A candidata a governadora de Goiás pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro), Marta Jane, lança uma promessa polêmica se for eleita: a gratuidade no sistema do transporte coletivo. No entanto, não informou qual seria a fonte de recursos, caso seja eleita. O PCB, ao contrário dos outros partidos, que estão espalhados pelos vários municípios goianos, tem apenas 3 diretórios municipais. Sem estrutura, sem ampla base política, Marta Jane afirma, ainda, que o partido não aceita doação de campanhas de empres. Nesta entrevista, concedida à Rádio 730, a Rubens Salomão, Vassil Oliveira e Cléber Ferreira, a candidata deixa claro que disputar o cargo de governadora é uma missão do partido, sem muitas pretensões.
Rubens Salomão: Como você reagiu ao ver os números da pesquisa Serpes, em que você aparece com 1,6% de intenção de voto?
Marta Jane: Assim como em 2010, não fizemos neste ano de 2014 a pré-campanha e a divulgação de nomes. Existe uma quantidade significativa de pessoas que querem uma real transformação e não apenas uma mudança de governante. E este é o projeto que o PCB tem a apresentar à sociedade.
Cleber Ferreira: O PCB está presente em quantos municípios goianos?
Marta Jane: Hoje o PCB está presente em três municípios, com direção instituída, mas temos militantes em outras cidades. Desde 1992 o partido está se reorganizando do ponto de vista da existência orgânica. Estamos presentes em todos os estados do Brasil, mas não temos interesse em crescer a qualquer custo, sem uma linha política clara como vemos na maior parte dos partidos políticos. O PCB não é partido de aluguel, nunca foi e nunca será. Temos um projeto político e é a partir dele que nos organizamos nos estados e municípios. O PCB vai crescer conforme o convencimento político do nosso projeto.
Vassil Oliveira: O PCB já tem um projeto, um plano de governo disponível, por exemplo, na internet?
Marta Jane: Sim. Está disponível na internet, no site do PCB estadual e nacional. Os sites do partido trazem o debate político que o PCB tem feito, que é a discussão de um projeto de poder popular, que não pressupõe propostas apresentadas no processo eleitoral com medidas para a solução para dos problemas que a população enfrenta no dia-a-dia, como saúde, educação e transporte. Essas questões fundamentais não possuem alternativa nos marcos capitalista. Portanto, debatemos com a sociedade que é preciso um projeto anticapitalista para Goiás e para o Brasil. Mas isso não é novo. Desde 2010 não temos uma nova proposta, porque esse debate do PCB, em torno da efetivação dos direitos da sociedade, já existia e foi construído em parceria com outros partidos e organizações partidárias ou não que atuam na luta anticapitalista, ou seja, pela esquerda socialista.
Vassil Oliveira: Pontualmente, então, não serão apresentadas propostas?
Marta Jane: Apresentamos propostas pontuais sim, por exemplo, como a questão do transporte coletivo. Dentro dessa discussão específica, propomos a estatização do transporte público, o transformando em um direito básico, mantido pelo estado. Defendemos a gratuidade do serviço e a organização de conselhos populares para gerir o transporte. Mas quando discutimos o poder popular, significa a decisão das pessoas quando se trata de prioridade a ser implementada, ou seja, não é o governo que deve apresentar propostas para resolver o problema da população, mas os representantes devem ouvir a sociedade no sentido deliberativo. Nesse modelo de representação, em que o governante apresenta as propostas como solução, além de não serem inteiramente implementadas, não são suficientes para resolver o que é fundamental para garantir os direitos.
Cleber Ferreira: Enquanto os outros candidatos já divulgavam seus nomes em pré-candidaturas, o seu só foi apresentado na reta final. Não houve um erro estratégico?
Marta Jane: O PCB não aposta na lógica de personalização do processo eleitoral e da discussão política. Discutindo projetos para a sociedade, não apenas projeto eleitoral. Dentro dessa perspectiva, nós entendemos que não cabe o marketing pessoal. Inclusive, neste momento, poderíamos ter apresentado o nome de outra pessoa para trazer o projeto e debater com os goianos. Mas decidimos pelo mesmo nome apresentado em 2010, sem a intenção de focar no marketing pessoal.
Vassil Oliveira: Em todo caso, é preciso levar a sua mensagem e fazer a propagação do seu nome. Qual será a estratégia utilizada?
Marta Jane: Não fazemos campanha eleitoral com o mesmo recurso abusivo que as outras campanhas, principalmente as vitoriosas, utilizam. Estes recursos geram muito material e mídia paga, que podem desequilibrar o processo da discussão política. O PCB não utiliza também o recurso de empresas como forma de doação. Nossa estratégia eleitoral será apenas o espaço da mídia cedida obrigatoriamente e pela internet, para divulgar nossas ideias e projetos de transformação que já debatemos há tempo.
Rubens Salomão: Quais os fatores que fazem o governo do PCB diferente dos que já administraram o Estado, por exemplo, no que se refere à segurança pública?
Marta Jane: A segurança pública é um nó. Esse modelo de desenvolvimento em que vivemos coloca a segurança pública como um instrumento de repressão da população e dos movimentos sociais. A segurança passa a ser algo utilizado contra a maioria da sociedade, o que acaba gerando mais conflitos, e as pessoas passam a se sentir sufocadas pelo aparato policial. Vimos, por exemplo, em Goiás e outros estados do país, a forma com a qual o poder público reprimiu de forma violenta as manifestações que já estavam se manifestação contra a violência e ao não-direito. Entendemos que a segurança pública deve existir em defesa e não contra a população. As Polícias Militar e Civil matam a mesma quantidade de pessoas ou mais que as chamadas organizações criminosas. Essa lógica equivocada não pode continuar reprimindo a população, em sua maioria, pobres e negros. O índice de criminalidade e o medo das pessoas está aumentando cada dia mais. A população vai às ruas pedir punição para os crimes cometidos.
Cleber Ferreira: Quantos candidatos a deputados têm o PCB ou a chapa ou o PCB?
Marta Jane: Estamos apresentando neste processo eleitoral uma chapa composta pelo PCB e o PSTU, que indica o candidato à vice, o Felipe, uma candidata à deputada federal, a Bruna Venceslau, deputado estadual, Bernardo Bispo, que é um militante do partido e Antônio Vieira, um militante da luta dos trabalhadores da educação, candidato ao Senado.
Edição: Altair Tavares