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| Em 3 anos atrás

Bolsonaro se coloca como “vítima do sistema” e mira radicalização da narrativa, avalia cientista político

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Ao insuflar a militância contra membros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante os atos de 7 de setembro, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) mira radicalização do discurso e se coloca como vítima do sistema. É a avaliação que o professor e cientista político, Robert Bonifácio faz.

Ao Diário de Goiás, Bonifácio avalia que o comportamento de Bolsonaro é comum entre políticos de direita radical “que não tem apego ao regime democrático” e por isso, ele uusará esse “radicalismo como narrativa política para tentar um golpe ou durante as eleições de 2022”, destaca.

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Ao subir o tom contra o STF, Bolsonaro diz que não respeitará tampouco acatará as decisões do ministro Alexandre de Morais. Na leitura de juristas, isso imputaria ao presidente crime de responsabilidade. Para Bonifácio, seria apenas mais um entre vários outros que Bolsonaro já cometeu. “Ele tem mais de duas dezenas acumuladas e parece não se importar com isso. No limite, cometer crime de responsabilidade só é um problema para ele se passar a não contar com o apoio majoritário da classe política na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

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Menor apoio? 

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Ainda não dá para prever como o presidente lidará com as crises políticas daqui para frente e as consequências dos atos recentes. “Até o momento ele possui esse apoio [do Congresso], mas penso que, daqui para frente, o apoio diminuirá, embora seja difícil dizer em que medida e quais as consequências disso.”

Questionado como ficará a governabilidade do presidente, Bonifácio acredita que Bolsonaro perderá gradativamente apoio. “Aposto que haverá uma debandada paulatina, à medida em que ele se mantenha ou perca o nível de popularidade e de intenção de voto. Com isso, a governabilidade fica cada vez mais difícil, os votos no congresso diminuem e quem ficar com ele cobrará mais caro pelo apoio”, destaca.

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Três perguntas para o cientista político e professor Robert Bonifácio:

Cientista político e professor, Robert Bonifácio (Foto: Acervo Pessoal)

Diário de Goiás: Como avalia o comportamento do presidente nos discursos dos atos ontem? 

Robert Bonifácio: Ocorreu o esperado: ele radicalizou, peitando possíveis decisões futuras do STF que se relacione a si e a sua família; e se colocando como vítima do sistema, mesmo sendo ele o presidente da república. É um comportamento típico de um político radical, no caso dele, um radical de direita, que não tem apego ao regime democrático. Ele vai usar desse radicalismo como narrativa política para tentar um golpe ou durante as eleições de 2022. 

DG: Bolsonaro disse que não vai respeitar mais as decisões do ministro Alexandre de Moraes, mas isso pode levá-lo à crime de responsabilidade. Blefe ou o presidente pagaria esse preço?

RB: Sim, pode. Sobre crime de responsabilidade, ele tem mais de duas dezenas acumuladas e parece não se importar com isso. No limite, cometer crime de responsabilidade só é um problema para ele se passar a não contar com o apoio majoritário da classe política na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Até o momento ele possui esse apoio, mas penso que, daqui para frente, o apoio diminuirá, embora seja difícil dizer em que medida e quais as consequências disso.

DG: Partidos que antes dos atos estavam na base de apoio ou mantendo postura mais neutra aos atos do governo já reavaliam desembarcar de vez. Bolsonaro terá governabilidade até o fim do mandato?

RB: No começo da pandemia, Bolsonaro entregou o comando do governo ao centrão, sendo a nomeação de Fábio Faria (PSD-RN) o marco desse movimento. Assim o fez para que pudesse ter governabilidade e se assegurar de que não seria impedido. No entanto, parlamentares do centrão são pragmáticos e não ideológicos, o que conta é estar no poder, eles abandonam o barco caso entenda que o naufrágio está por vir. Aposto que haverá uma debandada paulatina, à medida em que ele se mantenha ou perca o nível de popularidade e de intenção de voto. Com isso, a governabilidade fica cada vez mais difícil, os votos no congresso diminuem e quem ficar com ele cobrará mais caro pelo apoio.

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Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.