Embora tenha conseguido avanço significativo na aplicação das duas primeiras doses da vacina, o Brasil ainda está atrás de outros países no alcance da dose de reforço. A taxa de imunização com a terceira dose no País está em 14,5% em relação ao total da população. Países como Chile, Reino Unido, Estados Unidos e Argentina têm índices maiores.
A vacinação com o reforço é considerada importante para aumentar a proteção contra hospitalizações e mortes pela covid-19. Também é uma estratégia para reduzir a transmissibilidade do vírus e a sobrecarga dos sistemas de saúde, em meio ao avanço da variante Ômicron, mais contagiosa.
No Brasil, o reforço começou a ser aplicado em setembro e é dado para quem tomou a segunda dose há quatro meses. Como outros países iniciaram a primeira etapa da vacinação antes, também passaram a aplicar a injeção extra antes do Brasil: casos de Israel, que começou em julho, e do Chile, em agosto. Até terça, 11, o Sistema Único de Saúde (SUS) tinha aplicado 30,6 milhões de doses de reforço, segundo informações reunidas pelo consórcio de veículos de imprensa com as secretarias estaduais de Saúde.
Mobilizar a população para doses adicionais é sempre um desafio em qualquer estratégia de vacinação. E faltam campanhas do Ministério da Saúde. “As taxas de abandono aumentam com a repetição de doses. As pessoas abandonam o esquema proposto porque têm reação, já se sentem protegidas, esquecem ou porque não se sentem mais ameaçadas”, diz Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Redução das mortes
De acordo com Kfouri, a partir de outubro, com a redução de casos e mortes no Brasil, a percepção de risco para a covid-19 diminuiu, o que leva a população a adiar a vacinação. Com a explosão de novos casos agora, em decorrência do Ômicron e das festas de fim de ano, a tendência é que mais pessoas busquem a vacina.
Os números diários de vacinação têm aumentado nos últimos dias, mas no último mês os registros sofreram o impacto de um ataque hacker ao sistema do Ministério da Saúde e das festas de fim de ano, quando geralmente há atrasos nas notificações.
O governo federal não apresentou até agora dados dos faltosos: quantas pessoas já poderiam tomar a terceira dose e ainda não foram aos postos nem o detalhamento da dose de reforço por faixa etária. Isso compromete, inclusive, a avaliação a respeito do alcance da terceira dose aos que mais precisam.
Estados
As taxas de imunização com o reforço variam bastante entre os Estados. Em Mato Grosso do Sul e São Paulo, por exemplo, o índice passa de 25%. Em 14 Estados, porém, a taxa não chega a 10%. Mas o apagão de dados faz com que o Acre, por exemplo, não atualize o número de vacinas aplicadas desde o dia 9 de dezembro A Paraíba também segue sem atualizar a vacinação.
“Nos locais de baixa cobertura com a terceira dose, esperamos um índice um pouco maior de hospitalizações e óbitos comparado com locais com elevada cobertura de terceira dose. Mas o impacto (da terceira dose) é muito maior na transmissão, (para reduzir) formas leves”, diz o infectologista Júlio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Segundo dados reunidos pelo Our World in Data, projeto ligado à Universidade de Oxford, no Chile, a porcentagem de vacinados com a terceira dose chegou a 60,5%. O Uruguai tem 45,5% da população com a dose de reforço.
Países como Portugal (33,8%) e Estados Unidos (23%) também estão na frente. Em relação à população mundial, no entanto, a taxa do Brasil é superior. Em todo o mundo, a vacinação com a dose de reforço está em 10%, e países na África e na Ásia ainda têm baixíssimas coberturas vacinais até mesmo com a segunda dose do imunizante.
Se por um lado há dificuldade em mobilizar a população para doses adicionais, por outro, Estados e municípios têm hoje à mão dados precisos – nomes e contatos – de quem deveria buscar os postos e ainda não foi. Estratégias de busca ativa, como envio de mensagens aos faltosos, deveriam ser ampliadas.
“Temos vacina. Não se justifica no contexto da Ômicron que uma pessoa elegível não vá aos postos, mas muitas pessoas nem sabiam que depois de quatro meses deveriam receber essa dose”, diz Croda, para quem faltam campanhas nacionais e estratégias locais de ampliação do reforço. “Podemos melhorar esse indicador”, opina o pesquisador.
Podem tomar a terceira dose pessoas vacinadas com as duas doses da Pfizer, AstraZeneca ou Coronavac há pelo menos quatro meses. No caso de vacinados com a vacina da Janssen (de dose única), a orientação do Ministério da Saúde é receber a segunda dose (aplicação de reforço) pelo menos dois meses após ter recebido a primeira dose. Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou.
Por Estadão Conteúdo/As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.