O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou em evento do banco, nesta terça-feira (18), em São Paulo, que a política brasileira precisa é de bons políticos, em vez de bons gestores.
Questionado pela plateia sobre a perda de credibilidade que sofreu a classe política nos últimos anos, após as revelações da Operação Lava Jato, e como esse fenômeno pode atrair empresários para a vida pública, Setubal respondeu com ceticismo.
“Eu não tenho nenhuma pretensão, pelo contrário. Acho que posso contribuir muito para o Brasil na iniciativa privada”, disse o banqueiro, fazendo rir a plateia de investidores.
Ele reconheceu que atualmente há maior espaço para a entrada de empresários na política, mas ponderou que “política é para políticos”.
“Acho bom porque traz uma forma diferente de ver e fazer política. Mas a gente precisa de bons políticos, porque a interação com a sociedade e com o Congresso é uma atividade política essencialmente”, disse.
Ele não chegou a fazer menção direta ao prefeito de São Paulo, João Doria, mas usou as palavras do bordão de “bom gestor” com que Doria se elegeu.
Na opinião de Setubal, “não da para imaginar que você vai colocar lá um gestor competente e ele vai resolver o problema do Brasil, não funciona bem assim”.
Ele falou também do momento de transição pelo qual passa o banco. Depois de 23 anos à frente da instituição, ele deixa o cargo neste mês e será substituído por Candido Bracher.
Setubal contou como foram as reuniões para a preparação do novo líder do banco e defendeu a necessidade de políticas de governança nas organizações.
“Eu acredito muito em governança. É uma coisa em que o Brasil acredita pouco, de uma forma geral. Basta ver o que aconteceu em Brasília nestes últimos anos, um desrespeito muito grande pela governança”, disse.
Ao falar sobre os maiores desafios de sua trajetória, o banqueiro mencionou o Plano Real.
“Quando assumi o banco eu tinha 39 anos. Foi um momento difícil. Teve uma mega mudança na dinâmica de resultados, no sistema financeiro. Muitas decisões a serem tomadas e a gente teve uma expansão muito forte do crédito. A queda taxa de juros e da inflação abrupta deu uma mega expansão do crédito, que se seguiu a uma mega inadimplência.”
O maior problema para o Itaú Unibanco nos últimos anos de recessão foi o segmento de atacado do banco, e não o varejo, que estava bem preparado para lidar com a alta da inadimplência, segundo Setubal.
“No atacado, tivemos vários problemas desde queda do preço das commodities e principalmente problemas na Lava Jato”, afirmou. Segundo ele, as perdas decorrentes em razão do impacto da operação sobre as empresas já foram estimadas e provisionadas pelo banco.
Para o presidente do Itaú Unibanco, a perspectiva de inflação abaixo da meta em 2017 abre uma “oportunidade única” para reduzir a meta de 4,5% para 4%, chegando a 3%, 3,5% no futuro. Nesse cenário, as taxas de juros poderiam cair substancialmente. Para o banqueiro, inflação e juros altos são um problema que o Plano Real, apesar de seus sucessos, não conseguiu resolver.
A economia está em processo de recuperação, mas ainda lenta, afirma o presidente do Itaú Unibanco.
Ele diz “questionar muito” a expectativa de crescimento de 4% do PIB no ano que vem -compartilhada por Mário Mesquita, economista-chefe do banco. “Acho que vamos nos recuperar muito lentamente em função de muitas dificuldades que as empresas ainda enfrentam. O nível de emprego também está se recuperando lentamente”, afirmou.
A queda da taxa de juros, por exemplo, ainda não se traduziu em uma expansão do crédito, afirmou. Ainda assim, ele acredita que o indicador deve crescer neste ano.
Setubal também criticou a política levada a cabo durante os governos petistas de tentativa de impulsionar a economia via expansão do crédito subsidiado nos bancos públicos. “Não funcionou, essas coisas muito artificiais sozinhas não resolvem o problema. Não tem como manter a expansão do PIB só com base na expansão do crédito, isso é uma ilusão”, afirmou.
“Vamos assistir muitos problemas decorrentes disso. Vamos ver consequência disso no balanço dos bancos públicos para alguns anos ainda”, disse. (Folhapress)