Use o capacete (É recomendável que o equipamento seja de cor clara e deve possuir adesivos refletivos aprovados pelo INMETRO. A viseira precisa estar abaixada. Se estiver aberta, precisa usar óculos especiais. O motociclista precisa ainda estar atento ao ajuste das tiras de regulagem abaixo do queixo).
  • Respeitar as regras de trânsito (Não avance o sinal vermelho, parada obrigatória ou preferencial. Respeite o limite de velocidade. Evite ficar “costurando” entre os carros, pois pode potencializar acidentes. Não trafegar na calçada).
  • Ligar os faróis (É essencial que o motociclista trafegue com o farol ligado, mesmo durante o dia).
  • Transitar com atenção (Cuidado com todos os atores do trânsito, principalmente ciclistas e pedestres, pois são mais frágeis.
  • Usar os dois freios (Na frenagem o peso da moto recai sobre a roda dianteira, o motociclista corre o risco de perder o controle do veículo).
  • Inspecionar a moto antes de sair (observe a calibragem dos pneus, se não está furado ou com algum objeto cortante. Confira se a corrente de relação não está frouxa ou apertada demais, o ideal é mantê-la em condições de lubrificação. Verifique ainda o sistema elétrico, freios e combustível).

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