Na penúltima sexta-feira (15/01), em uma ação conjunta, os partidos de oposição apresentaram um novo pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alegando crime de responsabilidade devido ao colapso na saúde do Estado do Amazonas, especialmente na capital, Manaus. Um dos envolvidos no pedido, o deputado federal e presidente regional do PSB-GO Elias Vaz, destaca que a cada dia que Bolsonaro fica à frente da presidência, o Brasil tem um prejuízo maior e que o trauma de um processo de impedimento é menos doloroso que a sua continuidade no cargo. “Eu não tenho dúvida que a cada dia que o Bolsonaro passar à frente do país, o prejuízo é enorme, com as vidas, econômico e social. É insustentável a permanência do presidente Bolsonaro à frente do Brasil hoje”, salientou em entrevista ao Diário de Goiás.
O deputado federal avalia que a situação que o Amazonas tem vivido em especial durante à crise da semana passada – que culminou no reconhecimento de um segundo colapso da saúde pelo próprio ministro Eduardo Pazuello – poderia ter sido evitada. Vidas estão em jogo, e nas mãos de Bolsonaro, pondera Vaz.
“É preciso compreender que o sistema de saúde brasileiro é um sistema tripartite, é um sistema que tem responsabilidades de três entes da federação – municípios, estados e União. Em particular nessa questão da falta de oxigênio, isso vem sendo notificado e o Governo sabia que nós teríamos uma situação de falta de oxigênio. O Governo tem toda uma logística que poderia perfeitamente evitar essas mortes. Tem recursos para isso. Diante desse fato e o Governo não ter tomado nenhuma posição, nós entendemos que o próprio presidente da República e o próprio ministro sejam inseridos na responsabilização dessas mortes”, destacou à reportagem.
Para Elias, Bolsonaro é dono de um comportamento irresponsável, que debocha do isolamento social e da utilização de máscara. Eu sou adepto que o impeachment é a última solução. Agora, temos que colocar na balança o prejuízo do trauma do impeachment que gera e também o prejuízo da manutenção do presidente da República se ele continuar e o que estamos verificando que os prejuízos são muito grandes: são mortes, estamos falando disso. “Até hoje ele tá com o mesmo discurso do meu vizinho, o mesmo discurso irresponsável, um comportamento irresponsável, até hoje ele acha que não tinha que ter isolamento, não tinha que ter o mínimo de cuidado sanitário”, destaca.
O parlamentar acentua que além de despreparado, Bolsonaro promove ameaças de uma possível ditadura militar. “É uma pessoa despreparada e ainda vem com ameaça, dizendo que um país só tem democracia se as Forças Armadas quiserem. Um absurdo, é ignorar a força da população. A democracia existe pela força da vontade popular e quando a força da vontade popular é organizada, não tem ditadura. Quase todas as ditaduras foram derrotadas pela força da vontade da população.”
O ex-vereador de Goiânia entende que as ditaduras nascem a partir da consusão e das mentiras, e disto, Bolsonaro entende: produção de fake news para confundir a cabeça do eleitorado. “As ditaduras acontecem quando tem confusão na cabeça das pessoas, quando a ditadura vende uma realidade que não é a verdadeira, como prática e trabalha as fake news e eles sabem disso, eles fazem isso o tempo inteiro. Mas a gente tá vendo que as pesquisas de opinião pública mostram que a população brasileira tá caindo mais na realidade, o percentual que percebe o desastre que foi eleger o Bolsonaro vai aumentando.”
Já que Elias Vaz defende o impeachment, o que dizer de um possível sucessor de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão (PRTB)? “Eu não faço pré-julgamentos do Mourão. Para mim, o Mourão é o vice-presidente e se tiver um impeachment ele é o legitimo que vai assumir, não há questionamento.” Para o parlamentar, Mourão até dá umas escorregadas, mas parece mais equilibrado do que o próprio Bolsonaro.
“Esperamos que ele tenha um outro comportamento, o que ele tem falado depois que assumiu a vice-presidência tem sido muito mais equilibrado que o presidente Bolsonaro, de vez em quando dá umas escorregadas, fala umas besteiras, mas muito distante do que o presidente Bolsonaro tem falado e feito”, pontua.
Eleitores pedem impeachment à parlamentares
Um dos termômetros para medir possibilidades de impeachment é o reflexo das manifestações das ruas. Isso, certamente é algo que está comprometido, por conta da pandemia do novo coronavírus. Segundo Elias, pessoas que “seguem protocolos sanitários” não aglomeram. Mas ele garante que os parlamentares estão sendo cobrados pela sociedade para uma postura mais firme ao impeachment.
“Isso também está relacionado com o próprio desenrolar junto à sociedade. Hoje, por exemplo, estamos vendo uma cobrança, os parlamentares estão sendo cobrados pela sociedade uma postura do Congresso pelo impeachment do presidente. Eu acredito que se essa pressão aumentar, porque hoje temos uma situação nas ruas, eu acho mais dificil… Até porque as pessoas que estão mais ligadas e tem essa compreensão do impeachment do Bolsonaro pensam que não é o momento de fazer aglomerações nas ruas, com certeza um comportamento diferente daqueles negacionistas, das pessoas que não seguem os protocolos sanitários”.
Ele pondera que essa é uma situação positiva a Bolsonaro, pois apresenta uma dificuldade para a população se expressar, mas ao mesmo tempo dá mais cabo às formas alternativas de manifestações, como aquelas feitas na internet ou nos panelaços Brasil à dentro.
“Isso também é uma coisa que beneficia o Bolsonaro hoje porque temos uma certa dificuldade para que a população expresse, mas essa coisa ainda vai acontecer de forma alternativa, como tem acontecido com os panelaços e os movimentos nas redes sociais que vão pressionando particularmente os parlamentares a tomar uma decisão.”
Futuro e impeachment pautado na Câmara
Vaz pontua que dificilmente o impeachment será pautado numa hipotética gestão de Arthur Lira à frente da Câmara dos Deputados. “O Lira é apoiado [pelo governo federal] e tá sendo usado pela máquina do Governo Federal. A máquina, com emendas, cargos… Até ministérios estão sendo negociados, para eleição do Arthur Lira, então é óbvio que ele deve ter feito o compromisso que não colocaria qualquer pedido de impeachment”, destaca.
Do contrário, o candidato que vem tido apoio do PSB, o emedebista Baleia Rossi poderá sim colocar em pauta um possível impeachment. Para Vaz, trata-se de uma frente mais ‘ampla e arejada’ que estará sobretudo, mantendo ares mais democráticos.
“Agora, a eleição do Baleia, está sendo muito mais ampla. Com setores que são do ponto de vista econômico liberais, como o DEM, o PSD e o PSDB mas também com partidos da oposição… É uma composição mas arejada, democrática e que defende sobretudo a independência do poder legislativo. E é óbvio que uma das atribuições do poder legislativo é em casos de faltas graves cometidas pelo presidente que na minha opinião estão sendo cometidas é colocar a apreciação ao parlamento a possibilidade do impeachment do presidente da República”, pontua.
Péssima diplomacia mundo à fora
Elias Vaz destaca que Bolsonaro, seus filhos e parte de seus seguidores têm feito uma política de relações internacionais extremamente comprometedora. “O Brasil assumiu uma política de relações exteriores diferentemente de todas as gestões anteriores, independente de questões ideológicas, para alimentar o comportamento do atrito. Criando problemas com países da América do Sul, com a França, com os Estados Unidos demorando a reconhecer a vitória do Joe Biden, aí os filhos vão lá e colocam a foto do Trump nos perfis, um negócio insano”. Eduardo Bolsonaro, o 02 do presidente, trocou a foto do perfil nas redes sociais, em um ato virtual para externalizar o apoio após o ex-presidente norte-americano ter tido a conta suspensa permanentemente do Twitter e Facebook.
No campo diplomático, a relação do Brasil com a China também tem apresentado ruídos já de algum tempo, passando por Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, com o próprio Eduardo Bolsonaro também tecendo críticas ao país asiático. Para Vaz, nem mesmo os militares durante os anos em que estiveram no poder, estabeleceram uma relação diplomática como a que Bolsonaro vem desenvolvendo.
“O Brasil não tem sequer um canal de diálogo razoável que seja com a China. É o próprio Bolsonaro e seus filhos agredindo a China o tempo inteiro. Isso não faz parte, eu não tô falando de questões ideológicas, pode pegar todos os governos anteriores, até os militares, não tinha essa postura com os países do mundo, ninguém construiu esse tipo de relação. Bolsonaro é um crime atrás do outro. Porque isso gera prejuízo. Gera prejuízo econômico, nas relações econômicas, gera prejuízo na questão da saúde, porque precisamos de insumos para produzir a vacina, que é um remédio efetivo. Não tem curandeirismo nem negacionismo”, pontuou.
Bolsonaro e as instituições democráticas: “é a anti-política”
Para Elias Vaz, ao alimentar um espírito crítico à Câmara dos Deputados e ao Supremo Tribunal Federal (STF) com comentários como “não me deixam trabalhar”, “barram tudo o que eu faço”, Bolsonaro trabalha a “anti-política”, o que para ele é incongruente pois ele passou 28 anos como deputado federal. “O Bolsonaro tem uma estratégia de trabalhar a anti-política. Como se ele fosse o anti-político, ele até omite. Você nunca vê ele falar “olha eu fui 28 anos deputado federal”, porque o cara foi 28 anos deputado federal e ainda critica a Câmara Federal. Ele trabalha muito a questão da anti-política”, pontua.
O parlamentar destaca que Bolsonaro trabalha com narrativas e consegue um bom resultado por meio delas. No final das contas, é mais fácil culpar um terceiro do que assumir aquilo que deveria fazer. “Ele é um cara que trabalha com a narrativa de tudo o que acontece no país é culpa do STF, dos governadores, dos prefeitos, do Congresso… ‘não é culpa minha, eu quero fazer mas não dou conta, estou isolado, sozinho’. Essa é a postura que ele quer passar para a Sociedade. Que é uma postura mentirosa. “
Elias Vaz defende uma reforma política para a Câmara dos Deputados que talvez pudesse chegar ao STF. Mas segundo ele, falar em fechamento de instituições que fazem parte da órdem democrática, é um péssimo caminho. “Nós tínhamos que ter uma reforma política no país, eu não tenho dúvidas disso. O próprio STF, que você tem ministro, que, na minha opinião, tinham de ter mandatos, não pode ser desse jeito, talvez a escolha não poderia ser pelo presidente da República. Talvez tivesse um outro mecanismo para escolhas dessas pessoas. Eu acho que tem que mudar, mas não é acabar, porque se você quer acabar com os contra-pesos do processo democrático, aí você vai ter uma pessoa só para decidir por todo o mundo, isso é um grande equívoco. Ai isso é ditadura, tem aqueles que podem até achar que a ditadura é o melhor caminho, mas a história prova o contrário.”
Para ele, o que deve-se fazer é cobrar melhoria no sistema democrático e não fechamento de suas instituições. “Eu quero uma reforma política para melhorar essas instituições, mais consistentes para a sociedade. Agora, daí querer se aproveitar das fragilidades e querer defender a extinção dessas instituições, realmente isso é coisa de gente que não tem o mínimo de compromisso com a democracia”, concluiu.