Aparecida de Goiânia

Camila Rosa vai levar inquérito policial para a Justiça Eleitoral: “Violência política deve ser criminalizada” 

Se tem algo que a vereadora de Aparecida de Goiânia Camila Rosa, do PSD, tem feito desde o dia 2 de fevereiro é confiar na Justiça. De lá para cá, viu seu nome ser estampado em diversos jornais da Região Metropolitana e do Brasil. Ela teve seu microfone cortado em uma discussão sobre cotas femininas na política. O presidente da Câmara, André Fortaleza (MDB), discordava da política pública. O assunto ganhou proporções para além do Parlamento e nesta segunda-feira (21/03), um inquérito aberto pela Polícia Civil para investigar o caso foi encerrado.

A conclusão ao finalizar o inquérito que a delegada Luiza Veneranda Pereira Batista chegou foi que de fato houve crime de violência política ao cortar o microfone da única mulher eleita naquele parlamento. Camila Rosa é uma das 9.196 vereadoras eleitas em 2020, o que representa apenas 16% de todo o universo político de parlamentares nas Câmaras Municipais. No mesmo pleito, foram eleitos 48.265 homens.

“Antes de tudo eu gostaria de registrar e dizer que eu acredito na Justiça e que eu esperava que esse fosse o desfecho natural mesmo porque essa é a verdade dos fatos, ou seja, houve violência, por mais que o presidente tenha tentado negar fatos. As cenas do vídeo falam por si. Elas são a prova maior e isso é apenas uma etapa do processo”, destacou a vereadora ao Diário de Goiás.

Para a vereadora, o fato deve ir além das notas de repúdio. “Agora esse inquérito vai ser encaminhado à Justiça Eleitoral para robustecer o outro. Ou seja, a outra denúncia que eu fiz na ouvidoria do TRE. E o que eu espero que ele seja exemplarmente punido conforme a lei para que isso sirva de exemplo e encorajar outras mulheres que sofrem todos os tipos de violência a denunciar. Qualquer fato de que todo tipo de violência ela não seja somente abominada, mas também criminalizada”, explica.

Parlamentar em primeiro mandato, mesmo antes do episódio, já via seu nome ligado à uma possível candidatura nas eleições em 2022. O presidente estadual da legenda, Vilmar Rocha, já trabalhava numa plataforma que a colasse numa cadeira em Brasília na Câmara dos Deputados. Agora, mais do que nunca, ela segue trabalhando para fortalecer essa candidatura. 

Relembre o caso

O debate entre os vereadores na Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia começou no começo de fevereiro, quando André Fortaleza rebateu um post do Instagram da parlamentar. Na postagem, Camila Rosa afirmou que usou de seu tempo de fala no retorno das sessões, na terça-feira (1º), para “defender a importância da mulher na política e os direitos de todas as minorias que são rejeitadas e discriminadas na sociedade” e completou escrevendo: “Não toleramos mais preconceitos! Vou lutar até o fim pela igualdade e o respeito. O espaço político é de todos”.

O presidente da Câmara, na sessão desta quarta-feira, citou o post e afirmou: “Não sou contra a classe feminina, sou contra cota, contra oportunismo, ilusionismo. Por mim, não adianta, pode ser mulher, homem, homossexual”. Fortaleza disse ainda que não é machista, mas é “contra fake news” e também não é favorável às cotas femininas nos partidos.

“Eu não sou machista, sou contra fake news. Isso, para mim, é uma fake news. A classe feminina é importante para todos nós. Temos mães, irmãs. Não me vi ser preconceituoso ou machista porque falei que sou contra cota. Só falei que os direitos devem ser iguais, e os deveres também. Se não tem postura, não tem caráter, para mim não importa se é mulher o homem. Distorcer minha fala, não. Sou responsável pelo que falo. Não é porque é mulher que tem que sair atropelando todo mundo”, discursou.

A vereadora Camila Rosa pediu questão de ordem e foi atendida. A parlamentar rebateu o colega. “Não disse que o senhor era contra cotas. Se o senhor entendeu isso, a carapuça pode ter servido. O senhor sempre fala de caráter, transparência, parece que o senhor tem um problema com isso”, disse.

Nesse momento, se iniciou um bate-boca e Fortaleza ordenou que o microfone da vereadora fosse cortado. “Quer fazer circo, não vai fazer aqui não”, disse. A parlamentar, com o microfone desligado, seguiu reclamando da atitude do presidente, que afirmou: “Se acha que fiz algo errado, vá na delegacia e registre um B.O.”.

Depois que os ânimos se acalmaram, o presidente devolveu a palavra à vereadora. Ela, chorando, defendeu que as minorias representativas ocupem espaços de poder como modo de transformação social, além de reclamar da atitude do colega.

“É isso que fazem com as mulheres na política. É por isso que precisamos procurar nossos direitos. Não é uma questão de correr atrás de cota. A política é um espaço machista. No início da política, como eu disse ontem, só homens brancos e de alto poder aquisitivo. É necessário que nos espaços de poder estejam mulheres, negros, índios e pessoas da comunidade LGBT, que representam essas classes que sofrem a dor do preconceito”, frisou.

Camila Rosa ainda reforçou que não atacou Fortaleza no post e o acusou de querer atingir o secretário de Articulação Política, Tatá Teixeira, atacando-a. “Eu não disse que o senhor era contra cotas. É o senhor que está dizendo. Agora, o senhor querer me desmoralizar por um motivo que a gente sabe qual é – o senhor não quer me atacar, quer atacar o secretário Tatá (Teixeira, de Articulação Política). Eu não quero estar nessa briga de vocês. Não venha o senhor querer me desmoralizar. Não vou aceitar isso”, disse.

Retratação

Após a repercussão com relação ao ocorrido, André Fortaleza publicou uma nota de esclarecimento com o pedido de desculpas às mulheres de Aparecida de Goiânia, com a ressalva de apoiar a classe feminina. “De forma sincera, não esperava tamanha repercussão por ter cortado o microfone de uma parlamentar durante um debate acalorado”, escreveu o parlamentar. “Em respeito a todas as mulheres deste município, me sinto na obrigação de me desculpar e venho por meio deste, também, esclarecer meu total apoio para a classe feminina e reforçar que palavras nunca vão ter o mesmo valor de ações”, acrescentou.

Camila ressalta, entretanto, que a ação não foi estendida à ela. “Ele não me procurou, nem ninguém da sua assessoria. Eu tomei conhecimento através das redes sociais que eles tinham soltado uma nota pedindo desculpas às mulheres. Mas direcionado à minha pessoa, não disseram nada”, ponderou.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.

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