ALEX SABINO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – De toda a mística em torno do Boca Juniors (ARG), adversário do Palmeiras na semifinal da Libertadores nesta quarta (24), La Bombonera é parte central. Além do slogan que o clube é “a metade mais um” (de torcedores na Argentina), há o estádio, atração turística.
Encravado no bairro pobre de La Boca, a três minutos a pé do Caminito, é importante fonte de receitas para a região e o clube. Mas no que depender do presidente Daniel Angelici, isso está com os dias contados.
Desde 2011, quando assumiu o cargo, o mandatário do Boca Juniors não defende a antiga ideia de reformar La Bombonera. Ele quer uma nova e moderna arena.
“Eu nunca deixei de acreditar que o clube precisa de um estádio para 80 mil pessoas. Sempre acreditei nisso. Há um envolvimento emocional com La Bombonera, mas o Boca precisa de um novo estádio”, defende.
É ideia que encontra forte oposição dentro do clube e entre torcedores. Estes não desejam perder a mística do local batizado com esse nome porque lembra o formato de uma caixa de bombons, com arquibancadas íngremes e acústica que ajuda a empurrar os jogadores em campo.
Angelici procurou apoio até do presidente do país, Maurício Macri, ex-presidente do Boca Juniors. Não recebeu nem sim, nem não. Com a crise econômica nacional, o político teme se envolver em um assunto tão delicado.
Para evitar a construção de nova arena, grupo de conselheiros do clube se reuniu neste ano com o arquiteto esloveno Tomaz Camernik. Ele apresentou projeto que prega a demolição da parte lateral, onde estão os camarotes, a construção de mais arquibancadas e fechamento do anel superior e inferior do estádio, com cobertura. Isso acrescentaria 15 mil pessoas à capacidade atual de 49 mil.
Este é apenas o último de dezenas de projetos para reformar La Bombonera apresentado nas últimas décadas. A diferença da ideia de Camernik é que não seria necessário comprar todos os terrenos ao redor do estádio, o que sempre encontrou oposição de moradores que não desejam vender suas casas.
Segundo o esloveno, 19 residências teriam de ser adquiridas. O Boca poderia continuar atuando no estádio durante as obras, uma das grandes preocupações do técnico Guillermo Barros Schelotto.
Dirigentes e sócios foram a uma reunião na embaixada eslovena em Buenos Aires e se empolgaram com o projeto.
Camernik é discípulo de Viktor Sulsic, o arquiteto responsável pelo projeto original do estádio.
“La Bombonera é uma maravilha da arquitetura. Não podemos mexer nela”, disse o esloveno que quer reformar o campo do Boca.
O problema do clube é ter 49 mil ingressos a cada partida, mas 200 mil sócios, dentro de diferentes programas e preferências na compra de entradas. Isso faz surgir um lucrativo mercado para cambistas, controlados pela 12, a maior organizada do Boca.
Dirigentes gostaram da ideia de Camernik, mas Angelici, não. Ele disse que o projeto apresentado possui “erros de cálculo” e que não pode ser utilizado. Ele insiste na necessidade de construir uma nova e moderna arena, com shopping em anexo, para horror dos tradicionalistas.
O presidente citou como opções de locais a própria La Bombonera (apesar das dificuldades de espaço) ou o Complexo Pompillo, formado por terrenos que o clube possui em Ezeiza, região fora de Buenos Aires e próxima do aeroporto internacional.
Não há orçamento de quanto custaria a nova arena. A reforma proposta por Camernik sairia por cerca de R$ 250 milhões.
Para preservar La Bombonera, Angelici citou que o estádio poderia ter campo sintético e ser usado pela equipe reserva e categorias de base. Receberia também shows. Ele deseja que a última palavra seja dada pelos sócios, em uma votação ainda a ser marcada porque todos os planos ainda não são claros.
“Estou certo de que a melhor opção é um novo estádio. Mas não sou dono do Boca. Sou o presidente”, conclui.