Sete cães e um gato foram encontrados mortos com sinais de tortura no quintal e nas imediações de uma casa abandonada no Jardim Amanda, em Hortolândia (a 109 km de São Paulo). O caso começou a ser investigado pela polícia nesta sexta-feira (19).
Um dos cachorros tinha um cabo de vassoura atravessado no corpo e alguns apresentavam queimaduras profundas, ossos expostos. Ao menos dois animais estavam dentro de uma mala misturada a entulho, segundo relatos obtidos pela reportagem com três pessoas que estiveram no local. Havia ainda cadáveres de animais jogados num bueiro perto da casa.
O suspeito é um andarilho que ainda não foi encontrado e que ocupava o imóvel havia cerca de um ano, de acordo com vizinhos. A residência foi descoberta no dia 12, mas a polícia começou a investigar o caso só nesta sexta (19).
“O cenário era de terror”, descreve o vereador Eduardo Lippaus (PT), que acionou a polícia e o DPBEA (Departamento de Bem Estar Animal) da prefeitura após ter sido procurado pela UPI (União dos Protetores Independentes).
Segundo Lippaus, havia sinais de que o homem se alimentava da carne dos bichos. “Tinha espetos e faca de churrasco no local”, disse. As três pessoas ouvidas pela reportagem suspeitam que há mais corpos enterrados na área, em decomposição.
A professora Amanda de Oliveira Bento, que também atua como protetora de animais e esteve no local, contou ter visto fogões improvisados com tijolos e fraldas (provavelmente usadas para facilitar a combustão). Ela encontrou ainda resquícios de penugem numa fogueira no quintal.
Segundo a professora, moradores já desconfiavam do homem. “Teve vizinho que falou que ouvia cachorro gritar, e sabe quando você abafa o som de uma hora pra outra? O que me deixou mais indignada foi o fato de as pessoas ouvirem isso e ninguém fazer nada”.
A matança de animais foi descoberta na sexta passada (12) por uma vizinha do imóvel cujo cão havia sido furtado. Ela entrou na casa abandonada à procura do animal. O suspeito fugiu. Um cachorro, preso pela coleira, foi solto por ela e também fugiu. A mulher encontrou indícios do massacre e acionou pessoas ligadas à UPI.
A comerciante Adriana Ribeiro, 43, ligada à ONG, foi ao local e viu que a terra estava fofa. Desenterrou então um cão e começou a descobrir o cenário de carnificina no quintal.
Alguns cães estavam sumindo na vizinhança, segundo Ribeiro, e a desconfiança é que o homem os levava para a casa.
Segundo o delegado Luis Antonio Loureiro Nista, a polícia começou a investigar o caso nesta sexta com base nas descrições de vizinhos.
De acordo com testemunhas ouvidas pelos protetores de animais e pelo vereador, o suspeito vestia roupas com forte cheiro de carniça e usava sempre uma mochila, na qual supostamente transportava os bichos.
Se identificado, ele responderá por maus-tratos de animais (crime com pena de três meses a um ano de detenção). Como são várias vítimas, a pena pode ser multiplicada.
A comerciante Adriana Ribeiro conta que ligou para a Polícia Militar, para a Guarda Municipal e que tentou fazer boletim de ocorrência na Polícia Civil no mesmo dia em que os animais foram encontrados, sem sucesso.
A PM, diz ela, não apareceu. A Guarda disse que não poderia fazer nada e o DPBEA afirmou que só poderia ir ao local com a polícia. A Polícia Militar e agentes do DPBEA só foram ao local na segunda (15).
A Prefeitura de Hortolândia informou que este tipo de crime é caso de polícia e deve ser denunciado “às autoridades competentes”. A SSP (Secretaria Estadual de Segurança Pública) foi questionada sobre a postura da PM e da Polícia Civil, mas não respondeu até as 16h desta sexta (19). (Folhapress)