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Política

“Bolsonaro não tem a menor noção de como funciona o mercado”, avalia coordenador do movimento Agro pela Democracia

Na contramão de um setor que majoritariamente cravou sua confiança na reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), o empresário e produtor rural Jalles Fontoura (PSDB) não só declarou apoio a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como também passou a coordenar e liderar um movimento de produtores rurais que não se sentiam representados com o atual comandante do Palácio do Planalto.

O movimento “Agro pela Democracia” em pouco mais de uma semana, já conseguiu a adesão de quase 300 produtores rurais e simpatizantes num movimento que mostra um fôlego de Lula no agronegócio. “O Bolsonaro nunca foi ligado ao sistema de mercado”, salienta Jalles, numa entrevista concedida ao Diário de Goiás.

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Antes da entrevista que aconteceu no escritório político do moviento no Setor Sul, Jalles salienta que seu apoio a Lula não é nada de outro mundo. “Falam que meu pai deve estar se revirando no túmulo por conta da minha posição. Mas eu gosto de dizer que meu pai votava no Lula. Ele votou no Lula em 2002”, fazendo referência a Otávio Lage de Siqueira, governador de Goiás que chegou a apoiar a ditadura militar.

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Caminhando cuidando de suas empresas, Jalles nunca abandonou a política. Foi prefeito de Goianésia, deputado federal constituinte e secretário de Estado na administração do ex-governador Marconi Perillo (PSDB). Também esteve ao lado do tucano na última eleição como candidato a 1º suplente. “Tive uma visão excelente da caracteristica ostensiva do bolsonarismo”, pontua. “Mas também vi um movimento discreto em torno do Lula, mas presente e real”, salientou.

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Jalles também reservou algumas críticas ao presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e fez menção a uma entrevista que o presidente Ernesto Geisel concedeu em 1993. “Ele era um mau militar. Se eu puder parafrasear também é um mau democrata”. O empresário pede que o presidente traga “paz e tranquilidade” ao mercado do agronegócio.

Também criticou empresários como Luciano Hang que vestiram do uniforme bolsonarista e acabaram se tornando ‘papagaios do bolsonarismo’. “O agronegócio precisa de paz, tranquilidade, confiança, dedicação, prioridade. Não é o que o presidente Bolsonaro está fazendo”, destacou.

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Igor Carvalho, Rodrigo Zani, José Eliton e Jalles Fontoura na coordenação do Agro pela Democracia (Foto: Divulgação)

Possivelmente Marconi Perillo irá votar no Lula

Se no primeiro turno votou na senadora Simone Tebet (MDB), no segundo acompanhará o voto da parlamentar. “Ela virou a grande estrela da campanha do PT”, destacou. Se pudesse dar um conselho ao ex-governador Marconi Perillo, qual seria? “Se eu pudesse aconselhá-lo, eu falaria para ele apoiar Lula”, destaca.

Antes de tomar publica sua decisão, Jalles disse que chegou a comunicar Marconi Perillo dela, afinal o tucano é presidente do partido que é filiado. “Eu comuniquei a ele que eu iria tomar essa posição. Acho que o agronegócio por essas características sobre a democracia, o mercado, soluções para o agronegócio precisava de um posicionamento desses.  Ele compreendeu a posição”, destacou.

“Ele me falou que não queria tomar uma posição pois ele tem amigos dos dois lados. Ele ficou numa posição reservada mas não quis se posicionar”.

Jalles sobre marconi perillo

“Possivelmente ele votará no Lula. O Marconi é herdeiro do Henrique Santillo. Ele tem uma história de social-democrata”,

Veja a entrevista na íntegra com o coordenador do Movimento Agro pela Democracia, Jalles Fontoura:

DG: O senhor disse no vídeo em que declarou apoio a chapa Lula-Alckimin que ‘o sistema de mercado e o agronegócio sabem que não há garantias no atual governo’.  O que quis dizer com isso? 

Jalles Fontoura: O Bolsonaro nunca foi ligado ao sistema de mercado. Nunca. Ele teve uma história de sete mandatos como deputado federal e os votos dele são completamente erráticos e geralmente contra o mercado. Ele não teve uma posição clara com relação a isso. Menos ainda, qualquer compreensão do sistema de como funciona o sistema de mercado. Ele não sabe distinguir uma duplicata dum boleto, ele não tem a menor noção de como funciona o mercado. Tanto que ele terceirizou essa parte com o ‘Posto Ipiranga’ que é o Paulo Guedes que inicialmente fez desde a nomeação dos presidentes de Bancos e estatais ligadas a economia porque havia um absurdo desconhecimento de sua parte. Esse casamento com o mercado foi conveniência política às vésperas das eleições em 2018. Ele não tem nenhuma sedimentação e conhecimento em relação ao mercado. Ele deixou isso claro mesmo durante o mandato. 

DG: Quais seriam os impactos ao mercado em uma eventual reeleição do presidente Bolsonaro?

Para mim, o pior de todos é a democracia em risco. A minha geração ela passou pela transição, eu por exemplo, fiz parte da Frente Liberal, que não era partido ainda. Época do Marco Maciel. Foi um grande movimento comandado por Ulysses Guimarães que resultou no maior acontecimento político nos últimos 100 anos do ponto de vista política. Foi um pacto que envolveu todos os segmentos, desde a UDR, do Ronaldo Caiado, aos seringueiros, garimpeiros, políticos, etc. Foi um pacto brasileiro que aconteceu e que gerou há 34 anos atrás a Constituição. Foi uma germinação lenta com um resultado infeliz. Claro, teve episódios como a morte de Tancredo, passamos por algumas situações, mas se consolidou. O Bolsonaro de forma claríssima, ele não tem compromisso nisso. Não só porque não foi constituinte mas as ideias dele não batem. Uma pessoa que admira o Brilhante Ustra, não precisa mais nada. Essa questão para mim da consolidação democrática é crucial para todo o país e para a economia. Não temos como ter uma economia de mercado se não houver o contraponto da democracia. Isso é básico. O Bolsonaro faz parte, se você for levar isso para a época do regime militar, ele faz parte daqueles capitães que queriam derrubar o Castello Branco que queria endurecer o regime e fizeram o AI-5. Ele é dessa turma. Ele era um baixo-clero não só no Congresso Nacional, como no Exército. O resumo disso tudo: o presidente Geisel vivo ainda tem um comentário histórico dele que dizia que Bolsonaro era um ‘mau-militar’. Você pode parafrasear que ele é um mau-democrata.

DG: Alguns empresários são reticentes ao nome do Lula pois ainda não apresentou um plano de governo claro com relação a economia. Outros defendem Bolsonaro por suas posições privatistas e liberais. Como avalia o cenário?

Jalles Fontoura: O presidente Lula ele foi oito anos presidente e durante o governo dele, ele trabalhou tanto respeitando a democracia como na economia teve condições completamente a favor do mercado. Eu me lembro do Olavo Setúbal que era presidente do Banco Itaú, dizendo que o Lula estava fazendo um bom governo com relação às finanças do país e com respeito ao mundo financeiro. O Lula não é absolutamente nenhuma ameaça. O fato dele não nomear antecipadamente o ministro da Economia é muito mais uma função tática. Essas coisas são interessantes antes, depois que nomeia. Por exemplo: se ele nomeia o Henrique Meirelles para a Economia, isso vai gerar reações de vários aspectos. Não é simples anunciar. Agora, claramente o presidente Lula tem fundamento em respeito aos contratos, ao sistema e ele reafirma isso. Essa parceria que ele está fazendo com a candidata Simone Tebet reforça isso. Eu noto um caminho para o centro. Desde a escolha do Alckmin para vice. Já o presidente Bolsonaro não garantiu contratos. Hoje tivemos meio trilhão de reais que foram desviados para a eleição dele. Se você somar a redução de impostos que vai ter um impacto enorme, o Auxílio Brasil e outras situações que foram criadas somam meio trilhão de reais.

É a maior compra de voto e tentativa de criar uma falsa sensação de dívida e de situação confortável que tem um preço. Eu falo o seguinte: é a mesma coisa que um empresário que toma um empréstimo grande e torra o dinheiro criando uma situação na empresa de conforto. Depois essa dívida vai vencer e ele vai ter de pagar. A crise que virá no próximo ano, Bolsonaro já montou.

DG: Bolsonaro vive dizendo que o agronegócio o ‘ama’. Dias atrás a Frente Parlamentar que representa o Agro em Goiás estava em peso em Brasilia declarando apoio incondicional no segundo turno. Como o senhor vê essas relações do presidente com o setor?

Jalles Fontoura: Eu passei uma semana na Bahia. Lá o agronegócio não ama o Bolsonaro, muito pelo contrário.  Você vê alguns bolsonaristas em meio a um mar de lulistas. Na Bahia, um estado que tem uma economia muito maior que Goiás. Lá eles não amam Bolsonaro. Aqui em Goiás, parcialmente isso é verdade. Porquê? O empresário de um modo geral não tem uma preocupação democracia e política. Esse tipo de aprofundamento não existe. Eles percebem muito bem quando estão ganhando. Quando se ganha, eles tendem a apoiar. No caso, eles estão ganhando muito, mas não com Bolsonaro. Estão associando algo que está na costela de um processo que foi riquíssimo para Goiás que é o mercado internacional. A exportação de carne, soja e sais minerais foi um boom que coincidiu com o presidente Bolsonaro no governo. Essa observação gerou essa renda.

Qualquer presidente que estivesse lá seria a mesma coisa. Bolsonaro nunca deu importância ao que o povo e que as pessoas pedem num político gestor que são políticas públicas. São políticas públicas na saúde, educação e meio-ambiente que são essenciais e ele simplesmente desprezou esse tipo de pauta. O fato do agronegócio ter ganho com o dólar alto levou uma grande quantidade e percentual alto de empresários a identificar essa vantagem com o presidente.

Além do aspecto conservador de Goiás que bateram essa agenda de moralidade que é muito mais falsa do que verdadeira mas combina com o que as pessoas querem ouvir.

DG: Qual sua projeção para a economia e o mercado do agronegócio para os próximos dois anos?

Jalles Fontoura: Olha, essa é uma pergunta que vai depender da recessão maior e mais ou menos profunda ano que vem. 2023 e 2024 tem muitos economistas que tão anunciando que pode mudar essa situação. De qualquer forma, o Brasil já de muitos anos, virou uma grande referência agrícola no mundo. O agronegócio é tão brilhante no seu desempenho, desde a segunda safra que hoje é referência de milho, a música sertaneja. Tudo que é ligado ao agro subiu. O fenômeno não é brasileiro. O Brasil respondeu bem e alimentar 8 bilhões de pessoas é uma tarefa que hoje tem muito valor no mundo. E o Brasil fez e está fazendo além de fazer muito mais. O compromisso da agricultura é de qualquer governo que entrar. 

DG: Em um eventual governo Lula qual deverá ser o perfil do ministro da Agricultura?

Jalles Fontoura: Olha, o perfil do ministro do agricultura pode ser do primeiro governo Lula. Roberto Rodrigues, ele muito ligado ao corporativismo, até hoje, está vivo e é um cara de grandes ideais. É esse o perfil que o Brasil precisa. Agora, além dessas medidas do aspecto das exportações que envolvem logística, por exemplo. A rodovia Norte-Sul, que desde o Governo Sarney vem cambaleando e até hoje não iniciou sua operação de forma firme. Desde essa parte de logística até algo que o presidente Bolsonaro não faz. O meio-ambiente. Nessa campanha eu fiz 57 municípios como suplente do Marconi. É incrível o impacto que dá como que o Cerrado está desaparecendo. O Cerrado está em fase terminal. O meio-ambiente agora. O Vale do Araguaia, por exemplo, o Boi lá, vai virar uma estatua. Hoje é tudo sója. A soja não admite arvore. A gente precisa de por na agenda, além da exportação, ciência e tecnologia, produtividade, a questão do meio-ambiente é algo que o Bolsonaro jamais faria. Um governo sério e o do presidente Lula precisa e vai encarar. As espécies estão desaparecendo, tanto vegetais, animais, insetos. A mudança é rápida, perigosa e tem de ser enfrentada.

DG: A posição do senhor e de outros companheiros em apoiar Lula veio apenas agora na segunda metade do segundo turno. Não foi uma posição tardia dado ao atual contexto?

Jalles Fontoura: Nessa caminhada que eu percorri nas 57 cidades com o Marconi. Tive uma visão excelente da caracteristica ostensiva do Bolsonarismo. Um envolvimento que aconteceu com os evangélicos que praticamente virou um partido político. O boslonarismo passou a ser uma religião. Eu vi nessa minha caminhada também do Lula de forma discreta mas forte. Tanto que o eleitorado do Fernando Haddad dobrou com o Lula. Foi impressionante. Em todo o lugar eu via uma estrela aqui, um comentário aqui, outro ali. Eu até fiz uma observação que  Lula estava, de forma discreta, mas presente e real. O agronegócio a gente tem pelo menos 40% das pessoas que tem uma posição discreta de observação e com muita tendência ao Lula. É uma presença muito forte.

DG: Acha que Marconi Perillo deve se posicionar neste segundo turno? 

Jalles Fontoura: Ele me falou que não queria tomar uma posição pois ele tem amigos dos dois lados. Ele ficou numa posição reservada mas não quis se posicionar. Possivelmente ele votará no Lula. O Marconi é herdeiro do Henrique Santillo. Ele tem uma história de social-democrata.

DG: Se pudesse dar um conselho a ele, qual seria?

Jalles Fontoura: Se eu pudesse, eu falaria Lula. Eu comuniquei a ele que eu iria tomar essa posição. Acho que o agronegócio por essas características sobre a democracia, o mercado, soluções para o agronegócio precisava de um posicionamento desses.  Ele compreendeu a posição.

DG: Acha que sua posição em ter ‘botado a cara a tapa’ colaborou com o aumento do movimento de produtores rurais e empresários em Goiás?

Jalles Fontoura: Talvez sim. Tem muita gente que vota no Lula. 30% a 40%. É uma posição minoritária mais é forte. Tem muita gente que vai votar no Lula mas a posição do empresário é tipicamente aquela que olha para a política com certa reserva e sem muita exposição. Essa posição pode levar alguns empresários a se sentir prejudicado. É algo histórico. O empresário brasileiro tem essa posição um tanto silenciosa. Acho estranhável alguns romperem essa posição discreta para dar uma de Luciano Hang e tornarem-se papagaios do bolsonarismo. O agronegócio precisa de paz, tranquilidade, confiança, dedicação, prioridade. Não é o que o presidente Bolsonaro está fazendo.

DG: O que vai definir a eleição? 

Jalles Fontoura: O que vai definir a eleição é o Eixo Rio-Minas-São Paulo. O Nordeste está claramente bem definido. O resto do Brasil também. Goiás apesar de ser um eleitorado pequeno, nos cabe, nesse trabalho que o agro está fazendo e outras pessoas estão fazendo, nos cabe procurar a vitória, mas sabendo que não temos facilidade. Temos uma posição de muito trabalho mas sabendo que cada voto vale. Temos de trabalhar muito para igualar o jogo em Goiás.  Temos de trabalhar no depois e ajudar na elaboração de políticas pública, o que esse governo não fez. O Lula vai fazer políticas públicas e precisamos estar preparados com estudo e pesquisa. Goiás tem características singulares. 

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Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.

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