Nos 17 anos em que jogou futebol como profissional, Francisco Arce foi unanimidade. Um dos maiores laterais direitos de sua geração na América do Sul, participou dos mundiais de 1998 e 2002 pelo Paraguai.
Como técnico, ele está longe de receber os mesmos elogios no seu país. Comandou a seleção por nove meses entre 2011 e 2012. Não deu certo. Foi escolhido novamente para o cargo, de forma surpreendente, no ano passado.
“Arce demonstrou não ter capacidade e recebeu nova chance. Ele não tem dignidade”, criticou José Luis Chilavert, ex-goleiro, ex-companheiro do lateral em duas Copas do Mundo e nome mais famoso do futebol nacional.
Outros ex-atletas, como Roberto Cabañas, atacante do Paraguai na Copa de 1986, também reclamaram da escolha de Arce.
“Não há a menor chance de ele levar o Paraguai para o Mundial da Rússia”, alfinetou o ex-goleador, morto em janeiro deste ano.
Arce mantém como técnico a mesma imagem discreta dos tempos de jogador. Suas entrevistas não são bombásticas e as reações à beira do campo passam longe da fúria de outros técnicos. Sabe que só vai calar os críticos se classificar a seleção para a Copa do Mundo de 2018.
Ele precisa evitar a derrota para o Brasil, nesta terça (28), no Itaquerão.
A vitória sobre o Equador por 2 a 1 na última quinta (23), em Assunção, não fez a equipe entrar na zona de classificação para o Mundial. O Paraguai está em 7º, com 18 pontos. Nem mesmo se derrotar o Brasil pode ter certeza de que entrará.
Os quatro melhores se garantem no torneio. O quinto vai disputar repescagem contra adversário da Oceania. O quarto lugar atualmente é da Colômbia, com 21 pontos.
“O problema da seleção é estar sempre à beira do abismo ou perto da abundância. Precisamos manter um padrão”, disse o treinador apelidado de “Chiqui” (pequeno, em espanhol), apesar de ter 1,79m de altura.
As reclamações aconteceram porque ele foi recontratado para dirigir o Paraguai 11 dias após ter deixado o Olímpia, um dos clubes mais populares do país, por causa dos maus resultados no campeonato local.
Arce não estava acostumado a tantas críticas. Como lateral, era um dos primeiros nomes garantidos entre os 11 titulares. A regularidade em campo e a precisão nas cobranças de falta o tornaram ídolo no Paraguai e no Brasil. Ele foi campeão da Libertadores por Grêmio (1995) e Palmeiras (1999).
NA CASA DO RIVAL
Neste último, eliminou o Corinthians duas vezes no torneio continental, em 1999 e 2000. No primeiro ano, na disputa de pênaltis, fez a primeira cobrança palmeirense. Colocou a bola no ângulo.
“Tenho muita fome de ir ao Brasil. Joguei muito tempo lá e conheço tudo”, completou.
Se o Itaquerão é a casa de Tite, campeão paulista, brasileiro, da Libertadores e Mundial pelo Corinthians, é duplamente território inimigo para Chiqui Arce. Mais por ter sido vencedor pelo Palmeiras do que pela condição de técnico do Paraguai.
Mas nem tudo foram flores para o lateral no futebol brasileiro. Ele era titular no primeiro rebaixamento do Palmeiras no Campeonato Brasileiro, em 2002.
A imagem de Arce como atleta era imaculada porque fez parte da melhor geração da história da seleção paraguaia.
Em 1998, esteve a sete minutos de levar o jogo de oitavas de final contra a França, dona da casa e futura campeã mundial, para os pênaltis. No esquema do técnico brasileiro Paulo César Carpegiani, ele era uma das peças mais importantes.
Quatro anos depois, o Paraguai foi eliminado de novo nas oitavas de final, com um gol no último minuto, diante da Alemanha.
A carreira de Arce como técnico coincidiu com a queda do desempenho da seleção. O último suspiro do país foi o vice-campeonato na Copa América de 2011.
O Paraguai não se classificou para o Mundial do Brasil de 2014, quebrando uma sequência de quatro participações consecutivas.
Francisco Arce, o símbolo da era em que as coisas davam certo, virou uma das imagens do tempo em que tudo começou a não funcionar no futebol do Paraguai. Ele vai tentar mudar isso contra o Brasil, no Itaquerão, território do Corinthians, seu antigo rival.