Em nova reviravolta sobre seu destino político, o presidente Jair Bolsonaro colocou em dúvida ontem sua filiação ao Partido Liberal (PL), um dos integrantes do Centrão. Apoios do PL a políticos de esquerda irritaram o clã Bolsonaro. A filiação estava agendada para o dia 22, dias após o retorno de Bolsonaro, que faz um giro por países árabes, ao País, mas foi postergada. Segundo Bolsonaro, o adiamento foi combinado com o presidente da sigla.
Por meio de nota, o PL também declarou que, após conversas com o presidente, o evento de filiação está suspenso e que não há data para ser realizado. Segundo a sigla, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tomou a decisão após “intensa troca de mensagens na madrugada deste domingo com o presidente Jair Bolsonaro”.
“(A filiação) só vale depois que eu assinar embaixo”, disse Bolsonaro neste domingo ao visitar a Dubai Air Show, nos Emirados Árabes Unidos. “Tenho muita coisa a conversar com o Valdemar Costa Neto ainda. Afinal de contas, não é a minha bandeira que vai ficar isolada no partido dele. Queremos um projeto de Brasil e o discurso não é apenas o meu, mas do presidente do partido também, nós estarmos perfeitamente alinhados.”
O presidente já havia declarado que estava 99% acertado com o PL, e o partido já confirmava sua filiação. Antes, Bolsonaro conversava também com o Progressistas e o Republicanos, além de siglas menores. “Quer saber a data da criança se eu nem casei ainda. Se até lá nos afinarmos, pode ser, mas acho difícil essa data. Estamos de comum acordo que podemos atrasar um pouco esse casamento para que ele não comece sendo muito igual aos outros”, disse Bolsonaro.
Há desacordo principalmente sobre quatro Estados, três deles no Nordeste, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva costuma ter seu melhor desempenho eleitoral: Piauí, Pernambuco e Bahia. Além disso, São Paulo ainda está em questão. O Planalto busca um nome viável e alinhado para o Palácio dos Bandeirantes – o preferido é o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
“A gente não vai aceitar, por exemplo, em São Paulo, apoiar alguém do PSDB”, disse Bolsonaro neste domingo em Dubai. Ele mostrou que a eleição no Estado, onde o PL apoia o governador João Doria (PSDB), é um dos empecilhos para sua adesão ao partido. “Não tenho candidato em São Paulo ainda. Talvez o Tarcísio (Freitas) aceite esse desafio.”
Bolsonaro endossava as conversas do PL para apoiar uma candidatura do ex-governador tucano Geraldo Alckmin. De saída do PSDB, o ex-governador se disse honrado em ser lembrado como opção para compor como candidato a vice-presidente a chapa liderada por Lula. Para Alckmin, o petista “tem apreço pela democracia”. Bolsonaro disse que um eventual acordo entre eles seria um “vale-tudo pelo poder”.
Segundo o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o presidente teria dado um passo atrás depois de o tucano fazer o que o parlamentar considera um “gesto de amor ao PT”. “São Paulo estava tudo a princípio conosco, podendo dar mais um passo, caso fosse possível conversar com o Alckmin, mas aí com essa declaração dele, fazendo um gesto suicida ao Lula, fica difícil. Vamos pensar numa candidatura própria em São Paulo”, afirmou Flávio.
AUTONOMIA
A discussão envolve acordos estaduais para o lançamento de candidatos por Bolsonaro e pelo PL, além de nomes que o partido venha a apoiar. Bolsonaro não quer dar autonomia total ao partido. “Não pode o PL dar essa autonomia para o presidente de um diretório estadual de Pernambuco para o cara apoiar o PT”, disse o senador.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Por Felipe Frazão, enviado especial, e Lauriberto Pompeu – Estadão Conteúdo
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