A Caixa Econômica Federal resolveu seu problema de capital e tem mais propostas prontas de redução de custos para apresentar ao novo governo, afirmou Nelson Antônio de Souza, presidente do banco estatal, nesta quarta-feira (14) ao divulgar o balanço do terceiro trimestre.
“A redução dos custos dialoga com o novo governo, e a Caixa tem sim muitas propostas prontas para apresentar. Vamos apresentar tudo isso”, disse Souza.
O banco registrou um lucro líquido recorrente (livre de efeitos extraordinários) acumulado em nove meses recorde de R$ 11,5 bilhões. A meta orçamentária era fechar 2018 com lucro de R$ 9 bilhões, perto dos R$ 8,6 bilhões registrados em 2017.
Nos últimos dois anos, a Caixa passou por graves problemas de escassez de recursos que ameaçaram o enquadramento do banco dentro de regras internacionais de instituições financeiras mais sólidas para assumir riscos.
Chegaram a ser aventadas ajudas financeiras externas, como repasse do Tesouro Nacional ou do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), mas a cúpula do banco manteve a posição de assumir um plano de contingência orgânico, com forte corte de despesas e reestruturação da carteira de crédito.
Souza disse já ter comunicado oficialmente o governo de que o banco não precisará de aportes, operações subordinadas ou devolução dos dividendos.
“Tivemos dificuldades de capital em 2016 e 2017, visitamos todo o planejamento estratégico e agora demonstramos a solidez e eficiência do banco com esses resultados, realizado de maneira orgânica”, afirmou.
Questionado se havia sido convidado pela equipe econômica do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para continuar no cargo, Souza se limitou a dizer que é um técnico.
“Eu sou um técnico. Logicamente, continuo fazendo o trabalho. Já peguei várias mudanças de governo, realmente não estamos com o radar nesse item. Queremos fechar 2018 dentro da linha que estamos trabalhando”, afirmou.
Ana Paula Vescovi, atual secretária-executiva do Ministério da Fazenda e presidente do conselho de administração da Caixa, tem sido cotada para assumir a presidência do banco, mas a manutenção de Souza também não é descartada.
Sobre uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo afirmando que a equipe de Bolsonaro planeja um pente-fino no que teria classificado como “aparelhamento” dos bancos federais em gestões do MDB e do PT, com funcionários supostamente apadrinhados politicamente, Souza disse que, se esse tipo de situação existe dentro da Caixa, ele desconhece.
“Se tem, objetivamente, eu desconheço. Pode até ter, mas desconheço. Nós trabalhamos de um ponto de vista de quem tem de ter competência e entregar, tem de ter resultados. A pergunta é importante, mas como CEO [presidente] do conglomerado Caixa, eu entendo que despertamos para isso antes na linha de governança corporativa e gestão de risco”, afirmou.
Em relação a afirmações de Bolsonaro da véspera, sobre um corte mínimo de 30% dos cargos comissionados, Souza também ressaltou que a Caixa já vem trabalhando nessa linha.
“A Caixa já pensa assim. Já tomamos essa providência com o processo seletivo inédito para contratação de vice-presidentes. Temos também em andamento o estudo de uma consultoria sobre reestruturação. No programa de demissão voluntária, em que foram desligados 8.600 empregados da Caixa, se eles tinham cargos, foram extintos juntos”, disse.
Desde o fim do ano passado, a Caixa se viu envolvida em uma série de investigações sobre supostas irregularidades cometidas no banco, como corrupção e favorecimento de grupos políticos e empresas, que culminaram com a destituição de vice-presidentes da instituição e troca de comando.