Em resposta nas redes sociais, o governador Ronaldo Caiado reagiu de forma explosiva após tomar conhecimento de falas de um desembargador que pede o fim da Polícia Militar de Goiás (PM). O desembargar era juiz em Anápolis, onde existem investigações contra excessos e crimes de PMs (leia abaixo).
Caiado afirma que vai pedir o impeachment do desembargador, a quem praticamente chama de criminoso: “Você está atentando contra o estado democrático de direito ou está cooptado por forças do crime em Goiás”.
O governador já tinha iniciado a viagem que está fazendo para a China quando gravou o vídeo. Nervoso, ele diz que solicitou à Procuradoria-Geral do Estado que encaminhe à Corregedoria do Tribunal de Justiça um pedido de impeachment “contra o desembargador Adriano Roberto Linhares Tavares, o autor das críticas.
Caiado cita que a existência da PM está prevista na Constituição Federal. E faz ataques pessoais, dizendo que o magistrado “não tem a qualificação mínima para ser desembargador do Estado de Goiás”.
Adriano Tavares criticava a atuação da PM durante uma sessão de julgamento da Seção Criminal do Tribunal de Justiça realizada ontem (1º). No trecho da sessão que repercutiu, ele comenta supostos excessos “recorrentes”, cometidos por PMs, tendo como foco um episódio de Aparecida de Goiânia que estava na pauta de julgamento.
Os comentários envolviam situações de abordagens de investigados dentro de residências sem autorização judicial, e de alegações, sem provas, além da palavra dos policiais envolvidos. O magistrado destacou que não “há presunção de veracidade alguma [nas alegações dos PMs]”, e declarou veemente repúdio.
Em seguida, veio a defesa pessoal do desembargador que gerou a polêmica: “Para mim, tem que acabar com a Polícia Militar… instituir uma forma diferente de atuação na área de investigação e repressão ao crime”, afirmou. Ao continuar, disse que a PM, “como reserva técnica do Exército, é para enfrentar o inimigo.”
Adriano Tavares ainda insinuou que os confrontos entre policiais e pessoas abordadas, que deixam suspeitos mortos, não têm relação com o preparo do efetivo. E ironizou: “A PM de Goiás e invisível. Vejam nos jornais a quantidade de confrontos e ninguém leva um tiro. Morrem quatro, cinco, seis. Não é por preparo não, nós sabemos porque é”, sugeriu.
O desembargador é novo no posto, mas assumiu após ser juiz em Anápolis. Ocorre que é a cidade onde os confrontos com vítimas fatais eram tantos que levaram o Ministério Público (MP) a pedir judicialmente o uso de câmeras corporais, o que foi negado após recurso do governo.
Um dos casos de grande repercussão foi relembrado recentemente nos meios de comunicação. É que houve a promoção de policiais julgados pela morte de um rapaz suspeito de estar armado, com 15 tiros, em 2022.
Também em Anápolis foram presos em setembro último 10 PMs investigados por suposto assassinato de testemunhas de crimes, entre elas uma mulher grávida de sete meses.
O MP da cidade aponta 66 mortes por PMs em três anos, ou seja 22 por ano, além da falta de avanço em dezenas de inquéritos para apurar confrontos nos últimos cinco anos.
A reportagem não conseguiu contato com o desembargador Tavares nesta quinta-feira, (2), mas, segundo divulgado pelo blog da jornalista Fabiana Pulcinelli, do jornal O Popular, ele disse lamentar o mal-estar gerado pelos comentários.
Disse que apenas ponderou sobre episódios que o incomodavam e que não tinha intenção de atingir ninguém especificamente, muito menos o governador, já que falava do caso em julgamento.
O Tribunal de Justiça está avaliando a situação, e já manifestou pelo bom relacionamento com a PM de Goiás, falando em respeito e consideração. Mas também deixou claro que os magistrados têm suas opiniões e convicções pessoais.
A manifestação do desembargador foi duramente criticada pela PM. Em suas redes sociais, a corporação repudiou o que chamou de generalizações injustas e negativas.
Chamando as afirmações de inaceitáveis, a nota diz que foram comentários que “ousaram questionar nosso papel essencial e a dedicação incansável de nossos bravos policiais em servir nossa sociedade”.