O governador Ronaldo Caiado (UB) se defendeu da decisão judicial pela sua inelegibilidade, fazendo comparações com situações em que outros chefes de Executivo teriam pedido votos ou discutido contextos eleitorais abertamente, em sua versão, dentro de palácios de governo. Ele citou situações no Palácio da Alvorada, sede do Governo Federal, em Brasília, e também do Palácio das Esmeraldas, local que está no centro da denúncia.
Caiado citou especialmente Dilma Roussef, Jair Bolsonaro e o atual presidente Luís Inácio Lula da Silva, mas incluiu episódios que teriam ocorrido nas gestões dos ex-governadores goianos Marconi Perillo e José Eliton, sem especificar os contextos.
Com um tom mais ameno e mais pessoal sobre o assunto do que o inicial, quando a denúncia foi oferecida pelo Ministério Público Eleitoral, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (11), Caiado rebateu a decisão da juíza Maria Umbelina Zorzetti, da 1ª Zona Eleitoral de Goiânia, mas afirmou que vai respeitar.
“Não cabe a mim [discutir]. Eu vou respeitar a Justiça. O Tribunal Regional e Eleitoral vai responder. Agora, eu estou embasado na prerrogativa que tem”, observou.
Ele fazia referência aos episódios que diz ter presenciado em 2014 no Alvorada, em 2018 no Palácio das Esmeraldas (gestões de Perillo e Eliton), em 2022 com Jair Bolsonaro [que reuniu no Alvorada embaixadores para mobilizar contra urnas eletrônicas], e em 2024 com Lula [gravando vídeo para o candidato Guilherme Boulos (SP), nas dependências do Alvorada].
“Perguntaria a vocês: diante desse quadro que hoje nós temos [na capital], com uma intervenção na Saúde de Goiânia, valeria ou não o governador Ronaldo Caiado chamar aqui, em reunião fechada, os vereadores para pedir apoio diante do colapso da saúde que finalizou com morte de vários goianos que não tiveram acesso à UTI?”, questionou Caiado aos jornalistas.
Quando foi citado trecho da decisão em que a magistrada afirma que no evento promovido por Caiado no Palácio das Esmeraldas o governador fez “uso de palavras mágicas para disfarçar o pedido direto de votos”, ele reagiu com certa irritação. “Bom, em primeiro lugar, eu não tenho capacidade, eu nunca fiz curso de mágico. Sinto muito, é uma coisa que eu não dou conta. Mágica, eu não vou praticar.” E, ironizando, chamou a pergunta de inconsistente: “Gostaria que as perguntas viessem com nível de consistência. Porque não pode ser uma coisa mágica.”
Em mais de um momento o governador citou que haverá recursos em todas as instâncias, mas que vai respeitar a decisão. “Não cabe a mim de maneira alguma. Respeito a decisão da juíza. E a matéria vai ser julgada em instâncias superiores”, enfatizou.
Além de focar na necessidade de abordar os problemas vividos pela capital com vereadores eleitos e seus suplentes, o argumento de Caiado se concentra no fato de que ele não disputou eleições em 2024, embora fosse o principal cabo eleitoral do seu partido, Sandro Mabel, que tinha passado para o segundo turno. Outro aspecto é que o Palácio das Esmeraldas é a residência oficial de todos os governadores em exercício em Goiás.
“Eu não fui candidato em 2024. Aqui estava o governador, dentro da casa dele. E que trouxe aqui os vereadores eleitos numa reunião fechada. (…) Então, o que estou buscando [mostrar] é o seguinte: tanto Bolsonaro, quanto Dilma, quanto Lula, quanto Zé Éliton, quanto Marconi, todos fizeram exatamente reuniões na residência oficial.”
Além disso, Caiado citou uma decisão judicial do ministro Dias Toffoli que teve o entendimento de que “a residência da autoridade [é] direito dele” usar.
Por outro lado, na coletiva o governador não abordou a acusação de que pediu votos abertamente para Sandro Mabel e Leandro Vilela. Mas nesta quarta, circularam vídeos do dia em que ele diz aos presentes “me ajudem” com os dois candidatos e faz comparações entre a capacidade de Mabel e a do candidato do PL a prefeito de Goiânia, Fred Rodrigues. Foi a coligação de Fred que apresentou uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) que levou à decisão sobre inelegibilidade do governador e cassação de Mabel e da vice, Cláudia Lira (Avante).
O governador citou que sua candidatura a presidente da República em 2026 está com a programação mantida. O lançamento, segundo ele, será depois do Carnaval. O local escolhido é Salvador, na Bahia, reduto eleitoral de ACM Neto, vice-presidente nacional do União Brasil e defensor da candidatura de Caiado.